quarta-feira, 20 de julho de 2011

O FUTURO DE MANO PASSA PELOS GIGANTES DA BOLA

Antes da Copa América disputada na Argentina, nas mesas-redondas futebolísticas de boteco, divagava com amigos-torcedores-comentaristas e defendia que a convocação do técnico Mano Menezes era merecedora de elogios - ou, no mínimo, não abria brechas para críticas contundentes. Vá lá, claro, era possível discordar pontualmente, recusar uma ou outra escolha, às vezes até mesmo escorregando em simpatias pessoais (e não exatamente em critérios técnicos). Mas não houve grita coletiva por algum jogador esquecido ou injustiçado, como ocorrera na Copa do Mundo de 2010, com Paulo Henrique Ganso e Neymar. Os melhores (se futebol é momento), me parece, tinham sido chamados.

O fracasso (não é todo dia que se perde para o Paraguai desperdiçando quatro pênaltis) na competição sul-americana nos coloca assim diante de uma encruzilhada futebolística, daquelas capazes de mobilizar tantas outras mesas-redondas: ou a safra de jogadores é ruim ou o treinador não está sabendo agir para transformar um grupo de bons boleiros em uma equipe coesa, competitiva e vencedora. De pronto: fecho com a segunda hipótese. E, num exercício assumidamente de livre imaginação - não tenho fontes secretas e me recuso a trabalhar com grampos ilegais, como fazem os capangas do gângster australiano Rupert Murdoch -, penso que o destino de Mano à frente da seleção brasileira de futebol será selado neste segundo semestre, quando o Brasil enfrentará gigantes do futebol mundial: Alemanha (agosto), Argentina (dois confrontos, em setembro), Espanha (outubro, quando o Brasil também jogará contra o México) e Itália (novembro). 

Não há como negar que a Copa América representava momento importante da preparação da seleção para o Mundial de 2014. Mas nunca esteve perto de significar ponto de inflexão, marco decisivo e com condições e peso para definir a demissão de Mano em caso de fracasso - atenção, também já defendia esse ponto de vista antes do torneio. Trata-se afinal de disputa regional, pouco valorizada ou abraçada pela torcida, disputada junto com o Campeonato Brasileiro, e que neste ano alcançou nível técnico especialmente abaixo da crítica (a exceção que confirma a regra fica por conta do embate entre Argentina e Uruguai nas quartas). E, cá entre nós, a eliminação dos hermanos nas quartas-de-final, antes do Brasil, aliviou ainda mais a barra e a pressão e facilitou o trabalho da CBF, ajudando a sustentar o discurso do grão-duque que diz que "continuamos bancando e prestigiando Mano". 

O que assusta e preocupa é que, com bom material humano em mãos e tempo para trabalhar, diante de rivais mais fracos, Mano não conseguiu construir um time, idealizar um jeito de jogar para a seleção. A defesa mostrou inconsistências e fragilidades em momentos cruciais. Os dois volantes oscilaram muito (é verdade que Ramires fez uma boa partida contra o Paraguai). Pato não pode jogar enfiado entre os zagueiros, de costas para o gol. O time teve dificuldades para sair de marcação sob pressão e, nestes momentos, recorreu a chutões. Isolado, sem outro companheiro a auxiliá-lo na armação das jogadas, sem alguém que ao menos chamasse a atenção dos adversários, PH Ganso tornou-se presa mais fácil para os marcadores. Gostaria muito de ter visto o craque do Santos ao lado de Lucas, do São Paulo, outro talento indiscutível. Neymar? Ficou preso na ponta esquerda, parecia tímido, acuado, pouco arriscando os dribles e arrancadas intempestivas e criativas, suas marcas registradas.

Diga-se também sobre a dupla santista que, no clube, são astros decisivos não apenas pelos talentos inquestionáveis e já mais que provados, mas também porque o esquema de jogo foi em grande medida pensado e idealizado em função deles, para maximizar os recursos técnicos de que dispõem. Não foi assim na seleção. Foram cobrados por expectativas que ainda não podem atender. Perfeito, não adianta agir como avestruz e esconder a cabeça - Ganso e Neymar renderam menos do que podem e são capazes; ainda assim, é importante lembrar que boa parte das jogadas mais lúcidas e agudas nasceu dos pés da dupla santista. 

E muito cuidado - que esse raciocínio por favor não sirva de "argumento" para ressuscitar o dunguismo e reabilitar a cartilha (já verbalizada pelo auxiliar-apóstolo Jorginho a veículos de comunicação) que reza que "a comissão técnica agiu corretamente ao não convocar os dois jovens talentos para a Copa da África do Sul, que o tempo deu razão a essa escolha". Mantenho a convicção de sempre - Ganso e Neymar deveriam ter feito parte do grupo que disputou o último Mundial, ainda que como reservas. A dar crédito a alguns corneteiros de plantão, que nadam conforme as correntezas, os dois craques são agora "uma farsa, enganadores". Quanta insensatez. Tremenda bobagem. Até porque, se Ganso e Neymar tivessem vivido a experiência (e as cobranças) de uma Copa do Mundo, estariam hoje em outro patamar de maturidade. De certa forma, teriam passado por um ritual de provação, de transição. Mais um adendo: também não faço parte dos "anti-Dunga Futebol Clube".... Pois é, até mesmo o futebol não é tão isso ou aquilo, também marcado por nuances e sutilezas, não?

Perdemos enfim um tempo precioso - ainda mais se lembrarmos que não teremos desta feita as Eliminatórias para treinar a equipe. Ainda assim, como já disse, Mano poderá continuar seu trabalho. Mas o tempo urge. O sinal amarelo se acendeu. Minha tese: o futuro do técnico da seleção será jogado neste segundo semestre, diante de seleções que reúnem dez títulos mundiais: os hermanos argentinos (duas Copas), os disciplinados alemães (três títulos), os eficientes italianos (tetracampeões) e os técnicos espanhóis, últimos a levantar o caneco. É aí que o bicho vai pegar.

Se conseguir jogar bem - e vencer, importante -, Mano se cacifa para o Mundial de 2014. Se conhecer novos tropeços, a pressão será insuportável. Vão exigir sangue - a torcida, a imprensa, os patrocinadores, a TV Globo... Poderá se calcificar no imaginário popular a fotografia de uma seleção fraca, vulnerável, sem comando, um Brasil incapaz de bater grandes seleções. Cabeças terão de ser entregues. A de Mano tende a ser a primeira. A cúpula da CBF avaliará que o limite foi atingido. Buscará mudanças, ainda com pelo menos dois anos de fôlego e margem de manobra para que o novo treinador da Seleção possa montar uma equipe com condições de conquistar a taça pela sexta vez - a primeira em território nacional.

Para terminar, outro assumido exercício de imaginação - sem Mano, acho que a CBF bateria na porta de Felipão. Muricy? O melhor do país, atualmente. Mas refugou uma vez. E o grão-duque é daquelas personalidades rancorosas, que guarda mágoas, não aceita ser contrariado. Mais: às vésperas da disputa do Mundial de Clubes com o Santos, a tendência seria o atual treinador santista dizer outro "não", certo? O dono do futebol brasileiro morreria de cólera. Não arriscaria. Felipão seria a vertente mais segura, não aventureira, já testada e aprovada. Resta saber se ele aceitaria. Em 2002, em condições semelhantes, disse "sim" - tinha nada a perder, e um mundo a conquistar. Em 2012, correria o risco de ver desconstruída sua imagem de técnico vencedor.

Como disse, só estou pensando alto.

2 comentários:

  1. Chico, tu escreves bem pacas. Mas... sobre o tema... "caguei".

    Ah... sim... a seleção do Brasil no futebol de botão lá de casa é treinada pelo Joel Santana.

    Abração. E tô com saudade.

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  2. Chiquilito, pode me xingar. Mas, não tô nem aí se a seleção brasileira joga bem ou mal. Se o Mano sair ou ficar, tanto faz. Para mim, seleção brasileira já era. Larguei-a em 2006. Foi demais para mim ver o Gaúcho na balada, se esbaldando, horas após a derrota para a França que me fez chorar pela seleção pela última vez. Torço, acompanho, quero que ganhe. Mas, se perder, como em 2010, levanto e vou trabalhar, como fiz após a derrota para a Holanda. Meu time e minha seleção se chama Santos Futebol Clube. E, exatamente por causa do Santos que a eliminação precoce na Copa América me trouxe alívio: teremos de volta nossos craques Neymar, Ganso e Elano, que Mano Menezes não soube aproveitar. Nas mãos sábias do Muriçoca, eles vão calar a boca dos "sábios" corneteiros que andam por aí dizendo que "Neymar e Ganso não passam de jogadores promissores". Que venha o Mundial do Japão para mostrar o quão grandes são esses dois.

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