terça-feira, 25 de agosto de 2015

PAULISTA FECHADA? PAULISTA ABERTA!

Andamos pela avenida Paulista ontem da Consolação até quase a Brigadeiro, sem medo nem pressa, apreciando as cantorias, as apresentações teatrais, as bibliotecas circulantes, os batuques e blocos de carnaval, as pedaladas dos ciclistas, as crianças que soltavam as mãos dos pais para correr livremente, tudo isso a reafirmar a importância simbólica de se construir outras relações entre a cidade e sua população, mais humanas e democráticas.
Leio nos jornalões de hoje, no entanto, as gritas e resistências à iniciativa, detonada por moradores e comerciantes da região, representados principalmente pela Associação Paulista Viva, por se tratar de "instrumento de marketing da prefeitura paulistana e por trazer prejuízos a jornaleiros, taxistas, hoteis e estacionamentos".
Críticas e contraditórios são importantíssimos e fundamentais, até para que se possa ajustar eventuais distorções. A respeito das perdas do comércio, porém, meus olhinhos me contaram uma história bem diferente. Vi bares, restaurantes e lojas cheios, muitos abarrotados, com filas que invadiam a avenida e as ruas paralelas, exatamente porque os pedestres podiam andar pelo espaço público para lá e para cá, com calma e sem restrições, a romper a distância acelerada que se impõe quando estão nos carros que por ali trafegam todos os outros dias. Sem qualquer dificuldade, rapidamente, chegamos à avenida de táxi. O trânsito nem de longe lembrava os engarrafamentos de sextas-feiras, seis da tarde. Voltamos de metrô, sem filas ou transtornos para entrar - e sentar - no trem.
Curiosamente, não me lembro de ter lido, nos jornalões de segunda-feira da semana passada, vociferações e condenações ao "fechamento inaceitável, autoritário e marqueteiro da avenida Paulista", que esteve bloqueada para os automóveis no domingo, 16 de agosto, das onze da manhã às sete da noite, por ser o palco nacional preferencial do "fora Dilma, fora Lula, fora PT" e de faixas e discursos que elogiavam a tortura e pediam a volta da ditadura militar. Mas a Paulista estava fechada também, de ponta a ponta... Naquele domingo, podia. Era legal.
Um salve para nossa indignação seletiva de todos e de cada dia.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

SER PAI DA LUIZA E DO DANIEL

Bom dia. Deita aqui comigo. Só um pouquinho. Me cobre? Estou tremendo. Preciso mesmo ir para a escola? Claro. E como foi o jogo? Ganhamos. Quanto? Três a zero. Vamos no próximo? Combinado. Tenho prova hoje. De quê? Matemática. Estou nervosa. Vai na boa. Você estudou. Tudo certo. Fui bem. Almoça com a gente hoje? Tem um livro novo que eu quero. Eu preciso. É vida. Quando podemos ir à livraria? Você já fez o cheque da perua? Podem parar de brigar! Chega! Não dá. Cada um cuidando da sua vida. Posso ver Bate Bola? Posso ver A culpa é das estrelas? Faz tempo que a gente não vai ao cinema. Faz tempo que a gente não sai só a gente. Como foi a aula hoje? Aprendi sobre neurônios e sinapses. Vimos um documentário sobre obesidade infantil. E a Dilma? E o Amarildo? E a Palestina? Por que existe gente racista? E a homofobia? Que grande droga. Você me prometeu ler o livro da Malala. Está com febre. Que tosse é essa? Vai no meu jogo? Posso ir na casa da Marina? Estou com saudade. Também. Vamos viajar no final do ano? Montevidéu! Santiago! Sem gritaria. Calma. O que é orgia? É... Não é meu namorado! Que droga, já falei mil vezes! Fica em casa hoje. Não vai dar aula. Por favor. Prometo dar um beijo em você quando chegar, bem de noitão. Fez a lição? Atenção e capricho. Que carinha tristonha é essa? Vai, fala. Te conheço. Posso ajudar? Está tudo bem. Tomou banho? Escovou os dentes? Pijama quentinho? Está bem frio. Deixa de ser chato! Não atormenta! Que saco. Nossa, fraca essa piada, hein? É para rir? Coisa de velho! Vou adivinhar o que você ficou fazendo... lendo e preparando aulas! Vamos ouvindo Legião? Vem brincar com a gente. Agora, vai. Vem logo. Larga esse celular. Atenção. Cuide-se. Juízo. Dá um abraço. Te amo. Estou com sono. Durma bem. Boa noite.