sábado, 15 de outubro de 2011

SER PROFESSOR

Já por volta dos dez anos, apaixonado pelas aulas de Língua Portuguesa e de Redação, pelos encantos da palavra escrita, pelo gosto e pelo cheiro de uma boa história, anunciava a quem interessado estivesse que desejava ser Jornalista. Jamais mudei de ideia - ao contrário, com o passar dos anos, a convicção só fez aumentar. No terceiro ano da Graduação - em Jornalismo, obviamente -, comecei a trabalhar como estagiário no Sindicato dos Professores de São Paulo, o querido SINPRO-SP. Continuei por lá depois de formado - e até hoje, agora como colaborador, mantemos a parceria. É um prazer, um orgulho. São quase vinte anos de aprendizados vivos e intensos (sim, os companheiros do Sindicato são para mim referências intelectuais e éticas, exemplos de figuras humanas e de mestres, no sentido mais profundo das palavras). Acompanhei e acompanho muito de perto as lutas, os sonhos, as angústias, as ações políticas, as mensagens cidadãs, as vitórias e as derrotas daqueles companheiros que sobretudo estabelecem a Educação como um direito de todos - e um caminho para a conquista da liberdade e da autonomia crítica. Foi inevitável e irresistível (ainda bem, muito obrigado!) - por conta deles, tornei-me também professor. Afinal, respeitadas as singularidades, o ser Jornalista e o ser Professor estabelecem estreitas relações: é preciso ser curioso, humilde, democrático, alimentar pelos saberes profunda devoção e respeito, apurar, pesquisar, procurar sempre, organizar e sistematizar, saber ouvir. E estar disposto a aprender sempre, a compartilhar informações e conhecimentos - seja com o público (leitor, ouvinte, telespectador, internauta, seja com os alunos em sala de aula). Nos dois casos, é fundamental estar atento às coisas do mundo, rechaçando preconceitos e intolerâncias, truculências e autoritarismos, valorizando argumentos e ideias e lutando pelo "bom, pelo justo e pelo melhor do mundo", como diria a militante comunista Olga Benário. Foi assim, por ser Jornalista apaixonado, que me tornei um apaixonado Professor. E, entre aulas particulares, aulas na Graduação e na Pós, lá se vão quase quinze anos de atividade docente. Não é fácil - o avanço do espetáculo e do consumo, o individualismo e o "umbiguismo" exacerbados, a consolidação de um conhecimento instrumentalizado, o falso mantra que diz que as novas tecnologias resolvem todos os nossos problemas, a mercantilização das relações humanas e profissionais, o desmanche político da carreira, o esgarçamento do tecido social e a perda de referências e valores que definem a humanidade e o ideal de civilização colocam muitas vezes o papel do professor em um encruzilhada e fazem da profissão uma atividade social infelizmente cada vez menos valorizada. É preciso resistir. A cada dia. Todos os dias. Porque, como lembram as palavras libertárias do mestre Paulo Freire, no livro "Pedagogia da Autonomia", e transformadas em homenagem pelo Instituto Paulo Freire neste ano, "sou professor a favor da decência e contra o despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a ditadura da direita ou da esquerda. Sou professor a favor da luta constante contra a ordem capitalista vigente que inventou esta aberração: a miséria na fartura".   

5 comentários:

  1. Não posso deixar de registrar que as suas aulas na Anhembi eram o que valiam o absurdo de mensalidade que cobram. Você é simplesmente genial. Suas aulas são intensas e é clara a paixão que você tem em ensinar. O Brasil precisa de mais apaixonados pelo magistério assim como você. Parabéns professor!!

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  2. Professor Francisco,

    O professor apaixonado pela profissão, ensina pelos brilhos dos olhos!!
    Viva Paulo Freire!! Viva a fartura do saber!!
    Abraços
    Paulo

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  3. Grande Chico,

    Belo texto, que expressa todo o seu amor pela nossa missão de, mesmo que singelamente, tentarmos mudar o mundo.

    Abs fraternos,

    Whaner

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  4. Interessante trajetória Chico,
    Do sindicato para a universidade.
    A paixão pelo futebol completa o contexto.
    Raras pessoas fazem tão bem essas 3 coisas
    abração
    Alfredo

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  5. Chico,
    Suas aulas sempre foram as melhoras, daquelas que a gente tem prazer de assistir. E como alguém disse acima, eram suas aulas que faziam valer a pena o absurdo que paguei na Anhembi.
    Obrigada pela paciência, por ter nos orientado tão bem no TCC e nos levar ao tão sonhado 10, por me fazer ter cada dia mais vontade de aprender, aprender e aprender.
    Beijos!

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