terça-feira, 22 de janeiro de 2013

UM ATEU VÊ "AS AVENTURAS DE PI"




Não fora eu ateu convicto e de quatro costados e Piscine Molitor Patel e Richard Parker talvez tivessem me convencido a acreditar em algum deus. Qualquer que fosse ele. E independentemente da forma e da cara que o cara pudesse ter. Mas a força do filme "As aventuras de Pi" está justamente em lindamente sugerir que experiências com o desconhecido podem não ser divinas. Há várias narrativas possíveis para o nosso esplendoroso mundão. Alguns acreditam - em um, dois, três seres. Outros experimentam - uma, duas, três vezes. Há ainda quem acredite e experimente. São muitas as variáveis. E, ao não conseguir explicar, não precisamos obrigatoriamente recorrer ao mágico, ao sagrado, ao onipotente, ao tudo está resolvido. É possível simplesmente calar, contemplar. Admirar. Dizer "não sei. E talvez jamais seja capaz de saber". A dúvida é parte integrante e instigante da existência humana. Eternamente. Que assim seja. Talvez fôssemos bem mais felizes se fizéssemos mais perguntas. Menos afirmações. O todo-poderoso Homo sapiens há de compreender que não manda na natureza, que não controla todos os fenômenos e mistérios que ela nos apresenta, mas que é um pedacinho - fundamental, indissociável - dessa intrincada e complexa história. Da evolução. Da vida. A mim, basta ser parte dessa natureza, cotidianamente, com os ônus e bônus carregados por essa relação. É o suficiente. É o mágico. Por tudo isso, "As aventuras de Pi" é de uma beleza sublime. Tocante. (Quase) divina.

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