domingo, 28 de junho de 2015

UM SONHO FELIZ DE CIDADE




'Agora eu posso andar na Paulista', diz a menina, celular no viva-voz. 'Keep calm and bora pedalar', recomendava a camisa de uma senhora. B-I-C-I-C-L-E-T-A. Bicicletas. Grandes e pequenas. Com e sem rodinhas. Todas as cores. Gente de capacete. Gente sem capacete. Gente de calça jeans. Gente de bermuda. Gente sem camisa. Gente de gorro. Gente de boné. Gente de chapéu. Gente de roupa de biker profissional. Gente com fone de ouvidos. Gente caminhando. Sem pressa. Gente correndo. Gente olhando. Gente sorrindo. Gente sentada na calçada. Gente deitada na calçada. Gente cantando. Gente conversando. Gente batendo palmas. Gente. Muita gente. Bikefood. Bikelivros. Triciclos. Carrinhos de bebê. Um amigo vê as fotos e manda, tom irônico - 'você está sempre tumultuando. Casaco vermelho. Camisa da Palestina. Eu mandava prender'. Pinturas. Desenhos. Grafites. Performances de teatro. Feirinha do MASP. Sons. Música. Violão. Guitarra. Violino. Sax. Sanfona. Bateria. Elvis. Michael. Beatles. Forró. Bossa Nova. Garota de Ipanema. Heavy metal. Com vocal feminino. Existe amor em São Paulo. E tem ciclovia na avenida Paulista. Mais que ciclovia. Espaço público ocupado. Um sonho feliz de cidade. Tomara que a gente depressinha aprenda a chamar-te de realidade.

sábado, 27 de junho de 2015

DA ALEMANHA AO PARAGUAI, O VOLUME MORTO É LOGO ALI

Fico em silêncio e tento cortar as cabeças dos monstros purulentos que nascem nas minhas vísceras, para não escrever impropérios. Mas meu amigão imaginário do peito, Boleiro Bom de Papo, ombro camarada a suportar minhas lamúrias futebolísticas, sujeito que conhece do riscado, não pára de buzinar aqui na minha orelha. Inconformado, grita e gesticula, bate os pés, soca uma mão na outra, insistindo que o problema não é a geração. Não é, Chico, não é. Temos jogadores bem bons, garante, titulares de times de ponta na Europa. Temos um craque. Pode não ser 70, anos-luz disso. Mas não é 1990. Não é draga. Dá para fazer um bom churrasco com as picanhas que temos. Agora olhe para o nosso banco, para a área técnica. Olhe bem para o churrasqueiro, meu caro Chico, o camarada convida. Consegues notar as orelhas compridas do nosso pequeno anão mudo? Catzo, pode ser bacana na historinha da Branca de Neve, mas nunca para dirigir a Amarelinha. Ouça, ouça... são esbrufos ultrapassados, medrosos, covardes, patéticos. Quase relinchos, ele deixa escapar. Volte lá o filme da peleja, emenda. Como é que pode a bola passar mais pelos pés dos laterais que dos peladeiros do meio? Como aceitar dois volantes estáticos, que recebem ordens expressas de não atravessar a linha divisória do campo, empenhados apenas em correr atrás dos adversários e desarmar? Como concordar com dois meias que ignoram o ofício e escorregam para as laterais, para ajudar a combater os alas da outra equipe? Como não urrar de ódio boleiro quando a Seleção, substituições estapafúrdias, termina uma partida contra a Venezuela com quatro zagueiros, dois laterais e dois volantes em campo? Como não ter saída de bola e alternativa de jogo quando o outro time sobe a marcação e toma conta do nosso campo? Como passar mais de noventa minutos tendo chutado duas vezes a gol? Como ousa tirar o cara experiente do time aos 40 do segundo tempo e escalar o reserva que tinha acabado de entrar para bater pênalti? O Boleiro Bom de Papo espuma de raiva, tem quase convulsões, se contorce, horrorizado com o que estão fazendo com a Canarinho. Ele suplica: Nelson, nos acuda, estão enterrando a história do nosso escrete. Será que vamos voltar a chupar um chicabom? Faltam alma, paixão, tesão. E crava: não dá mais para tolerar as explicações arrogantes e desconectadas da realidade em entrevistas coletivas do comandante de uma nau à deriva, a nos castigar com o 'estamos no caminho certo, o trabalho está sendo bem feito, os outros times evoluíram, uma virose atingiu nosso time'. Antes das penalidades, meu bom amigo imaginário, talvez ajudado pelo Sobrenatural de Almeida, a quem muito admira, já tinha invadido essa minha página para lançar o #vazadunga. A hashtag serve para destravar um tiquinho a garganta. É só, no entanto, desabafo virtual de alerta. Boleiro é o último dos românticos. Dunga fica, meu amigo. É a cara dessa mentalidade tacanha e nefasta que domina a Confederação Brasileira de Falcatruas. Dunga é O cara da CBF. É tudo o que consigo dizer. Com a nesga de elegância que me resta. Sem apelar para os palavrões.  

sábado, 20 de junho de 2015

CARTA DA CÁSSIA ELLER

Pessoal, acabo de receber, do além de não sei onde, uma carta da maravilhosa e inesquecível Cássia Eller. Ela manda dizer que 'ainda é uma garotinha, uma criança que não conhece a verdade e que só pede a deus um pouco de malandragem'. Garante que está bem, com um tal 'cara que carimba postais e que isso aqui, meu senhor, é só uma carta de amor'. Amor pela humanidade, pela vida que ela viveu tão lindamente. Intensamente. Perguntou, intrigada: 'o que está acontecendo? Eu estavaem paz quando você chegou. Milhões de frases sem nenhuma cor. O que você está dizendo? Um relicário imenso de amor'. Sempre o amor.Sobre boatos maledicentes a respeito dela que andam a circular por aí, foi direta e sincera: 'não digo que não me surpreendi. Antes que eu visse, você disse e eu não pude acreditar'. Ela sabe que 'mudaram as estações', mas continua feliz e curtindo 'a sorte de um amor tranquilo, todo amor que houver nessa vida, a tomar banho de canal quando a maré encher'. Ela deseja que o autor dessa sabotagem se 'top, top, top'. Aos que insistem em propagar falsidades moralistas, ela convida: 'vá morar com o diabo que é imortal'. Salve, Cássia. Grande beijo.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

ZITO, CAPITÃO, MEU CAPITÃO

Morreu José Ely de Miranda. Zito. Como dizia meu avô, o capitão do mais fantástico esquadrão de futebol que o mundo já viu atuar. "Filho, vai demorar muito tempo para aparecer outro time como aquele. Se é que vai aparecer", completava. E recitava poeticamente a escalação que também aprendi a declamar. Gilmar, Mauro, Dalmo e Calvet; Zito e Lima; Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Com o Santos, foram quinze anos de glórias (1952-1967), 727 jogos, 57 gols. Dez títulos do Paulista, cinco da Taça Brasil, duas Libertadores e dois Mundiais de Clubes. Bicampeão do mundo pela Seleção Brasileira (58 e 62), com direito a gol de cabeça na segunda final. Será que a gente consegue ter a noção do que é fazer gol em decisão de Mundial e sair de campo com a faixa no peito? Quantos são os privilegiados que alcançaram tal feito? Técnico, habilidoso, daqueles volantes clássicos e estilosos que jogam de cabeça erguida (o uniforme todinho branco ficava lindíssimo e impecável nele), aliava a arte dos poucos que têm a prerrogativa de chamar a pelota de "minha querida" à competitividade de quem detestava perder. Distribuía broncas em campo - em partidas mais tensas, contam, distribuía também algumas pernadas. Pedagógicas. Providenciais. Tinha autoridade para gritar com Pelé e com Garrincha. Fazia o Rei e o Mané jogarem. Em campo - e depois fora dele - era conhecido como 'o gerente'. Terminadas as partidas, subia a placa e os esbrufos bruscos e exigentes eram imediatamente substituídos por abraços e palavras de afeto. Quem o conheceu garante: era coração generosíssimo. Depois de pendurar as chuteiras, continuou a prestar serviços inestimáveis ao glorioso alvinegro praiano, clube do coração, atuando nas categorias de base do Santos. Revelou Clodoaldo, Robinho, Diego e Neymar. Tinha cadeira cativa na Vila Belmiro. Não perdia um jogo. Tentem imaginar os impropérios que vociferava de lá, angustiado e desesperado, ao ver em campo tantos boleiros que, na época dele, talvez não fossem aproveitados nem mesmo no quinto quadro do Santos. Quem o conheceu de perto afirma sem pestanejar: era dos mais sonoros corneteiros que o futebol já conheceu. Não recusava um pedido de entrevista. Bom papo, era memória viva dos tempos dourados do nosso futebol, quando por aqui se praticava de verdade arte com os pés. "Um grande camarada", na definição do meu avô. Guardei aqui algumas matérias que saíram entre ontem e hoje, lembrando quem foi "seu Zito", para mostrá-las ao Daniel quando ele chegar da escola. Para dizer "filho, esse craque jogou no nosso time. É um dos grandes do nosso futebol". Não tenho tanta certeza se essa molecada que hoje compete para ver quem tem a chuteira mais chamativa e colorida nos subs 13, 15, 17 da vida, empresários em volta e contratos polpudos de publicidade e direitos de imagens devidamente assinados, sabe dizer quem foi Zito. Garrincha. Djalma. Didi. Bellini. Vavá. Nilton Santos. Será que sabem quem foi Sócrates? Nossa história. Nossos craques. Nossa identidade. Ignorada e esquecida. Vai ver é também por isso que agora sofremos para ganhar de Honduras e do Peru. Prometi não falar dos 7 x 1. Se cuida, capitão, meu capitão. Manda abraços para todos os gigantes boleiros que te receberam de braços abertos para uma fantástica pelada em outras dimensões. Claro que você não vai querer perder esse jogo. Não dá mole para o Mané. Muito obrigado.

sábado, 13 de junho de 2015

A ALEMANHA DE NOVO NO CAMINHO DO BRASIL

Na cidade de Temuco, no sul do Chile, onde estreia amanhã na Copa América contra o Peru, a Seleção Brasileira está hospedada no Hotel Dreams, que fica na avenida... Alemanha. Sonhos e Alemanha. Não combina. Talvez devesse o estabelecimento se chamar Nightmare. Corre à boca pequena que foi uma escolha pessoal do técnico Dunga. No melhor estilo militar "chega de bobagens infantis, aquilo já passou, é o melhor recomeço que poderíamos desejar, dez vitórias seguidas, somos homens feitos, profissionais, não tememos demônios passados", o atual comandante da Canarinho disse ter certeza que a experiência fará bem aos boleiros nacionais. "Olhar para a placa com o nome da rua vai fortalecer nossos brios de guerreiros. Somos machos, chê", disse aos dirigentes da Confederação Brasileira de Falcatruas, na hora de escolher a concentração. Parece não ter dado muito certo. Tentaram abafar, esconder, proibiram os atletas de dar declarações a respeito, mas o DataChico apurou que, já no desembarque, ao bater os olhos na palavrinha fatídica (A-LE-MA-NHA), Thiago Silva teve uma síncope. Desabou a chorar, inconsolável. Fernandinho começou a ouvir vozes. "Cuidado, olha o Kroos!. Solta a bola, olha o Özil!". David Luiz fez beicinho e começou a pedir desculpas, chacoalhando a vasta cabeleira e acenando para a galera que aguardava o esquadrão nacional. Entraram rapidinho no hotel, esquecendo malas esparramadas por todos os cantos. Sem perceber, deixaram um buracão no meio do saguão. Daniel Alves, tenso, olhava sem parar para a esquerda, para a direita, para a esquerda de novo, como se temesse ser surpreendido por algum alemão com camisa vermelha e preta. Deixou escapar, bem baixinho. "Minhas pernas estão tremendo. Sem alegria. Algém viu o Bernard?". Na recepção, momento do check-in, o funcionário sorridente tentou ser simpático e avisou: "o sétimo andar está todinho reservado para vocês. Ninguém vai importuná-los. Prometemos". Como? O quê? O número reverberou como uma bomba. Neymar tentou argumentar, encostou no rapaz do hotel e sussurrou algo, colocando a mão na boca para evitar leitura labial. Robinho até achou legal. "Me lembro das sete pedaladas que mandei no Rogerio na final do Brasileirão de 2002". A balbúrdia foi geral. "Sete? Sétimo?". Gritaria. Braveza. "No sétimo não dá. Não vou subir sete andares. Não vou apertar botão sete no elevador. Só pode ser sacanagem, armação", berrou Thiago Silva, aos prantos. Quando soube que o apartamento em que ficaria seria o 71, só conseguiu dar sete passos e sentar numa bola que estava encostada num canto e lá ficou, parado, inerte, a mirar o infinito. Dunga enfureceu-se. "Deixe disso, che. Seja homem. Nem mais capitão você é. E já sei que não posso contar contigo em cobrança de pênaltis. Levanta e anda".  O chefe da delegação, João Dória Junior, escolhido para o cargo por evidentes e relevantes contribuições oferecidas ao futebol e nada por critérios políticos, parecia uma barata tonta. Só conseguia repetir, abestalhadamente "é tudo culpa da Dilma, é tudo culpa do PT". Ficou falando sozinho. Argumenta daqui, contesta dali, acerta acolá (Gilmar Rinaldi gesticulava freneticamente, pedindo respeito ao futebol pentacampeão do mundo), o impasse foi finalmente resolvido. Todos transferidos para o décimo andar. Enquanto se preparavam para subir, aliviados, os boleiros da Seleção foram surpreendidos por uma carta que tinha chegado dois dias antes ao hotel e que desejava sorte ao Brasil no torneio. Assinado: dona Lúcia. Ela só lamentava, no final do texto, que Felipão não fosse mais o técnico. Foi quando um torcedor chileno conseguiu furar o bloqueio de seguranças. Aproximou-se de Willian já berrando. "Vocês tiveram sorte, muita sorte. Deveriam ter saído antes da Copa. E aquela bomba no travessão do Julio Cesar nas oitavas, hein, aos quinze do segundo tempo da prorrogação, no Mineirão?". Neymar largou as malas no chão. Fez menção de partir para cima do hermano, que precisou ser escoltado até a rua. O nome da arena ecoou forte pelo saguão. MI-NEI-RÃO. MI-NEI-RA-ÇO. Thiago Silva soluçava, amparado pelo ombro de Jeferson, que tentava sossegar o zagueiro. "Tudo bem, tudo bem. Já passou. Você nem estava em campo. Calma". A muito custo, a algazarra só seria controlada uma hora depois. Todos finalmente recolhidos, acomodados em seus quartos. Quando foi fechar a cortina, Fernandinho bateu sem querer o olho na placa da rua. Iluminadíssima. AVENIDA ALEMANHA. O médico foi chamado. O volante só conseguiu dormir sob doses cavalares de calmante. Às três da madrugada, o silêncio foi brusacamente interrompido pelos toques dos telefones nos quartos, um a um, em sequência. 1010, 1011, 1012... O funcionário da recepção avisava aos que atendiam sonados. "Senhores, tivemos repentina queda de energia. Pedimos desculpas. Acabou a luz". David Luiz saiu correndo, tresloucado. "Apagão! Apagão! Apagão!". Tropeções, empurrões, quedas nas escadas, portas de incêndio chutadas, urros guturais. "De novo não! Apagão de novo não!". Reuniram-se todos no térreo, decididos a exigir a mudança de hotel. "Aqui não vamos ficar". Foi quando notaram a ausência de Thiago Silva. Foi encontrado no final do corredor do sétimo andar, pálido, sentado numa bola. Catatônico. Olhando para o número do quarto. 71.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

UM ANO. NOSTALGIA BOLEIRA




















O encanto pelas letras nasceu cedo, ainda nos tempos em que, leitinho quente, pijama e cama, entre bocejos e antes do ‘boa noite, durma bem’, meus pais contavam histórias de mundos fantásticos, príncipes, fadas, meninas rebeldes, guerras e monstros. Criança, adorava escrever redações, mesmo quando não eram pedidas pela professora. Cercado pelas estantes, cotovelos apoiados no chão, mãos segurando o queixo, passava horas deitado no escritório do meu avô, entre caçadas de onças com bodoques, viagens ao céu e visitas ao reino das águas claras, embalado pelas invencionices maravilhosas de um tal José Bento Monteiro Lobato. A paixão pelo futebol, suspeito, manifestava-se já nos chutes de trivela na barriga da minha mãe, depois treinados à exaustão e aperfeiçoados nas tantas peladas disputadas nos times de escolas, no clube, nas praças, nas ruas, nas quadras de cimento, nos campos de areia e de terra batida, na sala do apartamento (o gol era a janela). Peladeiro profissional não nega jamais um futebol com os primos no quintal em ladeira da casa dos avós. Bicudinhos. Traves de tijolos. A briga era para ver quem atacava para baixo. Era preciso também driblar a casinha do cachorro (quase na linha de escanteio), a pitangueira e a árvore de araçá, sempre traiçoeira, a deixar as frutinhas caídas esparramadas pelo campo. Se a gente não tomasse cuidado, lá vinham escorregões e uns tombaços. Futebol e literatura. Palavras e bolas. O ponto de encontro desses dois amores – já que estamos no Dia dos Namorados? “Memórias de uma Copa no Brasil”. Filho legítimo das redes sociais. Começou como diversão despretensiosa. Mesa-redonda boleira virtual, a reunir amigos. Ganhou curtidas, comentários, retuitadas e compartilhamentos. #publicachico. #chiconarradoroficialdacopa. Vem comigo. Vale relembrar. Sinfonia de sotaques no metrô paulistano. Cidade fervilhando. Brasil estreia com vitória. Fortaleza. Impressionante Costa Rica. Quanto está o jogo da França? Aeroporto. Esteira das malas. Ônibus. Táxi. Trem expresso. Caminhadas. Que frio foi aquele no Itaquerão? A Fúria foi embora mansinha. Luisito Suárez resolveu arriscar beijinho no ombro do zagueiro italiano. Futebol moleque no saguão da universidade. Sonho de menino. Estádios com os irmãos. Estádios com os filhos. Messi, que golaço no Mineirão! Sofrimento nos pênaltis. Corrupção padrão FIFA. Volume morto da famiglia FIFA. Sai prá lá, pé frio. Mandingas e rituais. Manos boleiros. Não deu. Nem com a bênção dos deuses do futebol. Respira fundo, para não escrever impropérios no texto de 8 de julho. Vaza, Marin! Leva junto o Del Nero. Cinismo e arrogância. Confederação Brasileira de Falcatruas. Truculência das PMs na repressão às manifestações. O dever de todo brasileiro é torcer pela Alemanha na final. Um ano. Doze meses. 365 dias. 8.760 horas. Passou rápido demais. “Memórias de uma Copa no Brasil”. #publicachico. Crônicas. As boas histórias que só o futebol é capaz de revelar. Ironias e bom humor. Linguagem leve, reflexões profundas. Papo informal e cúmplice entre escritor e leitor. Na beira da piscina, hotel em Atibaia, férias de julho, ressaca copeira, entre a lembrança amarga de um e outro gol da Alemanha, mensagem pisca na tela do celular. “Chico, já pensou em publicar as crônicas num livro impresso?”. Um minuto de silêncio, embasbacado. Euforia. #publicachico. Publiquei. O livro, meu xodó. No lançamento numa noite chuvosa de 13 de dezembro, papai noel voando com seu trenó sobre nossas cabeças, Bar São Cristóvão, mais de 300 amigos reunidos, gente muito querida de todas as tribos – família, amigos do futebol, amigos de infância, do cursinho, da faculdade, das escolas dos meninos, professores, alunos, ex-alunos, amigos dos amigos. Transbordamento de afetos. Papo boleiro bacana e animado no lançamento na Livraria Martins Fontes, em fevereiro. Entrevistas para rádios, portais, sites especializados, jornais, sorteios em programas de televisão. É de arrepiar a empolgação curiosa e inteligente dos leitores mirins nas palestras que tenho feito em escolas, a me receber sempre com muito carinho. “Assina o meu caderno?”. Claro, com prazer. “Tira um foto comigo?”. Com certeza. “Você escrevia direto no computador? Era um texto por dia? A linguagem é formal ou informal? Por que são parágrafos longos? E as frases curtas? Qual a crônica que você mais gosta?”. Entrevistadores implacáveis. Nota dez para todos. Aprovadíssimos. Com louvor. Maioridade intelectual.  Contra a redução da maioridade penal. “Memórias de uma Copa no Brasil”. Acordei hoje com vontade danada de correr para a avenida Paulista. Será que encontro os mexicanos, os croatas, os holandeses, os argentinos, os chilenos, os camaroneses, os ingleses, os costarriquenhos? “Soy Celeste”. “Ticos”. “En-gland!”. “Maradona es más grande que Pelé”. “Chi-chi-chi-le-le-le”. Pulei da cama cantando “OOO-EEE-AAA!”. Já pode dar palpite para o bolão? Brasil ganha de 7 x 1. Cravei. Coloca a cerveja para gelar. Liga na ESPN Brasil. Em português, russo, inglês, francês, espanhol, italiano, dialetos africanos, japonês, babel de sotaques, agradeço mais uma vez e sempre a todos vocês, que me empurraram e abraçaram, que continuam a me incentivar, fazendo de “Memórias de uma Copa no Brasil” um dos momentos mais marcantes de minha vida. Sim, há um Chico antes de “Memórias” e outro Chico depois de “Memórias”. São muito diferentes. Sem exageros. Gratidão eterna. Vem mais por aí? Oxalá, tomara que sim. “Uma história se conta, não se explica”, já escreveu Jorge, o Amado. E há tanta história boleira para contar, tanta conversinha de futebol para registrar. Para além das Copas. #publicachico. A gente se reencontra em breve, nas arquibancadas literárias ou nas estantes futebolísticas da vida. #tamojunto. Abraços boleiros e fraternos do Chico Bicudo. 

sábado, 6 de junho de 2015

PRAZER. NEYMAR JR

Não pode jogar, é muito moleque, sem experiência, irresponsável. Filé de borboleta. Aí ele foi campeão paulista em 2010. Com 18 anos. Não vale, é paulistinha, qualquer um ganha. E foi contra o Santo André. Ele foi lá e levantou a taça do bi Paulista. Contra o Corinthians, em 2011. Foi tri paulista, em 2012. Feito que o Santos não alcançava desde a época de Pelé. Quero ver ganhar título importante, driblar desse jeito contra time grande. Mas ele já tinha vencido a Copa do Brasil em 2010. Bela porcaria, aqui o que vale é o Brasileirão. Pois ele colocou no Memorial das Conquistas do Peixe a Copa Libertadores. Título continental, que só Pelé e companhia, nos anos 1960, tinham abocanhado. Ainda teve tempo de faturar uma Supercopa. No futebol europeu, esse moleque folgado vai desaparecer. Podem escrever. Partiu como o maior artilheiro do Santos depois da era Pelé - 138 gols. Antes de desembarcar no Barça, ele foi Campeão da Copa da Confederações pela Seleção Brasileira, com gol na final, no Maracanã. Putz, grande coisa, a Espanha é uma seleção velha e decadente. Nas primeiras semanas na equipe catalã, foi campeão da Supercopa da Espanha. Fazendo gol. Sorte de principiante. Não vai durar. Na segunda temporada por lá, a tríplice coroa - Espanhol, Copa do Rei e Champions League. Autor do gol do título. De quebra, tornou-se artilheiro do maior torneio de clubes do planeta bola. Dez goles. E antes que alguém diga "ainda falta uma Copa do Mundo", cuidado, Messi também não tem esse título. Nem Cristiano Ronaldo. Nem Platini. Nem Zico. Nem Sócrates. Nem Puskas. Nem Di Stéfano. Nem Eusébio. Nem Cruijff. Azar da Copa do Mundo, como diria mestre Tostão. Ainda não tem, completo. Para quem não conhece, muito prazer. Neymar Jr. Eu vi o moleque jogar. Muitas vezes. Obrigado, meu eterno camisa 11.