Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo e atualmente no Democratas (DEM), é raposa política esperta. Hábil e discreto, não dá ponto sem nó. Já percebeu que o barco dos demos está fazendo água e que o naufrágio do partido é inevitável, questão apenas de tempo. Os números são implacáveis: no Senado federal, a bancada democrata despencou de 14 representantes para os atuais seis sobreviventes; o DEM conseguiu emplacar apenas 43 deputados federais nas eleições do ano passado (foram 65 em 2006, 84 em 2002). A agonia do zumbi político é pública.
Kassab compreendeu também que a briga intestina entre tucanos paulistas e mineiros, entre aqueles que têm plumagens "intelectuais ou caipiras" não pode conduzir a porto seguro algum - ao contrário, tende a enfraquecer ainda mais a já esquálida oposição, completamente sem rumo ou visão estratégica e incapaz de vislumbrar qualquer mínimo projeto articulado ou mesmo ação pontual alternativa ou de resistência ao governo Dilma. Os demo-tucanos estão perdidinhos.
Mas Kassab sabe para aonde correr. Tem óbvias pretensões eleitorais e políticas. O desejo primeiro é ser candidato a governador de São Paulo, em 2014. Se aparecer oferta mais tentadora? Negociações estarão sempre abertas. Assim é a política, não? Quantas surpresas! O fato é que o prefeito paulistano não deseja nem de longe permanecer inerte e esperar imóvel e calado até que seja puxado para o fundo do mar junto com o titanic das oposições.
Pragmático, Kassab assumiu entusiasticamente a operação desembarque imediato e deve em breve dar adeus aos que insistem em continuar tocando os violinos moribundos do DEM. Para não ser flagrado pela Lei Eleitoral e tentar escapar da perda de mandato, optou por fundar novo partido - o Partido da Democracia Brasileira (PDB). A agremiação deve receber logo de cara dissidentes outros do próprio DEM (o mais ilustre seria o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos), além de políticos de diferentes estirpes e linhagens (prefeitos, deputados federais e estaduais, vereadores e até mesmo governadores do PMDB, PTB, PR e PP).
O movimento seguinte, observado um curto período de resguardo, seria uma fusão com o PSB. Assim, Kassab passaria a integrar a base de apoio do governo da presidenta Dilma Rousseff, sem necessariamente precisar romper com seu padrinho político, José Serra. Nem lá nem cá, abraçaria gregos e troianos. Manobra inteligente. Ao mesmo tempo, representaria alternativa à polaridade PT-PSDB, marca da política nacional desde 1994, e ameaçaria a posição de fiel da balança e de fiador de todos os governos, ocupada desde a redemocratização pelo PMDB. Graças ao casamento com os socialistas, tomaria ainda um "banho de esquerda" e assumiria um verniz mais "progressista", além de lançar raízes no Nordeste, região que representa atualmente o sonho de consumo para dez em cada dez políticos brasileiros. Estariam dadas as condições para Kassab reunir o rótulo de uma das noivas mais cobiçadas das eleições de 2014.
Aqui, adoto prudência e tomo canja de galinha (que não faz mal a ninguém): não me arrisco a elocubrar e a cravar qual será o cargo a ser disputado em 2014. Sim, a vontade é o governo de São Paulo, como já escrevi, mas a política por aqui é sempre muito dinâmica e flexível, suscetível a surpresas, e nas negociações e acertos de bastidores pode ser que apareça uma candidatura ao Senado, uma vaga de vice-presidente, quiçá até mesmo a promessa de um ministério importante e poderoso. Quem sabe... o prefeito é jovem. Imaginar hoje o que acontecerá nas eleições de 2014 é puro exercício de futurismo. O fato inegável é que, no PDB-PSB, Kassab será personagem fortíssimo a influenciar o processo eleitoral vindouro. Não serão poucos os que pedirão conselhos e bênçãos ao atual prefeito paulistano.
O fato a lamentar é que o canto da sereia começa a seduzir partidos historicamente ligados à esquerda. É triste, mas o PC do B engoliu a isca e acha agora que "Kassab é um político que age com determinação e que ninguém pode dispensá-lo", como escreveu Walter Sorrentino, dirigente do partido. Triste capitulação, repito. Repugnante, para ser mais exato. Será que promessas de cargos e a perspectiva de comandar a Copa do Mundo em São Paulo estariam relacionadas a essa nova postura dos "comunistas", que abraçam o aliado "neo-esquerdista"?
Rendição. Oportunismo. Princípios e valores abandonados. Ideologia jogada na lata do lixo. Aliança inaceitável, sob qualquer aspecto a ser considerado. Kassab, lá ou cá, continua sendo o prefeito das elites brancas, da exclusão e higienização social, das perseguições às minorias, da repressão às mobilizações populares, da truculência, da educação sucateada, da saúde privatizada, do ônibus a três reais, das enchentes e do descaso com o planejamento urbano, das grandes obras viárias em bairros nobres, em detrimento da periferia, da direita reacionária. Kassab continua sendo cria política de José Serra. Isso diz muito.
Espero que o PT não coloque também o pé nessa barca furada. Infelizmente, devo reconhecer que essa é uma torcida. Não uma convicção.
O PSB provavelmente receberá uma "revoada" de emplumados de longo bico e outros "demo-camaradas". A tendência eleitoral hoje é ter um verniz esquerdista, afinal de contas! Não nos enganemos com a pseudo-renovação desse povo.
ResponderExcluirE hoje está comprovado - se é que precisava de mais comprovação.
ResponderExcluir