quarta-feira, 2 de julho de 2014

2 DE JULHO - AOS INCRÍVEIS MANOS BOLEIROS

Ainda estou tentando entender melhor que sensação é essa. Fazia quatro anos não vivia algo parecido. Angústia que deixa inquieto. Irrequieto. Sem parada. Nostalgia. Saudade. Expectativa. Leve (ainda) tensão. Lembrar o que já foi. Imaginar o que está por vir. Pensando bem, é melhor que seja assim. Esses dias sem jogos funcionam para nos avisar que, sim, não tem jeito, não há o que fazer, está acabando. Preparem os espíritos. O Brasileirão vai recomeçar. É espécie de alerta para processar e acostumar. Sinal amarelo. Atenção. Porque se tivéssemos jogos todos os dias, todos os dias, todos os dias, ininterruptamente, a quebra seria brusca, dramática, e o baque, muito maior na segunda, 14 de julho, quando as luzes do Maracanã já estarão apagadas. Queda da Bastilha. Sei lá. Vai ver estou sendo poliana mesmo, tentando enxergar o copo ainda meio cheio, quando ele já está quase vazio. Para não sofrer muito com a abstinência, fico olhando da janela do quinto andar o Daniel jogando bola com os amiguinhos no pátio do prédio. Quase um Holanda x Espanha! Bravo! Nesse silêncio de Copa, peço licença quase poética para falar de dois caras que são fantásticos. E que têm tudo a ver com Copa do Mundo. Com essa linda Copa do Mundo, em especial. Homenagem. Um é santista, da velha guarda. Foi meu ombro solidário e camarada nos anos das vacas magras do alvinegro praiano. Aproveitou comigo a mágica era Neymar. Futebolisticamente falando, vai do céu ao inferno em fração de segundo. Manda vender todos os jogadores do time, quando o jogo vai mal, como diria meu avô. Basta sair um golzinho, de canela que seja, que passa a gritar que o campeão voltou. E que torcedor não é assim? É das coisas mais divertidas acompanhar as cornetadas dele nas redes sociais. Narração alternativa dos jogos. Baita zagueiro. Daqueles que não perdem o tempo de bola, que sabe a hora certinha de dar o bote ou de sair na cobertura, que não dá espaço nem cai nas manhas e salamaleques de atacantes experientes. Bom passe. Sai jogando. Fácil. Sem afobação. Não deixa de chegar junto e de encarar divididas mais ríspidas, se for preciso dizer 'aqui não'. Sem violência.  Raçudo. Conhece futebol como poucos. Advogado de primeira linha, marrento, não confunde sistemas táticos e sabe com precisão estabelecer a diferença entre justiça e vingança. O outro é são-paulino. Torce para a Seleção Brasileira, mas não esconde de ninguém a quedona pela Argentina, por Maradona e Messi. A gente discorda. Mas nos respeitamos muito.Corneteiro de mão cheia também. O Luis Fabiano que o diga. Coitado do Pato. Acompanha campeonatos do mundo inteiro. Meia-atacante habilidosíssimo. Joga de cabeça erguida. Pensa o jogo. Dribla bem. Chega na frente para definir. Sem firulas. O fino da bola. Apaixonado professor de Educação Física, milongueiro, guerreiro transformador que rejeita rótulos e preconceitos, a atuar nas periferias e franjas da cidade. Como ocupamos, os três, posições diferentes - gosto de fazer um segundo volante/meia -, crescemos jogando muitas vezes juntos, nos mesmos times. Esquadrões, a desfilar pelos mais diferentes palcos. O quintal íngreme da casa da Cristiano Viana, debaixo do viaduto da João Moura, na calçada da Lisboa, no pátio do prédio do amigo, na quadra da escola, nos campinhos de areia e de society, nos campos oficiais de grama, no clube, nos amistosos, nos contras, em torneios oficiais, campeonatos, fases de grupos e finais. Era perrengue ganhar da gente. Não somos craques, nada de estrelas galáticas. Bobagem. Mas a gente era crica. Tentávamos e corríamos até o último minuto. Mesmo quando o placar marcava 10 x 0 contra. Quem sabe a gente ainda vira. Não tem jogo perdido. Quando nos encontramos fora das nossas arenas particulares, senta que lá vem historinha de futebol. Inevitável. Se deixar, viramos madrugada. Se tiver cerveja gelada então... A gente sempre curtiu Copa do Mundo. Muito. A gente sempre sonhou com um Mundial no Brasil. Pacto de honra, de sangue - quando acontecer, vamos ser protagonistas anônimos da festa. Deu muito certo. Verdade que quase entramos na esparrela da fracassomania, vai ser uma porcaria, vamos passar vergonha, os gringos vão rir do Brasil, não dá. Espera aí... por que só o Brasil não tem condições de organizar uma Copa do Mundo? Que ladainha é essa? Discursinho mais besta. Caiu a ficha. A gente esperou tanto tempo por isso e logo agora vamos refugar? Aos ingressos! Fui para Fortaleza com o Eryx. Futebol, Celeste, Ticos, praia, cerveja. Bom papo. Com o Guto, estive em Belo Horizonte. Era o dia seguinte do aniversário dele. Ganhou de presente um gol do Messi. Merece. A nossa Copa não foi (opa, está sendo, não acabou...) só de estádios. Foi nas ruas, nas fan fests. Nos telões. Nos monitores minúsculos de televisão. Nos radinhos. Nos aviões. Nos metrôs. Nos bares. Nos bolões. Nas brincadeiras e nas conversas sérias. Nas redes sociais. Nas mensagens de celulares. Nos abraços. Nos sorrisos. Nas comemorações. Nos desesperos. Nos telefonemas. Nos choros também - sim, a gente não tem vergonha alguma de chorar. Obrigado. Cabe aqui também agradecer esposas, que nos apoiaram e sobretudo nos suportaram nos últimos vinte dias. Vai passar, acreditem. A Copa está terminando. Nossa hermana camaradagem não tem fim. Carinhos. Afetos. Lembranças dos nossos tempos de criança. Empolgação com os projetos de adultos. Desejos comuns - um outro mundo possível. Sobrinhos maravilhosos e queridos. Divergências e até brigas, algumas duras, pois sem elas não há parceria honesta e verdadeira. Parças. O jornalista que deseja democratizar informações, o advogado que briga pelos direitos humanos, o professor que ensina a beleza da diversidade e dos esportes. Três patetas. Mosqueteiros. Zagueiro, meia, atacante. Trio de ouro. Obrigado, meus dois irmãos. Sem vocês, essa Copa teria muito menos graça. A vida seria mais sisuda. Cinzenta. Amo vocês. A propósito, e até para não perder a oportunidade: vamos começar a pensar no projeto "estaremos na Eurocopa em 2016"? Ou já dá para encarar um "Copa América 2015, aí vamos nós"? Tudo bem. "Rússia 2018" é muita viagem? 

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