Costumo ver jogos de futebol - do Santos e da Seleção Brasileira, sobretudo, e por razões óbvias, mas também de tantos outros times e países - trocando mensagens com meus irmãos e com outros vários queridos companheiros, numa espécie de mesa-redonda que acontece via celulares, freneticamente, aproveitando potencial oferecido pelas novas tecnologias. Nem de longe temos a menor pretensão de atuar como comentaristas especializados, há na maioria das vezes mais divergências que consensos, mas é divertido, uma brincadeira que muitas vezes sugere reflexões inteligentes e respeitabilíssimas, de gente que adora futebol e que acompanha o esporte desde a tenra infância. Trago para cá, assim, alguns dos pitacos que torpedeei durante o jogo do Brasil contra o México.
Óbvio ululante, recorrendo ao inesquecível e genial Nelson Rodrigues: a seleção esteve apática e sem criatividade ou inspiração alguma neste domingo, mas penso que a expectativa criada por conta dos jogos contra Dinamarca e Estados Unidos, quando o Brasil apresentou-se bem (coletivamente e também com alguns destaques individuais), foi exagerada e fez também o tombo ser um pouco mais dolorido. Aqui, aliás, reside aquele que me parece ser um dos problemas da relação que se estabelece com a Seleção: vivemos de narrativas que são construídas como ondas, onde um lampejo de lucidez e dois bons jogos já são suficientes para alçar o Brasil à condição de grande favorito para qualquer conquista; em contrapartida, derrotas e jogos ruins são sinônimos da caça às bruxas e de "avisei, nada vai dar certo, a Copa já era, é uma seleçãozinha mesmo". Transitamos de um extremo a outro, santificando e demonizando, comemorando efusivamente ou detonando com raiva e desprezo.
No jogo de hoje, penso que ficou mais uma vez escancarado que o Brasil não sabe enfrentar uma equipe que procura fazer o mesmo jogo que o Brasil faz: marcar sob pressão, tentar recuperar a bola com rapidez, para pegar o adversário desarmado e desarrumado na defesa. Dinamarca e Estados Unidos assustaram-se com essa estratégia e passaram rapidamente a rifar a bola, que queimava nos pés dos defensores. O Brasil controlou os jogos e triunfou, de forma relativamente fácil, inconteste, sem sustos, principalmente contra os estadunidenses. O México entrou em campo para espelhar o Brasil: posse de bola, marcação forte, passes rápidos e chegada constante ao ataque, aproveitando a velocidade dos leves atacantes. A Seleção confundiu-se, entrou em parafuso. E o drama maior é que esse é o único estratagema idealizado por Mano Menezes. Se não dá certo... Guardadas as devidas proporções e opções distintas, é algo parecido com o que acontecia com a Seleção comandada por Dunga, que era praticamente imbatível quando aguardava o adversário em seu campo, preparava o bote e avançava em contra-ataques mortais. Se o adversário decidia esperar no próprio campo, quanto sofrimento.
Minha impressão também é que Mano continua muito preso e enroscado com o esquema que idealizou quando comandava o Corinthians. Chegou a ser vencedor por lá, mas... Oscar faz o papel de Douglas, Hulk assume a função de Jorge Henrique, Damião finge que é Ronaldo e Neymar cumpre o que era tarefa de Dentinho. São pinos que ocupam lugares específicos e faixas quase imutáveis de atuação em campo. Não ousem rodar, trocar, transitar, confundir - essa parece ser a ordem que vem do banco. Tornam-se presas fáceis para a defesa adversária, com um agravante: os volantes da Seleção nem de longe conseguem funcionar como elementos que surpreendem e desmontam retrancas, chegando ao ataque com qualidade e precisão. Foi assim que Mano resolveu muitos jogos quando comandava o Corinthians, com Cristian e Elias.
O que me parece mais grave, no entanto, é que dois anos praticamente já se passaram e Mano continua fazendo testes, experimentando. E o tempo urge. Depois de Londres, a Copa estará no horizonte. Será preciso treinar o time, não mais procurá-lo. Mas de qual time falamos mesmo? No gol, por méritos e por falta de alternativa, parece que o titular será mesmo Rafael. Nas laterais, Daniel Alves e Marcelo têm presença garantida. O zagueiro e capitão será Tiago Silva. No ataque, Neymar é barbada. E paramos por aqui. Dois anos antes da Copa, Mano tem cinco jogadores definidos. Quem é o outro zagueiro da Seleção? E os dois volantes? Os dois meias? Por fim, quem é o matador, o artilheiro, o centroavante do Brasil, aquele que vai decidir? Mano não sabe. Aqui, insisto, há motivo de sobra para preocupação.
E não adianta jogar a bola para o Neymar correr, nem atribuir a ele a responsabilidade pelas derrotas. É craque, menino prodígio, brilhante, capaz de lances e de jogadas que nem de perto passam pelo repertório de tantos outros bons jogadores. Mas não é perfeito, infalível, enfrenta e vai continuar enfrentando jornadas ruins, apagadas, bons marcadores. Na Seleção, por conta do esquema, não rendeu o que rende no Santos. Messi também é duramente criticado pelos hermanos por não atuar na Argentina como joga no Barcelona. Aqui, funciona novamente a narrativa maniqueísta em ondas: do céu ao inferno, do "quase Pelé ao só joga mesmo na Vila Belmiro". Bobagem. Aliás, Zico, Falcão, Careca, Sócrates, Romário, Ronaldo, Gaúcho, Raí e tantos outros também fizeram partidas que certamente desejam esquecer. Nem por isso deixam de ser gênios, monstros do futebol. Maradona refugou, falhou. Messi esteve muito aquém do que pode nos dois jogos do Barcelona contra o Chelsea, pela Copa dos Campeões da Europa. Teve provavelmente a bola do jogo nos pés. Desperdiçou o pênalti. Nem por isso deixa de ser, disparado, o melhor jogador do mundo, o melhor que vi jogar. Assim é o futebol.
Por fim, escrevi no Facebook durante o jogo, trago para cá: com todo o sincero e honesto respeito, sei que vem bordoada, mas acho no mínimo curioso esse "não torço para a seleção da CBF". Sim, há uma infinidade de bobagens e de desmandos, autoritarismos dos quais discordo profundamente, e é preciso mesmo criticar o futebol jogado até aqui pelo Brasil (ou a ausência dele). Acho legítimo torcer para a Argentina, para a Espanha, para o bom futebol - e até torcer contra o Brasil, 'porque não gosto desse futebol, não me encanta, não consigo mais ter empatia com o time, os jogadores são na maioria de times estrangeiros, o escrete não joga mais por aqui, prefiro os clubes...'. Não defendo nacionalismos ufanistas. Mas, insisto, o "da CBF" não cola. Porque, por exemplo, o Campeonato Brasileiro também é da CBF, muito da CBF, mais do que sempre da CBF, com todas as barbaridades que isso significa, e aí todo mundo acompanha, sofre, vibra, torce, faz bolão, tira sarro do amigo... e comemora o título, quando o time ganha. Não me lembro de alguém mandar devolver a taça de campeão brasileiro na rua da Alfândega, só porque era o "campeonato da CBF".
Chico, meu Rei...
ResponderExcluirNão vi o jogo. Não vi este, nem o outro e nem o outro. Não me encanta a seleção. Não tem a ver com CBF. Tem a ver com não gostar. Você me conhece e sabes que pouco acrescento neste debate sobre o time do Mano. Para mim, na minha soberba imparcialidade, só tem sentido a seleção se o Dênis for o goleiro. Simples assim.
Me assusta o fato de não termos um ideal de time nacional a beira de uma copa do mundo que será... aqui. Me deixa com a pulga atrás da orelha um time nacional que não joga aqui numa copa que será aqui. Me deixa encaFIFAdos um time que não tem alma, que parece uma organizada de patrocinador. Mas são impressões de quem não acompanha e de quem não gosta, realmente, deste negócio de seleção. Óbvio, talvez, se o time tivesse alguma identidade conosco (onde "nosco" signifique Brasil, país, casa, mãe Joana...) eu tivesse mais carinho por isso. Não tenho.
Sim, escalo 11 para jogar no meu Estrelão. E posso até te dizer qual é numa mesa de bar (tenha certeza absoluta que Neimar e Arouca... e Ganso... estão no time). Mas seleção, para mim, é esta que joga no meu campo de botão. No mais, é margarina.
Por fim, nem adianta fazer fusca. 2014 é batata. Uruguai campeão, Lugano levantando a taça. E nem é pelo torcer contra. É por entender que futebol é, sobretudo, paixão de moleque. O resto é comercial de chuteira.
Dificil dizer o que tem afastado as pessoas da seleçao. Associá-la a CBF não cola pelos motivos que vc mesmo elencou. A falta de identificaçao dos jogadores com os clubes daqui tambem nao vale desta vez: Neymar,Romulo,Damiao, o Traírão,o goleiro, o time nunca teve tanto jogador "brasileiro".
ResponderExcluirMas ainda existem exceçoes apaixonadas pela Canarinho! O homonimo de meu pai, Francisco Pacheco, um grande chapa meu, é um desses casos cuja paixao é eterna...vai entender... Beijo
Que aula de futebol professor!! parabéns por ter fugido dos maniqueísmos que assolam a imprensa esportiva brasileira!
ResponderExcluir