segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

NARRATIVAS DO IMPEACHMENT

A obsessão das oposições (no plural mesmo, porque são vários os partidos, grupos, veículos, atores e movimentos que se colocam nesse campo, uma nova direita que se organiza por aqui), desde que as urnas foram abertas em 26 de outubro de 2014, é uma só: derrubar a presidenta da República e defenestrar o PT do poder. Custe o que custar. Mesmo que seja preciso jogar o Brasil num abismo. É ideia fixa. O comportamento histérico, movido por combustíveis fósseis como ódio e ressentimento, traduz-se nas palavras de ordem "fora Dilma", "fora PT", repetidas como um mantra e à exaustão nas manifestações de rua e nas tentativas de debate sobre o tema. Sobre o assunto, aliás, recomendo a leitura de "Dilma Rousseff e o ódio político", do psicanalista Tales Ab'Saber, publicado pela editora Hedra. Num raciocínio binário, quem contesta a tese do impedimento é "petralha", "corruPTo" - mesmo que critique duramente os muitos erros políticos e econômicos do governo Dilma (afinal, defender mandato democrático conquistado nas urnas é bem diferente de concordar com ações e agendas da administração federal). Na tentativa de deflagar o impeachment, as oposições recorrem a narrativas embriagadas por verdadeiros malabarismos retóricos e de argumentos, na busca por uma 'bala de prata' com calibre para 'justificar' o afastamento de Dilma. Já falaram em fraudes nas urnas (oi?), questionaram as contas de campanha (aprovadas em dezembro passado por unanimidade, num processo que teve como relator o ministro Gilmar Mendes), forçaram a barra para encontrar na Lava Jato qualquer lista em que aparecesse o nome mágico "Dilma", até finalmente - e desesperadamente - recorrerem ao mequetrefe discurso das 'pedaladas fiscais' (comuns em outros governos, incluindo o de FHC, e assinadas também pelo vice Michel Temer, no exercício da Presidência). Como já perceberam que mesmo essa tese é juridicamente frágil, insustentável, os defensores do impeachment começam a sistematizar novíssima narrativa. Sinal de alerta. Notem como, nos últimos dias, representantes das oposições começaram a afirmar que o "impedimento da presidenta é apenas processo político". Abandonam desavergonhadamente a dimensão jurídica do processo, exatamente porque não são capazes de respaldá-la. É gravíssimo. Primeiro, porque a própria Constituição exige que fique caracterizada, de forma cabal, a prática de crime de responsabilidade para que o impedimento possa prosperar. Além disso, ao considerar apenas e tão somente o viés político (que obviamente existe, mas não pode jamais ser único) e jogar na lata de lixo as exigências jurídicas, o impeachment ganha definitivamente ares de um vingativo terceiro turno eleitoral, recorrendo a mecanismos que tampouco estão consagrados na nossa Constituição - e para romper justamente a ordem institucional. Mais: desse convescote revanchista, participam apenas parlamentares. O povo está excluído. Teríamos de volta uma eleição indireta, convocada às pressas, imposta e conduzida nos gabinetes e plenário do Congresso Nacional. O protagonista estaria confinado ao papel de coadjuvante. Passaria a vigorar a 'democracia sem povo', para deleite de nossas oposições conservadoras e da nova direita em formação. Sem eufemismos - o que está em marcha é um golpe contra a democracia brasileira. É preciso condená-lo e rechaçá-lo. A disputa é também de narrativas.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

LIÇÕES DO #OCUPASP

Aula de História – Todas as mudanças, transformações e conquistas sociais foram historicamente alcançadas com mobilização popular, resistências e lutas políticas.
Aula de Física – Escola ocupada é escola que sonha.
Aula de Matemática – A soma dos quadrados das esperanças juvenis será sempre superior ao quadrado da truculência do ‪#‎nossogovernadorsecreto‬. Como queríamos demonstrar.
Aula de Química – Dois átomos de Dignidade mais três átomos de Combatividade. D3C2. Ligação valente. Elementos mais nobres da tabela periódica.
Aula de Literatura – Ensaio contra a cegueira.
Aula de Música – Amanhã há de ser outro dia, apesar de #nossogovernadorsecreto. Existe amor em SP.
Aula de Biologia – Escolas ocupadas são organismos vivos que pulsam no ritmo acelerado de sístoles e diástoles de sonhos e utopias.
Aula de Artes – A resistência vitoriosa embalada por apresentações de dança, saraus literários e peças de teatro.
Aula de Língua Portuguesa – Escreva um milhão de vezes, #nossogovernadorsecreto, em seu caderninho de caligrafia: “A Polícia Militar não pode bater em estudantes”, “A Polícia Militar não pode bater em estudantes”, “A Polícia Militar não pode bater em estudantes”...
Aula de Educação Física – E que golaço! Os estudantes merecem uma placa.
Aula de Geografia – As ruas, praças e avenidas pertencem ao povo.
Por tantas e tão ricas aulas, nossa gratidão eterna aos estudantes das escolas públicas estaduais de São Paulo. De coração, muito, muito obrigado, molecada.
Está apenas começando.