quarta-feira, 5 de junho de 2013

EM 2011, NEYMAR JÁ ERA PARÇA DO BARÇA

Sei não. Parece que a caixa de Pandora apenas começou a ser aberta. Se for escancarada e revirada até o fundinho, muitas outras maldades provavelmente saltarão de lá, a nos atormentar e assombrar. Que me desculpem os amigos santistas que já conseguiram virar a página e seguir em frente, mas ainda não consegui digerir o fato de um desses monstrinhos maldosos ter nos anunciado que a transferência de Neymar foi efetivamente sacramentada no final de 2011, por coincidência na mesma época em que o contrato com o Santos foi renovado (o tal do "eu fico") - e apenas um mês antes do Mundial de Clubes, quando enfrentamos o Barcelona na final. 

Não estou me referindo a ilações ou a boatos que vez ou outra são plantados e reverberados midiaticamente, a contemplar interesses de grupos políticos internos, na disputa pelo comando do clube. A afirmação foi feita pelo vice-presidente do time catalão, Josep Maria Bartolomeu, em entrevista coletiva realizada logo após o desfile do craque brasileiro pelo Camp Nou: em novembro de 2011, o Barça pagou a Neymar pai a bagatela de dez milhões de euros (cerca de 28 milhões de reais), amarrando o negócio e firmando o compromisso da futura transferência, afastando assim a concorrência de outras verdadeiras fortunas que já estavam sendo oferecidas a Neymar por gigantes europeus como Real Madrid e Chelsea. 

Não me perguntem qual é a expressão jurídica que deve ser aqui usada, não tenho esse conhecimento técnico, mas a realidade é que, ali, naquele momento, um pré-acordo ficou combinado, um pré-acordo foi firmado. Eram os tais dez milhões de euros que já apareciam em balanços financeiros e prestações de contas do Barcelona, como informavam os jornais espanhóis, mas que Neymares (pai e filho) e a diretoria do Santos faziam questão de ignorar, assobiando dissimuladamente, fazendo cara de paisagem e respondendo, sempre que questionados ou provocados, com convicção, que "não havia acordo algum". Havia. Em novembro de 2011, Neymar Jr. foi alçado à condição de parça do Barça.

Agora que a informação tornou-se pública, na voz de fonte oficial e fidedigna, e reforçada no site do clube catalão, o staff de Neymar calou-se. Num primeiro momento, o silêncio reinou também nas salas da Vila Belmiro. O alvinegro, no entanto, ficou numa saia justíssima: se tivesse conhecimento do acordo fechado entre o menino gênio e o Barça em 2011, ainda que fosse um "acerto entre cavalheiros" (belo eufemismo, que os dez milhões de euros parecem desmentir), o clube brasileiro teria de imediatamente ter acionado a FIFA, para processar os espanhóis por tentativa de aliciamento do atleta, já que pré-contratos só podem ser pactuados seis meses antes do encerramento de qualquer outro compromisso. No limite, juridicamente, o negócio poderia até ser desfeito.

O Santos pressentiu o perigo, entendeu a armadilha. Acusou o golpe. À coluna Painel FC da Folha de São Paulo (5 de junho), o vice-presidente do clube, Odílio Rodrigues, disse que "nunca tivemos conhecimento deste acerto. Nunca nos foi dito nada pelo Neymar, pelo pai do Neymar ou pelo Barcelona. Não pretendemos fazer nada. Negociamos o Neymar com o Barcelona porque achamos que foi vantajoso para o Santos. E havia o desejo do Neymar em jogar no time".

Então ficamos assim: o Barça revela que o negócio já estava garantido e parcialmente pago em 2011, o staff de Neymar não nega e a diretoria do Santos afirma que, apesar de "só saber agora", pretende fazer nada e deixar por isso mesmo (a direção catalã garante que recebeu anuência do Santos). Estou, insisto, trabalhando com declarações públicas de fontes oficiais, não com suposições ou boatos. Se foi assim, posso imediatamente inferir que, desde o final de 2011, Neymar já era jogador do Barcelona, temporariamente e generosamente emprestado ao Santos, e que partiria para a Espanha, mediante pagamento do restante da bolada, no exato momento em que o clube catalão avaliasse que seria mais adequado e conveniente para seus projetos e interesses. 

Foi exatamente assim que aconteceu - enquanto a hegemonia de Messi e companhia no continente europeu foi capaz de se impor, o Barça achou por bem deixar Neymar no Santos, talvez para não criar atritos, imaginando que não deveria mexer no que estava dando certo. Esse tempo pode ter servido ainda tanto para projetar mundialmente a imagem de Neymar quanto para massagear o ego de Messi, que sabidamente não gosta de dividir espaços com outras estrelas ou sombras. Quando o caldo entornou, o fim de um ciclo se anunciou, a torcida começou a cobrar e a renovação tornou-se urgente, a plaquinha subiu, o Barcelona estalou os dedos, fez cumprir o que já estava sacramentado e levou o craque brasileiro. 

Não estou questionando o desempenho de Neymar em campo, com a camisa do Santos. Reconheço que o camisa 11 sempre honrou o manto sagrado. Mas tudo isso que acaba de vir oficialmente à tona nos leva a sugerir, por fim, que o tal do "projeto inovador e revolucionário no futebol brasileiro para manter por aqui nossos craques e mostrar definitivamente que não somos mais apenas exportadores de talentos" pode não ter passado de conversinha para inglês ver, uma farsa, jogo de cena. No palco, os atores principais estavam todos acertados, combinados. Era só questão de tempo. Na plateia, nós, torcedores tolos e bobos da corte, comemoramos e aplaudimos iludidos um enredo de teatro do absurdo. 

Um comentário:

  1. Sim. Foi um teatrinho. E nós, torcedores apaixonados, fomos feitos de bobos. Comemoramos o "Dia do Fico", com o LAOR mostrando ao mundo a camisa do Santos com o número 2014 as costas. O projeto era inovador. E, era mesmo. Afinal, pelo que sei, trata-se do único caso em que um jogador com contrato até junho de 2014 assina um pré-contrato em novembro de 2011. Definitivamente, se eu tivesse vergonha na cara, pararia de acompanhar esse esporte, esse time, esses jogadores e procuraria algo de mais útil para fazer. Porque, desde novembro de 2011 venho torcendo, me desesperando, quase morrendo (literalmente) por um time e por um ídolo vendidos. Como sou trouxa, vou continuar acompanhando e torcendo, e, o que é pior, vou continuar pagando a mensalidade do "Sócio Rei". Como alguns disseram no ano passado, o programa é Sócio Rei, mas os bobos da corte somos nós, os torcedores. Lamentável.

    ResponderExcluir