A adrenalina voltou aos níveis normais, vou tentar escrever com distanciamento e equilíbrio. Estou espantando com a quantidade de sábios que apareceram nos programas esportivos e nas redes sociais, desde ontem, apresentando as fórmulas mágicas para derrotar o time do Barcelona. Já teve até portal na internet que cravou em manchete que "Muricy destruiu o sonho santista cultivado durante seis meses". É fácil? Deixo aqui então uma sugestão: escrevam para o José Mourinho, técnico do Real Madri (nem vou falar do Santos, que "amarelou", tem um time "fraco", foi "humilhado"), e contem para ele com detalhes os tais segredos do sucesso. E vamos aguardar o resultado do próximo Real x Barça.
A realidade é a seguinte, meus caros: sofri, perdi, chorei. Vi o pequeno Daniel também chorar e não querer ver o segundo tempo, para não sofrer mais ainda. Passei o domingo de ressaca. Foi triste e doído. Claro que eu queria conquistar a terceira estrela, desejava muito que o Santos fosse tricampeão do mundo. Mas seria um título falso, mais uma das injustiças do nosso futebol. Porque reconheço a infinita superioridade e sou cada vez mais apaixonado pelo futebol jogado pelo Barcelona. É mágico, dá gosto de ver. É, disparado, o melhor time que já vi jogar. E escrevo isso com tranquilidade, porque desde antes da partida, a quem me perguntava, eu respondia que só uma hecatombe seria capaz de fazer o Santos ganhar do Barça.
Porque a equipe da rebelde Catalunha manda às favas as regras, os esquemas, os medos, a burocracia, o "guardar posições" e simplesmente adora jogar futebol, com o coração, como se jogasse uma pelada de fundo de quintal, um futebol que o Brasil inventou e com o qual encantou o mundo, mas que deixou esquecido em algum lugar do passado, em nome da "eficiência", dos empresários, dos "proxetos" dos "profexores", dos desmandos de uma CBF que faz a seleção jogar em um pântano no Gabão apenas para dar conta de compromissos políticos e de patrocinadores, de uma emissora de TV que não se cansa de repetir que "o melhor futebol do mundo está aqui".
Não está. O Barça prova que não está. E vira as costas para o tal do "futebol de resultados", aquele que diz que "um a zero é goleada", para jogar com absoluta alegria, ímpeto, vontade, paixão, precisão, combinando arte com eficiência, escancarando ao mundo que é possível jogar bonito, no ataque, e ser campeão. Nos últimos anos, foram 13 títulos, em 16 disputados. Fantástico. Mestre Telê Santana adoraria treinar esse time. Seria justíssimo.
O Muricy errou ao escalar três zagueiros? O Santos respeitou demais o Barcelona, resvalou de certa forma num sentimento de medo? Talvez. Sinceramente, não penso que esteve em campo o "complexo de vira-lata", como escreveria Nelson Rodrigues. Os santistas simplesmente ficaram aparvalhados, atônitos diante de tanta competência, acuados com a fúria catalã, sem saber como reagir. O Santos fez no domingo o que pôde. E, ainda bem, decidiu não partir para os pontapés e a violência. Foi uma postura que fez jus a um 2011 glorioso, que merece também ser comemorado. Mas nada disso tem importância ou faria mudar o vencedor da partida de ontem. Estamos discutindo alegorias e adereços, procurando culpados (uma característica da nossa crônica esportiva que nós, torcedores, repetimos e reverberamos), quando de fato devemos valorizar e exaltar a genialidade do time adversário.
O principal? Um time que marca sob pressão, o campo inteiro, durante toda a partida (que fez os laterais santistas jogarem na bandeirinha de escanteio do campo de defesa); que privilegia a posse de bola (ninguém tira a redonda deles); que toca de pé em pé, sem errar passes ou rifar a bola (até o goleiro encontra espaços e se recusa a dar bicões); que tem jogadores que mudam de posição como se mudassem de uniforme, com habilidade e tranquilidade impressionantes (no quarto gol, Daniel Alves jogou como ponta esquerda); que, quanto mais marca gols, mais quer marcar; que tem um gênio chamado Messi e vários outros craques (a matada de bola de chaleira de Xavi no primeiro gol é impressionante) - e que sabe como usá-los (coisa que a seleção da Argentina ainda não aprendeu); que joga sempre em direção ao gol, sem firulas; e que faz de tudo isso uma filosofia de jogo, pois já nas categorias de base os jogadores são formados para dar conta desse jogo. O técnico Guardiola, em sua entrevista coletiva, depois da partida, deu a senha: nove dos onze que terminaram a final contra o Santos foram formados nos centros de treinamento da própria equipe catalã. Custo zero, "zero euros", como ressaltou Guardiola.
Hoje, qualquer time brasileiro seria goleado pelo Barça. Com facilidade. A seleção brasileira do Mano perderia para o Barça. Sem impor muita resistência. O resto é papo furado. Ontem, o Barcelona me fez acordar. E mostrou que estamos, aqui no Brasil, resignados e contentes com muito pouco. Quem dera os times brasileiros estivessem mesmo dispostos a aprender com o Barcelona. "Meus pais e avós me diziam que o Brasil jogava assim", fulminou Guardiola, também na coletiva. Certeiro. Mas minha sensação é que essa disposição para mirar o exemplo do Barça ficará só discurso, será apenas fogo de palha, mais uma vez. Infelizmente.
Tem razao. Acredito nao haver precedentes pra esse time. É fantastico. Mas times menores conseguiram minimamente jogar com o Barça. O Santos nao jogou.Foi aquem de qquer expectativa. Ao Santos faltou tudo.E me irritaram aplausos hipocritas a um time que nao foi corajoso, ou destemido, ou batalhador, ou guerreiro ou qualquer coisa.O santos foi omisso. O time foi de uma covardia atroz. Bastou ao Barça jogar trinta minutos e pronto!O DNA ofensivo dos santo era todo quebrado.
ResponderExcluirGanso disse que tiveram algumas chances e em falhas acabaram tomando os gols. Simples assim. Muriçy, arrogante como nao o conhecia, antes do jogo nao reconheceu a soberania do Guardiola por nao ter ganho um Brasileirao e depois do massacre disse que se ele armasse o time feito o adversario (sem atacantes) seria execrado.Obtuso! Esse mesmo Muricy que jamais havia testado o 352! Exceto na virada contra o SPFC no paulistinha, que me lembre...
Neymar, dos mais sobrios, admitiu ter aprendido com os caras. Neymar que nas poucas chances( e ninguem achava que elas iriam pulular)foi uma especie de Marlos.Já Ganso queria fazer-nos acreditar que aquela postura blasê era pra podermos identificar melhor o meia do time que estava arrebentando. Bruno Rodrigo, Durval ,todos muito limitados.
Faltou o Presdente colocar o Rei pra tomar o quinto em campo conforme promessa.
Venho, pessoalmente, de anos de resignaçao. Foram uma libertadores, um mundial e trtes brasileiros fartamente aclamados pelo que representam.Mas nao pela bola jogada. Passei a acreditar no jogo "por uma bola". no esquema defensivo como referencia de boa equipe. Assim vem ocorrendo com os outros tambem. E eis que esse time vem pra reacender a chama nesta cabeça dura. Mostra que jogar bola ganha jogo. Que se pratica futebol de qualidade quando se defende, se trama, quando armamos, quando atacamos.Que o fundamento do passe é a chave para um jogo coletivo!O que deveria ser obvio, nao é! O chutao, o tiro de meta, o balao, as dezenas de faltas, tudo trocado pelos pés que nao param de dialogar.Um genio, apenas um fora de serie e companheiros acima da media que, conhecem os fundamentos do jogo, tem formaçao e inteligencia diferentes da maioria e que sao, todos, ensaiados ,muito bem ensaiados por um caras que é treinador inventivo, estudioso. Tele, de quem nunca fui fã incondicional, era "tecnico". Era capaz de jogar sem centroavante, com lateral que ora é lateral, ora é meia, ora é ponta. Volante que pode ser zagueiro.Zagueiro que pode ser lateral ou volante.Mas sempre jogar, atacar, defender.
E por isso tudo, da forma que as coisas aconteceram antes, durante e depois, que acho que o Santos tem de se envergonhar do papel qhe prestou.
Chiquinho...
ResponderExcluirConcordo com o Marcello em muitas coisas. Discordo doutras. Houve muito "oba oba", é verdade. E o Muricy não teve humildade, mesmo. Acho que o Santos se desesperou com dez minutos de bola rolando e isso é sim responsabilidade do técnico.
E escrevi comentários, sempre "imparciais", sobre o tema lá nos Bolonistas: http://bit.ly/sPeYjc
Senhoras e senhores,
ResponderExcluirem primeiro lugar, uma honra postar o meu primeiro comentário neste blog sujo, do competente e especial Francisco Bicudo.
Sinto também a obrigação de declarar que não tenho perfil e tampouco prazer em chutar cachorro morto. O que me leva a dizer que não optei por inaugurar aqui os meus comentários porque sou convicto corintiano e corintiano convicto. A motivação está em pensar o futebol, para além do lugar comum. Concordo que o proselitismo futebolístico, pós fato ocorrido, é fácil e, muitas vezes, raso. O lugar comum é frequente.
Por isso, não escrevo para concordar como os comentaristas, mas para dizer que, ao lado do excelente futebol catalão, naquele domingo, existiu algo de podre no reino de Yokohama.
Pareceu-me que a diferença de futebol foi exagerada. O Santos, obviamente, joga muito mais do que jogou. Tanto o tempo de posse de bola, como o placar elástico não refletem, de maneira fidedigna, os estágios diferenciados do futebol jogado na terra brasilis e na republiqueta catalã.
Se tudo fosse tão óbvio como os comentaristas vocalizaram, então o futebol seria exato e, consequentemente, menos apaixonante do que vivemos.
Se eu comprasse a leitura da tecnicidade futebolística, diria que o meu Curintians poderia fazer um papelão parecido com o que vimos no Japão. Isto é, sem dúvida, tecnicamente falando, aquele maravilhoso futebol de pé em pé, não é para qualquer um. Sei que seria bem provável que Alessandro e Fabio Santos não pegassem na bola. Ainda, tecnicamente falando, digamos que eles não têm nível para pisar nos gramados de Yokohama. Porém, futebol está muito longe de ser o resultado lógico de uma conta qualquer.
Vejam só: o Santos de 2011 é melhor que o Estudiantes de 2009? Bem provável! O Santos de 2011 é melhor que o Inter de 2006? Bem provável! Ampliando as referências futebolísticas, e indo para um campeonato que maltrata o meu time, Boca Jr é muito superior a maioria dos times latinoamericanos? Truco! e o Tolima, que time é aquele?
Isso para dizer que futebol é técnica, é verdade. Mas também é muito mais do que isso. Não sou um defensor do futebol de resultados, mas toda essa história começou no Brasil depois de tragédia do Sarriá. Quem disse que o Santos de 2011 não poderia ter sido a Itália de 82?
Qual é curva normal? quem é superior tecnicamente ganha ou existe um conjunto de variáveis que faz o futebol não ter placar previamente definido? Não nego a diferença de futebol, não nego que o Barcelona é - tecnicamente - muito superior, mas não podemos analisar o nosso querido futebol somente por essa lente, ainda que seja plasticamente a mais bonita de todas as lentes.
Portanto, algo de podre aconteceu em Yokohama, a história do futebol está cheia de hecatombes. Mais do que isso, embora a derrota fosse o placar mais provável, continuo achando que tudo foi demasiado. O Santos joga muito mais do que jogou. Em 2009, o Estudiantes deixou a vitória escapar aos 42' do segundo tempo e o Inter, três anos antes, venceu. Ambos times também levaram um sufoco do Barcelona, mas acreditaram que a técnica era somente uma das variáveis nesta engenharia que é o futebol.
Saudações queridas e parabéns pelo Blog
Muito belo de sua parte admitir a grandiosidade do adversário. Achei que o Santos ganharia, mas conhecia as limitações do time. Ou seja, mesmo eu me surpreendi com o Barça (e olha que acompanho quando posso os jogos europeus).
ResponderExcluirAcho que faltou lidar com o emocional por parte do Santos. Eles ficaram intimidados sim com o Barcelona em um primeiro momento. E acho que, pelo menos até o segundo gol, o Santos passou sim pelo 'complexo de vira-lata'. Acordou e atpe deu jogo no segundo tempo, mas aí o Barcelona já estava seguro demais do seu futebol e conseguiu obter mais posse de bola.
Sem falar que a defesa do Barça não é tão espetacular como o meio para frente. Já vi aquele Valdés tomar uns frangos que seriam inadmissíveis em peladas. Mas acho que eles, de primeira, respeitaram mais o Santos e o estudaram bem; não deixaram os laterais criarem jogadas e furaram diversas oportunidades do time.
Ainda assim, o Barcelona deu uma lição não apenas aos santistas, mas também aos brasileiros.
Abs!
Tiago
Fiz a correção no blogue, sobre o Getafe. O Norusca deles. E, Chico, o santista tinha o direito de sonhar. Legítimo. Sonhar faz bem. Abraço, camarada!
ResponderExcluirAcho que o Santo errou ao demitir o Dorival e deixar o lado menos objetivo do Neymar imperar, mas da forma que jogou o Barça trituraria qualquer time e seleção brasileira dos ultimos 8 anos no minimo, e como disse o estadão, levou até quem nao estava torcendo para o Santos com tanta ênfase ao divã. Poucos dias depois de perder sócrates que tanto brihou em solo espanhol, na copa de 1982, quando Brasil e Argentina se enfrentaram em Barcelona. Somente Dirceu e Falcão jogavam fora. Tinhamos mais problemas e dificuldades e tinhamos mais identidade. O que assusta é que o Santos era a esperança de recuperar esta identidade, mas aí acho que a perda do Dorival trabalho com conceito, de longo prazo, foi fundamental... Mas a continuarmos nos satisfazendo com este ufanismo de subserviencia ao capital e aos paises mais ricos, perderemos nossa MPB, futebol e democracia para sempre....
ResponderExcluirGuilherme Cassia