As eleições municipais serão tema recorrente neste Blog. Para começar a aquecer o debate político, vale a pena dedicar algumas linhas de reflexão à pesquisa divulgada neste sábado, 21 de julho, pelo Instituto Datafolha, que traz as intenções de voto para a Prefeitura de São Paulo.
De acordo com o levantamento, que ouviu 1.075 pessoas nos dias 19 e 20 de julho, José Serra (PSDB) lidera a disputa com 30%, tendo oscilado negativamente um ponto percentual em relação ao cenário anterior (dados de 25 e 26 de junho). É seguido bem de perto pelo candidato do PRB, Celso Russomano, que subiu dois pontos - de 24% para 26%, embolando a corrida pela liderança e configurando uma situação de empate técnico, já que a margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais, para mais ou para menos. Os demais candidatos estão bem distantes: Fernando Haddad (PT) vai de 6% para 7%, exatamente o mesmo movimento feito por Soninha Francine (PPS). Gabriel Chalita (PMDB) mantém os 6%, e Paulinho da Força cresce de 3% para 5%. Carlos Giannazi (PSOL) repete o 1%.
Os quartéis-generais das campanhas tucana e petista muito provavelmente tiveram acesso a esses números já na noite de sexta-feira. E, aposto, José Serra e Fernando Haddad, que agem desde sempre para forçar a polarização da disputa, foram dormir deveras preocupados e passaram o final de semana com um gosto amargo na boca, embora continuem aparecendo para o público com o discurso do "tudo vai bem, mantemos o otimismo cauteloso" - nem poderia ser diferente.
Mesmo sendo inegavelmente figura pública de envergadura nacional, ex-prefeito da principal cidade do país e ex-governador do estado mais rico, além de candidato a presidente em 2010, quando alcançou inclusive o segundo turno, José Serra patina na faixa dos 30% desde que seu nome passou a ser incluído nos levantamentos. Parece objetivamente ter atingido seu teto eleitoral. E aquele que era anunciado como imbatível, para quem a eleição paulistana eram favas contadas, pode não apenas não ser o vencedor - começa também a correr risco de ficar de fora de um eventual segundo turno na capital paulista. Imagino que, nos bastidores, sem deixar vazar para o público, o cenário possível (e terrível) já esteja sendo considerado pelos marqueteiros e coordenadores da campanha tucana, todos arrepiados e com cabelos em pé.
Certamente as lideranças do PSDB avaliam ainda outros números significativos da mais recente pesquisa Datafolha. Serra já é conhecido por 99% do eleitorado - ou seja, praticamente o grau absoluto (e, destes, 78% afirmam que o conhecem "muito bem"). Não tem mais para quem "ser apresentado". A taxa de rejeição do tucano, mais uma variável fundamental, chega a 37% (era de 35% em junho), a maior desde o início da série de pesquisas. A história é bastante perspicaz em mostrar que, com essa imagem negativa estratosférica, dificilmente um candidato consegue sair vitorioso. O exemplo mais recente, no universo paulistano, é o da ex-prefeita Marta Suplicy. Para fechar o calvário serrista, o tucano alcança modestíssimos 9% na pesquisa espontânea, quando não são mostrados para o eleitor os nomes dos candidatos. Em junho, Serra tinha 13% na espontânea - em um mês, perdeu quatro pontos percentuais. O índice atual dele é ligeiramente superior ao de Russomano, que chega a 7% nesse cenário.
As pedras no caminho do PSDB estariam sendo efusivamente comemoradas no comitê petista, caso os estrategistas da campanha de Haddad não precisassem se preocupar com as próprias fraquezas. O fato que me parece incontestável é que, até aqui, a candidatura de Haddad não emplacou. E decepciona. Mesmo depois da entrada mais firme de Lula na campanha, da convenção partidária, das aparições em programetes gratuitos de TV em junho, das participações em programas populares como o do "Ratinho" (com Lula a tiracolo), das incursões pelas periferias da cidade e do apoio de Paulo Maluf, Haddad escorrega nos 7% de votos. É verdade, tem índice baixo de rejeição (12%) e, entre os favoritos, é o menos conhecido (55% sabem quem ele é). Há espaço para crescimento. Mas, para efeito de comparação, e guardadas as singularidades e contextos, vale lembrar que Dilma Rousseff, que também tinha sido ministra de Estado e foi alçada à condição de candidata a presidente por vontade de Lula, atingia, na pesquisa Datafolha de 23 de julho de 2010 (antes, portanto, do início do horário eleitoral gratuito), 36% das intenções de voto, contra 37% de Serra. Marina Silva tinha 10%. Bem diferente, me parece.
Sobre Celso Russomano, cumpre destacar que a trajetória dele nas pesquisas é ascendente: 16% em dezembro do ano passado, 17% em janeiro, 19% em março, 21% em meados de junho, 24% no final de junho, para finalmente alcançar 26% na pesquisa mais recente. Há certamente uma parcela dessas intenções que se manifesta por conta do "recall", da lembrança próxima, da visibilidade do postulante. Russomano foi candidato a governador de São Paulo em 2010. Até o final de junho, apresentava o quadro "Patrulha do Consumidor", na TV Record, com audiência bastante razoável e cativa. Mas já faz quase um mês que não participa mais do tal programa, por conta da legislação eleitoral. Ainda assim, subiu. Eu colocaria à mesa também para reflexão portanto o fato de São Paulo ser uma cidade historicamente conservadora, mas já não mais suportar José Serra (quase 40% de rejeição), fortemente identificado com o prefeito Gilberto Kassab (PSD), que é por sua vez pessimamente avaliado pela população (nota 4,4, de acordo com o Datafolha, numa escala de zero a dez). Assim, minha hipótese é que uma parte desses votos conservadores estaria escorregando para a candidatura Russomano, o "fato novo" a ser sustentado. Já não seriam votos tão voláteis assim.
Os staffs das duas campanhas (Serra e Haddad) vão recorrer a partir de agora a todos os chavões, a justificar os cenários angustiantes: "é a fotografia do momento, a pesquisa que vale é a das urnas, o jogo ainda não começou, o paulistano só vai se preocupar com a eleição depois da Olimpíada, Lula e Dilma serão decisivos, Alckmin será fator diferencial, quem vai resolver mesmo será o horário eleitoral gratuito...". Reconheço que estamos falando de algo provisório, de conjunturas suscetíveis a mudanças e flutuações, mais ou menos profundas. Mas o fato concreto é que o ponto de partida para os candidatos tucano e petista para a reta final da campanha, por razões distintas, é muito ruim.
Talvez esteja aqui a grande novidade sugerida pela pesquisa Datafolha: pode não acontecer a tão sonhada "mãe de todas as batalhas", anunciada com entusiasmo e cantada em verso e prosa por representativa parcela do exército lulo-petista, ansioso por fincar a bandeira com a estrela na capital paulista, que é considerada um dos últimos bastiões (o outro seria o estado de São Paulo) da oposição no país.
Vários cenários. Nenhum que Serra não vá ao 2º turno. Não voto no candidato. Mas a instrumentalização de eleições majoritárias sustenta situações da pesquisa onde Russomano consegue um nível ameaçador. Sem partidos fortes, sem uma experiência arrebatadora, está mais para obrigar Serra e Haddad a trocar de estratégias. Até o vidente enxergaria a situação. Não é patinação ainda porque não chegamos ao momento da patinação. Está mais para tréguas. Os exemplos de Marta e outros não se aplicam à ocasião atual.
ResponderExcluirSerá uma eleição por exclusão... Excluímos aqueles em quem desacreditamos - por já terem estado no comando e tão pouco terem feito; aqueles em quem deixamos de acreditar por escolhas ou alianças duvidosas... E o que nos resta? Preocupante...
ResponderExcluirVivian