sábado, 5 de julho de 2014

5 DE JULHO - NEYMAR JR. SELEÇÃO, JOGAI POR ELE

Neymar Jr estreou pelo profissional do Santos num sábado à noite, 7 de março de 2009, no Pacaembu, pelo Campeonato Paulista, contra o Oeste de Itápolis. Dezessete anos. Entrou no segundo tempo, jogou poucos minutos. Incendiou a partida. Meteu bola na trave. No domingo seguinte, 15 de março, no mesmo Pacaembu, entrou jogando como titular pela primeira vez. Primeiro gol. Comemorou socando o ar, como Pelé. Eu, meu irmão Eryx e o Daniel (que ainda não tinha três anos) estávamos lá. Encantados. Boquiabertos. A gente tinha acompanhado o menino, sabíamos que havia uma joia rara na base do clube, tínhamos visto atuações dele em campeonatos de juniores. Mas ali, ao vivo, disputa de gente grande, fomos privilegiados ao poder constatar que o moleque era mesmo diferenciado. Era ainda magrinho, franzino, canelas finas, quase careca. Cara de menino mesmo. Diferente. Especial, As matadas de bola, as arrancadas, os toques de efeito, as assistências, os dribles, os passes milimétricos, os mortais chutes cruzados (quase tacadas de sinuca), a capacidade de inverter a passada e a direção, em movimento - tudo era soberbo. Coisa que eu, macaco velho de estádio, nunca tinha visto. Não daquele jeito. Muitas virtudes num só cara, repertório futebolístico único, infinito. Tínhamos um craque de novo no time. Craque mesmo, não só bom jogador. De encher os olhos. Orgulho. Em quatro anos no Santos, fez de tudo. Projetou de novo o time, tão maltratado nos anos 1990, no cenário internacional. Os adversários voltaram a temer o Santos. Libertadores, Copa do Brasil, tri Paulista, Recopa. Partidas épicas, memoráveis, como aquela no Brasileirão de 2012, quando foi aplaudido no Independência pela torcida do Cruzeiro. Gols inesquecíveis - o ápice foi o anotado contra o Flamengo, na Vila, Brasileiro de 2011, que garantiu ao menino o Prêmio Puskas da FIFA de tento mais bonito do mundo no ano. Pintura. Magia. Impossível não lembrar do gol da final da Libertadores. Sou capaz de contar nos dedos de uma mão os jogos que não consegui ver com o Neymar vestindo a camisa do Santos. Não me perdoava. Um bom tanto deles vi nos estádios. Cresci ouvindo meu avô narrar as diabruras de Pelé. Vou contar aos meus netos as peripécias de Neymar. Meninos, eu vi. O moleque prodígio disputou 229 partidas pelo Santos. Marcou 138 gols. É o maior artilheiro do time depois da era Pelé, o décimo terceiro da história da nossa fantástica fábrica de gols. Arrematou prêmios atrás de prêmios - revelação, destaque, artilheiro, melhor do certame. Ganhou duas Bolas de Prata, outra de Ouro, um título de hors concours ("fora da disputa"), honraria até então exclusivamente oferecida ao Rei do Futebol, em eleições organizadas pela ESPN/Revista Placar. Acho sempre questionáveis, difíceis essas comparações entre jogadores. Servem mais para alimentar papos futebolísticos intermináveis de botequim. Mas, vamos lá, entrando na dança - Messi está um degrau acima do brasileiro. Ainda. Sinceramente, penso que não por muito tempo. Messi é mais razão, cerebral, dá impressão de carregar um computador de última geração com ele, calcula com antecedência as jogadas, avalia possibilidades do jogo. Faz as contas e combinações. E resolve. É mortal. Genial. Neymar é mais coração, alegria, criatividade, improviso. Imprevisível. Quando ninguém espera, lá vem mais um novo drible. Quem não lembra do chapéu usando a sola da chuteira, aplicado  no centroavante Nunes, do Botafogo de Ribeirão Preto, na Vila? Artista da bola. Mágico. Obviamente há no argentino marcas de Leonardo da Vinci e de Pablo Picasso, assim como há pitadas de Charles Darwin e Albert Einstein em Neymar. Falo do que mais se destaca e salta aos olhos em cada um deles. Identidades. DNAs. Messi é metodologia científica. Neymar é arte em estado puro. Na Copa, o brasileiro foi o destaque da Seleção nas três partidas da fase de grupos. Chamou a responsabilidade na estreia e foi responsável direto pela virada contra a Croácia. Dois gols. No empate sem gols com o México, foi novamente eleito o melhor em campo. Autor de uma cabeçada linda, que o ótimo goleiro Ochoa defendeu em cima da linha. Contra Camarões, fez a sua melhor partida no Mundial. Exibição de gala. O zagueiro camaronês resolveu empurrá-lo contra as placas de publicidade. Ele respondeu com dois gols. Durante curto período de tempo, foi o artilheiro do Mundial. E o que foi aquela jogada que começa na lateral do campo com um chapéu, passa por outro meio-chapéu, tabela com Oscar, passe com efeito, de costas, na área, que terminou com Hulk perdendo o gol? Se o tento tivesse saído, seria antológico. Contra o Chile, nas oitavas, não foi bem. Tomou pancada duríssima na coxa logo no começo do jogo. Sumiu. Ainda assim, pediu para bater o quinto pênalti. Amigos, era o decisivo, aquele que acabou botando pressão no derradeiro cobrador chileno. Nessa hora, vários saem de fininho, assobiando, não é comigo. O moleque foi lá e fez. Não eram poucos os urubus sobrevoando sorridentemente o Mineirão, loucos para que ele desperdiçasse a cobrança. Viram só? Avisamos. Amarelão. Invenção da mídia. Cai-cai. Pois essa expressão maldita tem o dom de me tirar do sério. A vítima vira culpado. Neymar sofre com as botinadas e coices de adversários desde que se tornou um astro do futebol. Por cretinice, inveja, cotovelos ardentes ou qualquer outro motivo, a estupidez humano-futebolística conseguiu colar nele o rótulo. Sim, houve ocasiões em que ele cavou faltas. Várias. Muito mais quando começou a jogar. Nos últimos tempos, mais maduro, fazia todo o esforço do mundo para ficar em pé, mesmo quando a cacetada era violenta. Em várias ocasiões, pulou para não ser literalmente quebrado. Curioso lembrar como muitos que aplaudem as simulações e mergulhos de Robben, para ficar num só exemplo, são os mesmos que vociferam contra Neymar. O holandês é genial, sabe usar a esperteza, decidiu para a Holanda. Neymar é mau caráter, quer apitaR o jogo e quer sempre enganar o juiz. Eterna viralatice. Compreendo saudáveis rivalidades clubísticas, brincadeiras que fazem parte do futebol, sarros e piadas que dão o tempero do esporte. Não entra na minha cabeça que torcedor de quem quer que seja defenda abertamente o "entra nele e quebra, para encerrar a carreira mesmo". Quantas vezes ouvi essa bobagem. Meninos, eu ouvi. A estupidez é incomensurável. Reclamamos dia sim, outro também do baixo nível dos campeonatos nacionais, da ausência de craques. Quando um gênio da bola aparece por aqui, muitos tratam imediatamente de trucidá-lo, com requintes de crueldade, até conseguir expulsá-lo para a Espanha. Repita uma mentira cem vezes e ela se transformará em verdade. Máxima da comunicação nazista. Os imbecis faziam questão de ignorar que as chances de título do Brasil na Copa passavam necessariamente pelos pés habilidosos de Neymar. Tolos. Mas, no Barcelona, lá longe, incrível, ele passa a ser craque. Viralatice sem fim. Tom Jobim já alertava: "no Brasil, fazer sucesso é ofensa pessoal". Ontem, no jogo contra a Colômbia, Neymar não teve tempo de pular. Caiu. Desabou. Dor. A porrada veio nas costas. Sorrateira. Não esperava um movimento como aquele. Resgatemos a cena. Corram lá nos vídeos, nas imagens do google. Observem onde está a bola. Em seguida, atenção ao jogador da Colômbia. Zuñiga só está de olho em Neymar. Desde o início do lance, quando o escanteio foi cobrado. Nada de bola, bem longe dele. O joelho vai deslealmente, violentamente na lombar do craque brasileiro. Fratura da terceira vértebra. Não sou profissional, nunca fui. Mas sou peladeiro. Bato bola desde antes de nascer. Aprendi, na prática, a diferenciar uma dividida de jogo, muitas vezes até forte, de uma entrada que nada tem a ver com o jogo. Não tentem me convencer do contrário. O lateral colombiano, aliás, já tinha quase quebrado o joelho do Hulk no primeiro tempo. Ficou por isso mesmo. Não estou dizendo que Zuñiga tenha pensado racionalmente "vou tirar Neymar da Copa. É agora". Mas entrou para dar aquele recado, para machucar. Aos relativistas de plantão, sinto muito, não vou contemporizar. Não foi disputa de jogo. Aquilo pode ser vale tudo. Mas não é futebol. Reprovo com a toda a força da minha alma também as ofensas racistas dirigidas ao colombiano em seguida, nas redes sociais. Quem agiu dessa maneira é criminoso. Neymar fora da Copa. Por responsabilidade de um juiz que deixou, desde o início, o pau comer solto em campo, dos dois lados. Um banana. Palhaço. Omisso. Ruim demais. Que parece ter seguido as nefastas orientações da dona FIFA - não dar cartões, para não estragar as semifinais. Tivessem zerado os cartões antes. Manés. O que causa ainda mais indignação é que esse padrão FIFA de arbitragem privilegia cada vez mais os brucutus. Machuca os craques. Neymar foi ainda, indiretamente, vítima de um discursinho safado e mentiroso reproduzido por ressentidos nas esquinas que dizia que a "Copa está comprada para o Brasil". Os árbitros passaram a entrar em campo já dispostos a mostrar que o Mundial não, não estava comprado. Ontem, o fraquíssimo espanhol sequer parou o jogo quando Neymar foi atingido. Deu vantagem! Mandou o jogo seguir. Marcelo precisou gritar, desesperado, já entendendo que o estado do camisa 10 era grave. Zuñiga não levou amarelo. Sequer foi advertido verbalmente. Porque, afinal, o árbitro tinha de mostrar que era 'neutro'. Não escondo - Neymar exagera nas relações com patrocinadores, na exposição de vida privada, é produto da sociedade do espetáculo, recebe milhões de dólares enquanto professores recebem salários de fome, fala muita besteira, ainda não entendi as contas da transferência para o Barça. Tudo isso e mais um pouco. Problemas dele. Falo aqui de bola. E a Copa fica mais triste sem um de seus astros. Fato, o Brasil ainda pode ser campeão. Tem chances reais. Tirou toneladas das costas. Virou franco atirador. A Alemanha morre de medo da Seleção. Foge da gente, como fez em 1974. O Felipão certamente vai usar a ausência do Neymar para provocar e estimular os jogadores brasileiros. Provável que se tornem leões em campo. Uma bola cruzada na área, uma falta cobrada pelo David Luiz... (que linda, a de ontem). Vai ter pressão brasileira nos bastidores. A onda pode virar - e os juízes, quem sabe, decidam mostrar que não estão contra o Brasil. Mas o muito triste é que o Neymar não estará em campo na final, se ela vier. E isso me dói. No fundo do coração. Ontem, mesmo com a vitória, o sentimento era de luto. Baque. Fiquei derrubado mesmo. Pelas relações de afeto que tenho com o 10 da Seleção, o 11 do Santos, embora ele não me conheça. Eterna gratidão. Admiração. Mas principalmente porque essa Copa era o sonho dele. O moleque se preparou especialmente para ela. Era o Mundial do esplendor da juventude, a possibilidade de rivalizar com os gigantes do futebol, como Messi, Cristiano Ronaldo, Robben e Pirlo. Como ele vinha fazendo. Ele queria ser campeão do mundo no Brasil. Levantar a taça no templo do Maracanã. Garoto, uns onze, doze anos, quando ainda fazia estragos nas defesas adversárias no futebol de salão em Santos, ele respondia em entrevistas, largo sorriso no rosto. "Meu sonho é ser campeão do mundo no Brasil". Esse sonho foi brutalmente interrompido por uma violenta joelhada nas costas. Não me conformo. Seleção, jogai por Neymar. Que essa estupidez sirva ao menos para que se possa refletir sobre o futebol que queremos - o dos brucutus que distribuem pontapés ou o dos craques que nos alimentam com dribles e belos gols. Eu fico com a pureza e a inocência do futebol arte. Paro por aqui. Ouço a torcida na Fonte Nova cantando "olê, olê, olê, olê, Neymar, Neymar!". Os olhos estão de novo ficando cheios d'água.   

3 comentários:

  1. Pois eu aplaudo de pé o Zúñiga, este não se apavorou na frente daquele moleque arrogante.

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    1. Acho que está equivocado, ele é muito bacana e gente boa cara

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