domingo, 7 de outubro de 2012

O DATAFOLHA ERROU. MAIS UMA VEZ.




Pesquisa Datafolha para a cidade de São Paulo, domingo, 07 de outubro, considerando votos válidos, com margem de erro de dois pontos (para mais ou para menos):
José Serra (PSDB) - 28%
Celso Russomanno (PRB) - 27%
Fernando Haddad (PT) - 24%

Resultado final das eleições em São Paulo (dados do Tribunal Regional Eleitoral, com 99,69% das urnas apuradas):
José Serra - 30,76%
Fernando Haddad - 29%
Celso Russomanno - 21,59%

Datafolha, não me venha com churumelas - vocês "erraram" feio, muito feio. Será que "erraram" mesmo? Sei lá, me veio a pergunta. Só pergunta. Dúvida. Vai ver interessava bastante ao jornal da alameda Barão de Limeira, historicamente ligado ao serrismo, sugerir/bancar um segundo turno entre Serra e Russomanno. Seria provavelmente mais fácil para o tucano derrotar o representante da Igreja Universal do que enfrentar o petista. O instituto tentou dar um empurrãozinho? Vai ver que sim. Só estou perguntando.

Os números são implacáveis: os 27% de Russomano na pesquisa poderiam ser, no máximo, 29%; no mínimo, 25%. Mas ele chegou ao final da disputa com 21,59%. São três pontos e meio de diferença, se considerado o patamar mínimo. Não há margem de erro que segure. 

Em relação a Haddad, os números gritam também: de acordo com o Datafolha, o petista poderia chegar, no máximo, a 26%. Chegou com 29%, coladinho em Serra. Mais três pontos. Também não há mágica de segurança que dê conta. 

Claro, já sei, foram "os movimentos de última hora, não é possível captar todos os humores dos eleitores, muita gente só decide na cabine, o instituto já apontava essa tendência, a corrida embolou no final...". Serão muitos os argumentos a "explicar essas sutis diferenças". No limite, como sempre, vão alegar que o método é seguro, que já acertaram mais que erraram. Argumento de autoridade. Não serve, não vale. Aliás, por coincidência, enquanto escrevo acompanho também o programa TV Folha, exibido pela TV Cultura (venda de espaço para jornal-empresa em emissora pública, mas essa é outra discussão). Mauro Paulino, diretor do Datafolha, está por lá, fazendo "análises e projeções sobre o segundo turno". Nenhuma palavra sobre as discrepâncias entre a pesquisa do domingo e os votos apurados nas urnas. Nenhuma. 

Aliás, leitor, veja na foto acima que a Folha (justiça seja feita, o Estado de São Paulo usou do mesmo artifício) usou duas manchetes diferentes, em clichês distintos, na mesma edição de domingo. A primeira, nas bancas já no final da tarde do sábado, era muito mais incisiva; a segunda, que chegou aos assinantes domingo cedinho, era bem mais tímida e preparava o terreno para o "tudo pode acontecer". Por quê? Sei lá. Na graduação, aprendi que você só muda a manchete de um clichê para outro quando o assunto é também outro, urgente, justamente no caso de ser preciso atualizar a edição, para dar conta de algum fato acontecido na última hora, que não se conseguiu contemplar num primeiro momento (se tivesse acontecido mais um incêndio em favela em São Paulo, por exemplo, fato bastante comum em tempos de Serra-Kassab). Mas, se o assunto continuava sendo o mesmo, qual a razão da mudança da chamada? 

Publicada em maio passado, matéria de capa que fiz para a revista "Cálculo - Matemática para Todos" já alertava: "2012 - Ano de eleições. Ano de estatística. Ano de erros". Dizia um trecho da reportagem: "autores de livros didáticos sobre estatística dizem que, para que uma amostra da população represente bem o que pensa a população inteira, cada membro da população tem de ter a chance de ser incluído na amostra. Isso significa que, se qualquer instituto quer organizar uma pesquisa para saber em qual prefeito os paulistanos vão votar, cada paulistano deve ter uma chance diferente de zero de ser ouvido. Na amostragem por cotas (que é a usada pelos institutos), contudo, assim que o instituto escolhe o lugar em que vai realizar as entrevistas (por exemplo, o mercadão), ele automaticamente exclui todos os paulistanos que nunca vão ao mercadão. A chance de que tais paulistanos sejam ouvidos fica igual a zero. (...) José Ferreira de Carvalho, professor aposentado da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador da Statistica Consultoria, traduz essa cena toda numa palavra: subjetividade". 

O lamentável é que não foi a primeira vez que o Datafolha cometeu tal "erro subjetivo".  Os exemplos são vários, muitos foram listados na matéria citada, da revista "Cálculo". Também não será o último episódio. Até quando nossas instituições democráticas permitirão que os institutos continuem a tentar influenciar com suas pesquisas os processos eleitorais? 

Um comentário:

  1. Caro Chico. Publiquei isso no meu Face ontem. Concordo contigo totalmente. Pode ser que sua explicação da razão seja mais clara. Mas que teve sacanagem, teve.
    Se gostar, aprove.
    Vamos fazer uma conta rápida:

    Serra tem 1.884.849 e 30,75 % dos votos válidos. Por essa proporção temos 6.129.590 votos válidos em São Paulo ( 1.884.849/0,3075)
    Em 25 de setembro (12 dias antes da eleição) o Russomano tinha 35% das intenções de voto (2.145.357). Ontem ele teve 21,60 % (1.323.991 votos). Em 12 dias ele perdeu 13,4 % dos seus votos ou seja 821.366 votos. Mais ou menos 68.447 voto
    s por dia.

    Hoje a imprensa corre para justificar o injustificável. O porquê o Ibope e Datafolha “erraram” tanto. Não acredita? Tente então achar os gráficos de pesquisa passadas nos sites dos principais jornais. Desapareceram feito fumaça.

    Eu não acredito em erros visto que o processo de pesquisas, apesar de não preciso, é extremamente confiável. Acredito que, como sempre, as pesquisas são usadas para manipular o eleitor.

    E sabe porquê eles fazem isso?

    Porque funciona!!!!!!

    Eleitor continua igual a torcedor. Quer votar em quem ganha.

    Mas então qual é a explicação para isso? Quem teria interesse em manipular a pesquisa dessa maneira?

    A partir daqui são idéias minhas . Não tenho nenhum contato influente para me falar coisas. Mas também não tenho o rabo preso.

    Notem que o Russomano foi usado para polarizar a eleição entre o PT e o PSDB. Não acredito que ele sendo o representante da universal tenha qualquer inferência sobre o ibope. Nem pagando. Ele foi jogado la em cima para gerar medo a princípio e depois foi colocado em empate técnico no dia da eleição para gerar esperança. O que fez com que muitos votassem no PT e no PSDB para se livrar do evangélico malufista. Eu mesmo entrei nesse jogo passando posts contra ele.

    Não, eu não votei nele. Votei no Gianazzi pelo plano de governo dele. Mas não vem ao caso agora. Minhas conclusões são:

    1- Votar de acordo com as pesquisas é a maneira mais fácil de ser manipulado . Esse é o principal ponto que nossa sociedade tem que melhorar.

    2- Votando em quem ganha ou quem perde não significa absolutamente nada. Você tem apenas um voto na mão e isso representa 0,000016 % dos votos. Votar por princípios é o mínimo que as pessoas devem fazer visto que ninguém é responsável pelo resultado.

    3- Espero que esse resultado leve as pessoas a refletir e filtra as informações que vem dos principais meios de comunicação.

    Em um povo civilizado não é a imprensa que dita opiniões as pessoas mas sim ao contrário. Chegaremos la.

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