quinta-feira, 6 de junho de 2013

MEU RESPEITO AOS TURCOS!

(*) Silvia Macedo Chiarelli, educadora e proprietária da Escola Alecrim


Estou em Istambul em visita à minha filha, Teté, que mora em Beshiktas, um bairro próximo de Taksim. 

Como está sendo noticiado aí no Brasil, um projeto de reurbanização do governo pretende derrubar 600 árvores de um parque na Praça Taksim, no coração de Istambul, para a construção de um shopping center no local. Muitas pessoas ocuparam o parque para impedir o corte das árvores e, sexta-feira passada, 31 de maio, a polícia invadiu o parque para expulsar os manifestantes com bombas de gás lacrimogêneo, jatos d’água e muita violência.

O que aconteceu depois, e continua acontecendo, é emocionante. Uma manifestação popular que foi crescendo ao longo dos dias, o protesto foi tomando o país! Parece que quanto mais a polícia reprime, mais gente aparece e a ameaça da derrubada das árvores acabou se transformando num protesto político sem precedentes nos últimos 90 anos do país. Trouxe à tona uma série de insatisfações contra o governo que os turcos não querem mais calar: se fala em autoritarismo, na arbitrariedade nas tomadas de decisão, na falta de escuta, em algumas questões econômicas, em posições retrógradas e muito conservadoras... E isso contra um governo com popularidade baseada no sucesso da política econômica. Milhares de pessoas tomaram as ruas em muitas cidades do país!

Como a casa da Teté é no meio do caminho, sábado acabamos participando de parte da passeata do pessoal que veio do lado asiático, pela ponte, em direção à Praca de Taksim (fala-se em 40.000 pessoas que atravessaram a ponte a pé!). Foi das coisas mais bonitas e emocionantes que já vi: pessoas de todas as idades, cantando, empunhando bandeiras da Turquia, uma festa. Vinha mais gente das ruazinhas laterais, os carros que passavam no sentido oposto buzinavam em apoio, muita gente batia panela nas janelas dos prédios... incrível! 

A polícia está reprimindo as manifestações com uma violência absurda, muito gás lacrimogêneo e canhões de água. Mesmo assim, os protestos continuaram durante o final de semana inteiro, em muitos pontos da cidade. Vale dizer que são pacíficos até a ação da polícia começar: aí surgem as barricadas, pedras, etc... 

O movimento foi organizado através das redes sociais, não tinha nenhum partido político por trás da mobilização popular. Tive a oportunidade de presenciar cenas incríveis: gente distribuindo água, máscaras, limão e leite com água (que dizem amenizar os efeitos do gás). Panos brancos em alguns estabelecimentos sinalizavam abrigo possível em caso de necessidade. 

As bandeiras nas janelas das casas, nas vitrines das lojas também se transformaram numa marca do protesto.

A partir da segunda-feira, os protestos voltaram a se concentrar na Praça de Taksim, o início marcado para as 9 horas da noite. Além disso, diariamente às 9 da noite em ponto uma barulheira danada continua tomando as ruas: panelas batendo, buzinas, apitos e vuvuzela durante muitos minutos. Para lembrar que podem não estar presentes na Praça, mas continuam mobilizados, insatisfeitos, querendo mudanças.

Ontem à noite bati panelas em sinal de apoio, quis mostrar meu respeito e admiração pelos turcos. Confesso que senti uma pontinha de inveja!

Um comentário:

  1. É como diz Aline, da Cidade das Pirâmides - Equilíbrio, estado de loucura! Aline explica a situação atual do mundo. Veja: http://www.youtube.com/watch?v=ULWkvCMoCos&feature=share Viver com alegria, mas na lucidez, com equilíbrio. Abraços.

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