domingo, 12 de agosto de 2012

LONDRES ESCANCAROU UM BRASIL MUITO DISTANTE DA "POTÊNCIA OLÍMPICA"

Simbolo das Olimpíadas de Londres 2012

Não quero escrever sobre o futebol masculino, que disputou uma final olímpica esbanjando firulas e toques de efeito, mas que sucumbiu à disciplina, à organização, ao jogo bem treinado e ao verdadeiro desejo de vencer dos mexicanos. Também não vou escrever sobre o vôlei masculino, que merece aplausos pela justíssima e valiosa medalha de prata conquistada (a mesma cor, aliás, da medalha do futebol, embora as considerações sobre as duas sejam bem distintas), mas que viu seu técnico, um vencedor, ficar atônito e sem saber como agir nos momentos decisivos da final, diante de um adversário, o técnico russo, que ousou taticamente e ajudou a equipe dele a levar o ouro para casa. Tampouco estou disposto a dar atenção a frases feitas e clichês de alguns de nossos favoritos (repetindo, favoritos) - "não deu, fiz o máximo, foi o possível, não tem explicação, faltou bem pouco..."; e não quero por fim discutir o cansaço, o vento contrário e outras tantas condições adversas de pressão e temperatura que porventura possam ter derrotado nossos atletas de ponta. Desejo apenas, e brevemente, compartilhar com os leitores quatro emblemáticas histórias que sopram da capital inglesa e que talvez, quem sabe, possam trazer alguns ensinamentos às autoridades esportivas brasileiras, que não escondem a vontade de transformar nosso país em uma "emergente potência olímpica". A saber:

1 - A boxeadora brasileira Adriana Araújo foi a primeira representante do país a subir ao pódio da modalidade em Londres (seria seguida pelos irmãos Falcão). Feito histórico, não apenas por ter sido alcançado 44 anos depois da até então única medalha brasileira no boxe (Servílio de Oliveira, na Cidade do México, em 1968), mas também porque a vitória (sim, vitória) de Adriana veio no ano em que o boxe feminino foi introduzido nas disputas olímpicas. Méritos, todos eles, para a atleta e para o técnico dela. Tenho cá minhas dúvidas se algum representante do nosso Comitê Olímpico Brasileiro (COB) tinha conhecimento do potencial a da relevância da boxeadora para o esporte nacional. Será que ela foi reconhecida, cumprimentada na Vila Olímpica por algum chefão do Comitê? Talvez fosse, para os dirigentes esportivos, mais uma ilustre desconhecida, aventureira. Pois depois da medalha, o presidente da Confederação Brasileira de Boxe, Mauro Silva, tentou faturar os louros da vitória. Adriana foi na jugular. Deixou bem claro, publicamente, sem papas na língua, o cinismo do dirigente, que tentava se apropriar de algo que praticamente boicotara durante os anos de preparação para os Jogos, quando Adriana foi obrigada a abandonar Salvador, sua cidade natal, e onde treinava (tendo assim sido sete vezes campeã das Américas), para treinar em São Paulo, longe de seu ambiente e de sua família, "para se tornar competitiva". Aos jornais, Adriana declarou que chegou a ser humilhada por autoridades da Confederação. Pois o mesmo comportamento oportunista pode ser considerado em relação aos irmãos Falcão, Esquiva e Yamaguchi, medalhistas olímpicos - graças aos esforços individuais. Talvez querendo ficar bem na fita, o COB convidou Esquiva para ser o porta-bandeira do Brasil na cerimônia de encerramento dos Jogos. Alguém pensou em convidar o boxeador para cumprir a tarefa na abertura da Olimpíada? Sem apoio, os irmãos pensam em migrar para o MMA. Ah, mas o COB promete prestigiar o boxe para 2016. Bacana.

2- Um dos três únicos medalhistas de ouro do Brasil em Londres, o ginasta Artur Zanetti foi formado sem a contribuição da Confederação da modalidade e do COB. Sessenta dias antes da Olimpíada, não tinha patrocínio de empresa privada. Treinou sempre no clube Sociedade Recreativa Santa Maria, em São Caetano, região do ABC paulista, com equipe bancada por uma associação de pais do clube e do município. Para treinar, chegou a usar aparelhos feitos pelo pai, que é torneiro mecânico e marceneiro. Depois da medalha de ouro, Artur passou a ser a estrela de um comercial da Sadia, patrocinadora da ginástica brasileira (que resolveu descobrir o campeão das argolas dois meses antes de Londres, como se viu), substituindo Diego Hypólito, que aparecia como protagonista da peça publicitária na primeira semana de disputas - mas que, depois do tombo na apresentação no solo, acabou sendo cuspido, descartado e escondido pelo patrocinador, em atitude para lá de cínica e oportunista. Ausente, o COB não foi sequer capaz de rebater as críticas do ginasta chinês Chen Yibing, medalhista de prata nas argolas e que publicamente atacou o brasileiro, acusando-o de ter sido "favorecido pelos julgadores que deram as notas". 

3- No taekwondo, os holofotes estiveram voltados para Natalia Falavigna, medalhista de bronze em Pequim, desclassificada na primeira fase em Londres. Na capital inglesa, quem fez belíssimas e duríssimas lutas foi Diogo Silva, que chegou à disputa do bronze e acabou perdendo a medalha no último segundo, numa decisão apertada, após avaliação de imagens pelos árbitros. Sem o bronze, Diogo desabafou aos jornais, de forma tão lúcida quanto digna: "Há três tipos de atletas: os medalhistas, os patrocinados e os operários. Os dois primeiros não falam nada. Quem está ferrado é quem vai à luta. Mas quem fica sem medalha volta para o buraco. O que fiz, chegar a disputar uma semi-final, foi para poucos. Quem me criticar não sabe nada de esporte". Talvez se Diogo tivesse recebido um pouco mais, só um pouquinho mais de atenção, apoio, estrutura...

4- Segundo números divulgados pela Folha de São Paulo, a Jamaica conquistou, em sua história olímpica, 67 medalhas, entre ouros, pratas e bronzes. Atenção - 66, isso mesmo, 66 delas vieram do atletismo, sobretudo nas provas de curtas distâncias (100, 200, 400 metros e revezamentos, masculino e feminino). O que significa dizer que os jamaicanos se especializaram em correr - muito. Literalmente. É como se os atletas de lá se preparassem para um campeonato olímpico especial, à parte. Souberam reconhecer habilidades, ofereceram infra-estrutura e centros de treinamento específicos, formaram bons técnicos, a partir de opção e de estratégias conscientes e inteligentes. Vencedoras. Não é errado dizer que os jamaicanos são os donos das provas de  tiro rápido no atletismo, capazes de forjar gênios extremamente simpáticos como Usain Bolt, uma lenda do esporte. Detalhe: a Jamaica tem população de cerca de três milhões de pessoas e Produto Interno Bruto de 25 bilhões de dólares, aproximadamente. Segundo detalhe: a Jamaica terminou os Jogos de Londres na décima oitava posição no quadro de medalhas (4 de ouro, 4 de prata, 4 de bronze). Ficou na frente do Brasil, o vigésimo segundo.

E então, dirigentes do COB (Carlos Artur Nuzman, especialmente), ministro Aldo Rebelo e presidentes (muitos, quase vitalícios) de confederações e federações? Querem mesmo fazer do Brasil uma potência olímpica? Sem garantir que o dinheiro investido (foram mais de dois bilhões de reais, neste ciclo olímpico) chegue aos atletas? Sem esportes nas escolas? Sem uma política nacional de práticas esportivas? Será? Pois o tempo é cada vez mais curto. O Rio de Janeiro está logo aí. 

Um comentário:

  1. ow,muito bacana esse blog,parabens em,passaram 2 pessoas la no meu e falaram do seu,aprovadissimo 100% ai da gosto de ver blogs recomendados,me recomendaram esse www.rastreamentodecelular.net,parece que é de software de celular pra rastrear e eu tava precisando,sera que é bom?Abraços,fui,BLOG PERFEITO

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