Uma foto do ministro da Casa Civil e a seguinte chamada: "Quem, eu? Sim, ele mesmo, Antonio Palocci, pego em flagrante". Capa da Veja? Não, da edição que está nas bancas de Carta Capital, revista que é certamente referência de jornalismo decente, sério e bem feito.
No editorial, Mino Carta destaca: "Há formas diversas de abuso. O ministro Palocci assusta ao sustentar: se outros pecaram, por que não eu?". Escreve Mino: "(... ) não faltam elementos de surpresa, a começar pelo fato de que este desabrido pessoal fala de centenas de milhões como se fossem bagatela em um país tão desigual quanto o nosso". Para ele, "o desfecho do presente enredo é até imprevisível, mesmo porque o instituto da impunidade continua em pleno vigor".
A matéria de capa, assinada por Cynara Menezes e Sergio Lirio, com colaboração de André Siqueira, reforça "o estrondoso silêncio a cercar o escândalo que envolve o ministro". Diz que o caso é grave e cita o "extraordinário enriquecimento do ministro e sua firma de consultoria mal explicada". Perguntam os autores do texto: "O que torna Palocci um político tão protegido? Seria seu trânsito nos meios financeiros e empresariais? Ou sua postura de petista 'limpinho', que, apesar da barba, não causaria constrangimentos aos frequentadores dos restaurantes caros do eixo Rio-São Paulo?". Diz ainda a reportagem que a sociedade brasileira precisa de pronta resposta. E lembra que "a recusa do ministro em fornecer mais explicações sobre sua evolução patrimonial é um escárnio".
Repito: Carta Capital faz Jornalismo, com "jota" maiúsculo mesmo. É contraponto de qualidade ao palanquismo partidarizado consagrado por boa parte da mídia velha. Pois então... será que agora será acusada pelos patrulheiros de fazer o jogo da direita? Será que os incondicionais defensores do governo vão dizer que a revista virou a casaca, que agora aderiu ao PIG (Partido da Imprensa Golpista)? Será que vão vociferar e gritar que Mino Carta é golpista e está querendo desestabilizar o governo Dilma? Pois é... o mundo é muito mais complexo do que o maniqueísta "ou tudo ou nada"...
Com a reportagem desta semana, Carta Capital nos oferece mais uma lição: o debate político a respeito do governo Dilma deve ser pautado por ideias, argumentos, ouvidos atentos, análises críticas. Sem vendas ou mordaças. Sem censuras, "isso pode, isso não pode ser dito". Sem adjetivos, rótulos, classificações e falsas divisões. Sem demonizar aqueles que não abrem mão de pensar e não manifestam "apoio incondicional" à administração federal.
Assim como a revista, aguardo as explicações do ministro Palocci. E, patrulheiros, não faço o jogo da direita. Muito ao contrário. O contraponto à esquerda é mais do que necessário - urgente, na verdade.
ótimo artigo. uma das coisas que se reforça com esse caso é que se deve parar, imediata e definitivamente, com a canalhice de rotular aqueles que criticam ou já romperam com o ex-Partido dos Trabalhadores de "esquerda que a direita gosta".
ResponderExcluirAté pq é uma desonestidade intelectual quase inigualável, principalmente quando está claríssimo qual é a "esquerda" que a direita realmente adora. que o digam os mercados, nao é mesmo?, antro de admiradore e financiadores do chefe da casa civil e seus comparsas levados ao paraíso pela classe operária.
Concordo em gênero, número e grau!
ResponderExcluirSe eu soubesse que um partido mais a esquerda ganharia forças com essa denúncia - sem provas -, seria a favor de investigação profunda. Mas sabemos que não. Quem crescerá se isso se tornar verdadeiramente um escândalo é do PSDB pra lá, por uma questão simples: esses são os partidos com propostas governistas. O PT é o único partido da esquerda que é popular e que tem propostas governistas viáveis. Não digo pelas propostas em si, mas pela chance de serem eleitos nas grandes eleições executivas. Como uma frase que Mercadante disse a um candidato do PSOL (Buffalo?) nas últimas eleições para o governo de SP: "Vcs mantiveram seus ideais de esquerda puros e deixaram a direita governar. A gente fez diferente" (a frase não é bem assim, mas é esse o sentido). Portanto, acho perigoso de verdade se essa denúncia sobre Palocci ficar maior e maior, porque sabemos quem voltará ao poder. A mesma coisa com o mensalão. Sendo verdade ou não, se aquilo se tornasse maior ainda de uma forma que fosse insustentável o Lula continuar ou reeleger a Dilma, sabemos quem estaria no poder hoje. Só esse o medo sincero que tenho de gente mais a esquerda bater nesse assunto do Palocci. Querendo ou não, por mais lugar comum que seja ou não, o resultado prático é um Alckmin ou qualquer semelhante no poder. E aí voltará o retrocesso verdadeiro. Muito pior que o enriquecimento - que até o momento nada demonstra claramente que seja ilícito - de uma pessoa do governo.
ResponderExcluirPedro.
Esse ponto do Pedro é algo interessante de discutir. Será mesmo que devemos deixar algo passar com esse governo só porque achamos que o outro lado seria pior? Acho conformista e, pra ser sincero, bem triste que aceitemos ser governados pelo "menos pior" e não lutemos por algo melhor.
ResponderExcluirO raciocínio é simples: se eu tenho que, anualmente, explicar de onde vem a renda que me sustenta e sustenta a minha família, por que o Palocci não precisa? O silêncio dele é sintomático.
ResponderExcluirNão podia esperar outra postura dessa grande revista, Abs.
ResponderExcluir