terça-feira, 1 de março de 2011

254 HOMOSSEXUAIS ASSASSINADOS NO BRASIL EM 2010. TRISTE RECORDE. (PARTE II)

Na segunda parte da entrevista exclusiva para o blog, o antropólogo Luiz Mott analisa os preconceitos muitas vezes difundidos por religiões, fala sobre redes sociais e estímulo à homofobia e critica a dimensão de espetáculo das paradas de orgulho gay. "A homossexualidade foi para mim uma graça, uma bênção. Tornei-me um ser humano mais completo".

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Religiões e homofobia
"Há vários trechos das sagradas escrituras que têm conotações altamente racistas, machistas e homofóbicas. São entulhos de uma época onde patriarcado, intolerâncias e preconceitos contra homossexuais eram tidos como legítimos e eticamente justificados. Mas, assim como a tortura e as mutilações sexuais foram abolidas, ensinamentos homofóbicos devem ser depurados e rechaçados, seguindo aliás exemplo do próprio Jesus Cristo, que nunca discriminou qualquer segmento ou ser humano. O "amai-vos uns aos outros" não excluía a paixão de uma pessoa por outra do mesmo sexo".


Preconceitos nas redes sociais
"Com o surgimento da internet, a homofobia também passou a ser divulgada de forma universal e muito mais nítida. Várias vezes internautas já agrediram com palavras e propagaram violência de uma forma absolutamente inaceitável, ensinando como matar homossexuais, sugerindo queimar a sede do Grupo Gay da Bahia, me acusando de pedofilia. É fundamental que mecanismos eficientes e rápidos, não de censura, mas de análise, fiscalização e restrição desse tipo de discurso e prática sejam estabelecidos e colocados em vigor. Porque essa prática atenta contra o Código Penal e contra os direitos e garantias individuais dos cidadãos".


Paradas do orgulho gay e espetáculo
"Desde as primeiras paradas de São Paulo, que começaram a arregimentar cada vez mais gente, até chegar a verdadeiras multidões, aplaudi aquilo que a Sociologia vai chamar de momentos de visibilidade. Nossos inimigos homofóbicos têm de saber que somos milhões e que estamos organizados, por toda parte. Houve quem já chamasse a atenção, naquele momento, para um aspecto que até poderia ser negativo para a nossa luta, o fato de as paradas, pelos seus aspectos carnavalescos e dionisíacos, poderem amplificar o nível de preconceito daqueles que consideram que os gays são fúteis, são descarados, querem fazer depravação sexual em público. Mas agora no carnaval, por exemplo, a gente vê aquele moça negra dançando nua na Globo e isso não escandaliza ninguém. Por que se escandalizar então com um travesti que exibe seu corpo? Agora, o aspecto político, penso, deve sempre nortear as paradas. Participei em Bogotá, no ano passado, de uma parada gay que devia ter no máximo dois mil manifestantes. Mas havia outras 40, 50 mil pessoas nas ruas, nas calçadas e nas avenidas principais da cidade que estavam aplaudindo, observando, dialogando, recebendo panfletos. Esse é o espírito. Preferia que fosse sempre uma coisa assim. O que acontece é que muitas vezes pouco se pode usar o microfone dos carros alegóricos para proferir mensagens políticas, não há cartazes, baners, folhetos distribuídos com mensagens políticas, não se manifesta essa interlocução com a sociedade, fundamental para quebrar preconceitos. Espero que essas paradas cresçam em sua politização. É preciso aproveitar as multidões para realizar um discurso político mais intenso e evidente".


Homossexualidade, uma bênção
"Sou decano do movimento homossexual brasileiro, com mais de trinta anos de lutas contra a homofobia, e depois de ter sido criado numa família burguesa, conservadora, católica e paulistana, me casei, tenho duas filhas que me amam e compreendem minha dedicação à causa dos direitos humanos. E, apesar de ter sofrido muito com ameaças e até mesmo com agressões físicas, por conta da defesa das minorias, não me arrependo em nenhum momento por ter feito essa opção de defesa da cidadania LGBT. Para mim, a homossexualidade tem sido uma graça, uma bênção, tornei-me um ser humano mais completo. E espero estar vivo para ver todos os direitos dos homossexuais equiparados aos direitos dos demais cidadãos".


Clique aqui para ler a primeira parte da entrevista com Luiz Mott.

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