quarta-feira, 27 de julho de 2011

PRESIDENTA, QUE TAL APROVEITAR A ONDA E DEMITIR O JOBIM?

É uma questão de coerência política - se você não concorda com determinado projeto político, se tem ligações históricas umbilicais com outras visões ideológicas, se pensa com convicção que outros partidos poderiam fazer mais e melhor que aquele que está no poder e se manifesta divergências profundas e insuperáveis com propostas que são gestadas, idealizadas e patrocinadas por determinado governo, obviamente você não deve fazer parte deste governo. Deveria agir com lisura ética, hombridade e dignidade e buscar abrigo nas forças de oposição, ajudando a gestar ideias e iniciativas alternativas, instrumento aliás construtivo e fundamental para o fortalecimento da democracia. 

Pois, surpresa, não é assim que acontece com o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, que apesar de ocupar um dos cargos mais importantes da República, não se cansa de manifestar publicamente, sempre que mínima brecha se abre, suas insatisfações e discordâncias com os rumos dos governos Lula e Dilma Rousseff, dos quais fez e faz parte, invariavelmente indicando seu apreço incontido pela "Era FHC" e agindo, no interior das gestões comandadas pelo PT, para minar e implodir ações administrativas e políticas importantes. Jobim atua no governo como legítimo representante da oposição. É como se fosse escalado pelo técnico como homem de confiança do time, mas aproveitasse o privilégio para marcar gols (no plural mesmo) contra - e ainda cometesse o disparate de comemorar efusivamente tais feitos. Consagra, assim, a máxima do "dormindo com o inimigo". 

A mais recente manifestação de um Jobim que é mais aliado da oposição que representante do governo deu-se na Folha de São Paulo de hoje, quarta-feira, 27 de julho, quando ao ser entrevistado pelo jornalista Fernando Rodrigues, o Ministro da Defesa não teve pudores em afirmar: "Eu votei no Serra em 2010". Ah, sim...  e está fazendo o que então no governo que não é o do PSDB, ministro? A "resposta" está na entrevista: "Na avaliação dele, se o tucano José Serra tivesse derrotado a petista Dilma Rousseff, o governo "seria a mesma coisa" no manejo das recentes crises políticas, como a do combate à corrupção no Ministério dos Transportes". Puxa, "argumento" mais que suficiente e sustentável para "justificar" o fato de Jobim jogar com duas camisas, não é mesmo? Fiquei comovido.

Aliás, fica quase perdido na matéria da Folha um outro gol contra anunciado por Jobim. Historicamente, o Ministro sempre foi favorável à manutenção de sigilo eterno para documentos produzidos pelo Estado brasileiro e classificados como "ultrassecretos". Noticiou-se recentemente que teria recuado e passado a apoiar a mudança aprovada pela Câmara dos Deputados e que será em breve avaliada pelo Senado, que limita a 50 anos, no máximo, o não acesso a tais documentos. Mais uma vez sem constrangimentos, diz Jobim à Folha: "Vamos ser práticos. Daqui a 50 anos, se algum governo achar que tem algum documento [que não deve ser aberto], poderá alterar a lei." Ou seja, é só para inglês ver, tudo não passa de jogo de cena, de brincadeirinha, vamos enrolar e enganar a opinião pública... E ele, ministro de Estado, admite tudo isso publicamente!  

Em junho, em uma das tantas comemorações que marcaram os 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Nelson Jobim já havia subido o tom das críticas e, para espanto e susto até dos amigos tucanos, como revela matéria do jornalista Leandro Fortes publicada pela revista Carta Capital, chegou a anunciar que estava no cargo, exclusivamente, por vontade de FHC, afirmando que "nunca o presidente (FHC) levantou a voz para ninguém. Nunca criou tensionamento entre aqueles que te assessoravam”.  De acordo com a matéria, não economizou elogios ao ex-presidente. "E foi além, ao insinuar que os governos Lula e Dilma demoliram o que ele chamou de “processo político de tolerância, compreensão e criação”, supostamente construído nos tempos do tucanato. “Precisamos ter presente, Fernando, que os tempos mudaram”, falou a FHC". O arremate final, segundo o texto de Leandro Fortes, teria sido "quase um pedido público de demissão, uma citação do dramaturgo Nelson Rodrigues. “Ele dizia que, no seu tempo, os idiotas chegavam devagar e ficavam quietos. O que se percebe hoje, Fernando, é que os idiotas perderam a modéstia”, afirmou. “E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento”. Mais explícito, impossível", termina a matéria. Só para não perder a oportunidade: a que governo mesmo você pertence, Ministro Jobim? 

Por fim, também para não perder o bonde, Nelson Jobim é aquele mesmo que, no final de 2009, bombardeou duramente o Plano Nacional de Direitos Humanos, terceira versão, recusando também a criação e instalação da Comissão da Verdade, destinada a apurar,  levantar informações, investigar, publicizar e responsabilizar autores de crimes cometidos durante a ditadura militar (1964-1985). Diante da truculência de Jobim, que bateu forte na mesa e chegou a ameaçar pedir demissão, o governo Lula recuou, o PNDH3 foi desfigurado e a Comissão não foi instalada até hoje.

"Nelson Jobim tem a função de representar as demandas dos militares. Mas tem também outro papel, que tem relação não só com as questões da ditadura, mas está ligado diretamente a debates contemporâneos, como a Força Nacional, a intervenção das Forças Armadas no Rio de Janeiro. São questões que dizem respeito à segurança pública, a toda uma política militarizada que se concretizou no pós-ditadura, e que trata a pobreza como criminosa. É a tolerância zero, importada dos Estados Unidos, onde você mantém a população monitorada e criminaliza qualquer pequeno delito. É o que está acontecendo no Rio de Janeiro. O Nelson Jobim apoia esse tipo de ação e é uma figura importante do governo", avalia a historiadora Cecília Coimbra, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e presidente do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, em entrevista publicada por este Blog em janeiro passado.

Pois chegamos então a um ponto crucial da análise: qual a origem do poder de Jobim? Pois se o jabuti está belo e formoso no topo da árvore é porque alguém o colocou lá. Nelson Jobim foi inicialmente escalado para o Ministério pelo ex-presidente Lula e permaneceu no governo Dilma, ao que se sabe, como alguém que faz parte da cota pessoal do ex-presidente. Por quê? Melhor perguntar a Lula. Talvez ele tenha a resposta. 

Mas a presidenta Dilma bem que poderia aproveitar as mudanças que estão sendo promovidas na Esplanada dos Ministérios para demitir também Nelson Jobim. Já passou da hora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário