Prefiro sempre esperar passar o calor do jogo para escrever, deixar a adrenalina diminuir. Para tentar ser pelo menos um pouco mais equilibrado, menos apaixonado. Ninguém gosta de perder. Saí do estádio ontem bastante irritado. Passei a noite em claro. Quem me conhece sabe que sou torcedor do Santos desde antes de nascer. Mas não sou cego, nem burro. E o Corinthians foi bem superior ontem, principalmente no primeiro tempo. Teve a posse de bola, marcou a saída do Santos. Emerson fez um belo gol. E, como era esperado, o time administrou a partida no segundo tempo, mesmo quando ficou com dez. É verdade, virou ataque contra defesa, mas era um ataque pouco produtivo ou criativo, que em raras oportunidades conseguiu se aproximar da área adversária, e que começou a fazer cruzamentos desesperados para os dois atacantes, principalmente Alan Kardec, mais alto. Nas poucas chances do Santos, Cássio apareceu bem. Confesso que não gosto do estilo de jogo do Corinthians (que, aliás, é bastante diferente da proposta do Chelsea), mas essa é outra discussão. Há que se reconhecer que é uma estratégia muito eficiente, treinada - é a treinabilidade, como diria Tite. É um ferrolho defensivo, compacto, bem armado, que se entende por olhares, com uma dupla de volantes para lá de competentes, dois meias experientes e habilidosos (e tem são-paulino que ainda xinga o Danilo...) que ainda se dedicam a marcar e dois atacantes que não guardam posições fixas e que cumprem funções táticas importantíssimas (ontem, Jorge Henrique ajudou a acompanhar Neymar). O time marca poucos gols, mas não leva. Na minha velha cadeira cativa da Vila Belmiro, eu me perguntava ontem o que faria se estivesse jogando... porque não havia espaços para o Santos. A bola rodava, rodava, rodava, ia de uma lateral a outra, voltava para o zagueiro, o Ganso olhava, o Arouca tentava, o Neymar recuava, e não havia espaços. Não tinha profundidade. Não tinha tabela. Não tinha jogada de linha de fundo. Não tinha lançamento. Sim, o Santos jogou muito menos do que pode, mas não só porque estivesse em má jornada, o que é verdade, insuficiente para entender o que aconteceu. O Santos não jogou porque o Corinthians não deixou. Há que se reconhecer méritos do adversário. E, perdão, mas às favas com os chororôs - dos dois lados - sobre a arbitragem. O juiz fez o que tinha de fazer. Teve critério. O próprio Emerson reconheceu que a expulsão foi justa. Não teve qualquer interferência no resultado da partida, que foi disputada de forma dura, pegada, como bom jogo de futebol. Mas foi leal. Ainda tem o jogo de volta, claro, vou sofrer mais um pouco e passar mais uma noite em claro, perdendo ou ganhando. Mas acho que o Corinthians leva - e chega ao título, o que representará uma conquista justa. Por fim, aos que estão entupindo minha caixa com agressões, ofensas e palavras estúpidas, só posso dizer que lamento profundamente. Jamais, em tempo algum, agi dessa maneira. Não faz parte da minha personalidade, da minha índole. Vale por fim dizer que brincadeira sobre futebol é algo bastante diferente e saudável. Mais inteligente também.
Elegante, como sempre.
ResponderExcluirAgora, em primeira mão, poderei dizer: Lúcido, como sempre. Confesso ter passado parte da noite em claro; vencido pelo cansaço de um dia de trabalho, adormeci. Em meus sonhos, aquele golaço do meu time. E a certeza que na próxima semana será outro jogo, outra história e quiçá, outro sonho: A taça!
ResponderExcluirBela análise. Imparcial e lúcida.
ResponderExcluirA análise do Chico Bicudo é igualzinha a minha. Estive na Vila ontem também e nunca vi uma marcação tão bem feita e tão em cima como o Corinthians fez na quarta-feira. O Santos tentou, mas, desesperado e sem espaço, apelou para o velho estilo Muricy, ou seja, chuveirinho na área para ver se sobrava para alguém. Umas duas vezes até sobrou, mas o goleiro Cássio, achado do Tite, foi muito bem. A situação do Santos é bem complicada. Para mim, praticamente irreversível. A derrota em casa foi péssima, principalmente no aspecto psicológico. Vou me abraçar com a única coisa que talvez ainda reste: a superstição. Em 2000, o Corinthians também ganhou a primeira do Palmeiras. E foi eliminado. Acho que é só o que resta mesmo. A superstição.
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