sexta-feira, 15 de abril de 2011

DESCONSTRUINDO CINCO MITOS SOBRE O FUTURO DO JORNALISMO

(*) Texto originalmente publicado pelo "Observatório da Imprensa" (www.observatoriodaimprensa.com.br), em 14/4/2011. Reprodução autorizada. 
Em artigo no Washington Post [7/4/11], o jornalista Tom Rosenstiel, diretor do Projeto para Excelência em Jornalismo, do Pew Research Center, analisou cinco mitos sobre o futuro do jornalismo. "Há poucas coisas que os jornalistas gostam de debater mais do que eles próprios e as perspectivas para sua indústria", diz. "Por quanto tempo os jornais impressos vão sobreviver? Os sites agregadores de notícias são o futuro? Ou seria a cobrança por acesso online o caminho a se seguir?" são algumas das principais perguntas quando se fala em futuro do jornalismo.

Vamos aos mitos:

* Os veículos tradicionais estão perdendo seu público
Acreditava-se que a ascensão da internet e das publicações online significaria a perda dos leitores e telespectadores dos veículos de mídia tradicionais. Sim, a migração aconteceu. Em 2010, segundo uma pesquisa do Pew Research Center, a internet ultrapassou pela primeira vez os jornais como meio onde os americanos buscam suas notícias regularmente – 46% dos entrevistados disseram que buscam notícias online pelo menos três vezes por semana, e 40% disseram ler jornais com a mesma frequência.
Mas...
Os consumidores de notícias online buscam suas informações, na grande maioria, em sites de fontes tradicionais. Dos 25 sites de notícias mais populares nos EUA, 23 são páginas de veículos tradicionais como jornais e emissoras de TV – New York Times e CNN, por exemplo – ou agregadores de notícias de veículos tradicionais, como Google News ou Yahoo. Dos cerca de 200 sites de notícias com maior tráfego, 81% fazem parte da mídia tradicional ou dos agregadores de suas notícias.

* O jornalismo online ficará bem com o aumento da receita publicitária
Em 2010, a publicidade na internet nos EUA ultrapassou pela primeira vez a publicidade impressa, chegando a US$ 26 bilhões. Mas apenas uma pequena fração deste dinheiro foi para as organizações de notícias. A grande parte foi para ferramentas de busca – em especial, o Google.
Segundo Rosenstiel, a indústria de jornais ilustra bem o problema: enquanto metade do público migrou para os jornais online, a indústria impressa teve, no ano passado, receita publicitária de US$ 22.8 bilhões, e a receita gerada pelos jornais online foi de US$ 3 bilhões. "Em décadas passadas, o jornalismo teve sucesso porque as notícias eram a principal forma da indústria alcançar seus consumidores. No novo cenário midiático, há muitas outras maneiras de atingir seu público, e as notícias representam apenas uma pequena parcela", diz.

* O conteúdo sempre irá reinar
No século 20, a lógica era simples: produza o jornalismo (ou o conteúdo) que o público quer, e você terá sucesso. No século 21, esta situação mudou. Ao que parece, terá sucesso quem tiver o maior conhecimento sobre o comportamento da audiência, e não quem produzir o conteúdo mais popular. Entender quais sites as pessoas visitam, qual conteúdo veem, quais produtos compram e até mesmo suas coordenadas geográficas permitirá que anunciantes foquem melhor nos consumidores individuais. E este conhecimento ficará mais com empresas de tecnologia do que com produtoras de conteúdo.

* A tiragem dos jornais em todo o mundo está em declínio
A tiragem impressa mundial subiu mais de 5% nos últimos cinco anos e o número de jornais está crescendo. Enquanto sofre nas nações ricas, a mídia impressa floresce no mundo em desenvolvimento – em parte por conta do crescimento da alfabetismo, da expansão da população, do desenvolvimento econômico e da baixa penetração da banda larga. Na Índia, por exemplo, a população está crescendo e se tornando mais letrada, mas uma grande parcela ainda não está online.

* A solução é focar nas notícias locais
Há alguns anos, surgiu a ideia de que veículos menores tinham que se concentrar nas notícias locais, já que, com a internet, as pessoas podem acessar informações de qualquer lugar do mundo. Desta forma, não fazia mais sentido tentar competir com grandes empresas de comunicação. O problema com o conteúdo "hiperlocal" é seu apelo limitado, diz Rosenstiel. Sem mercado de massa, com poucos anunciantes e muito pouco lucro.
"Deve se cobrar pelo conteúdo online? É possível construir um modelo em que jornalistas profissionais contam com a ajuda de amadores, com salários mais baixos, para produzir reportagens abrangentes? Ou seria a solução algo como o Patch, da AOL, em que centenas de sites hiperlocais pertencem a uma única companhia que conecta os leitores aos grandes anunciantes?".
Até agora, ressalta ele, ninguém conseguiu descobrir como produzir notícias locais online com lucro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário