domingo, 6 de outubro de 2013

MARINA SILVA E EDUARDO CAMPOS CHACOALHAM A DISPUTA PRESIDENCIAL

Crédito - www.ultimosegundo.ig.com.br

Direto, sem rodeios ou firulas, tentando observar de maneira mais detalhada alguns elementos da fotografia política produzida neste início de outubro de 2013, um ano antes da eleição presidencial:

* A filiação de Marina Silva ao PSB de Eduardo Campos faz escorregar ladeira abaixo, e em alta velocidade, o discurso do "somos diferentes, não pensamos apenas no poder", que tanto ajudou a pavimentar a credibilidade e a imagem política dela. Marina afirmou em várias ocasiões que desejava fundar a Rede porque todos os demais partidos existentes "não serviam, estavam viciados". Quando o registro da Rede foi negado pelo Tribunal Superior Eleitoral, ela mudou o rumo da prosa e rapidamente correu para buscar abrigo no "mais do mesmo". Não há malabarismo de narrativa em entrevista coletiva que seja capaz de negar esse movimento. Será preciso agora acompanhar a repercussão desse gesto entre os entusiastas e ativistas que sonhavam com o que consideravam um fato novo na política nacional. Nas redes sociais, não são poucos os que manifestam decepção com a escolha da ex-senadora.

* Pragmaticamente, a aliança Rede-PSB tem potencial político e eleitoral para construir terceira via de peso e fazer ventar forte num cenário que anunciava mais uma vez o carcomido e insuportável cabo de guerra entre PT e PSDB.

* Eduardo Campos, líder regional, figura conhecida e com presença razoavelmente consolidada no Nordeste, teria dificuldades para entrar no Triângulo das Bermudas (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais), estados decisivos para as pretensões de qualquer presidenciável. Com Marina, a carregar significativo capital político entre as classes médias urbanas e intelectualizadas do Sudeste (20% de votos entre os paulistas em 2010, 31% entre os cariocas, outros 20% entre os mineiros), o governador de Pernambuco fura esse bloqueio.

* João Santana, marqueteiro oficial do PT, não se cansa de cantar em verso e prosa que a presidenta Dilma Rousseff será reeleita com facilidade em primeiro turno em 2014. A considerar as notícias veiculadas pelos jornais e portais neste final de semana, os assessores palacianos já não parecem mais tão tranquilos em relação a esse diagnóstico. Em condições normais de temperatura e pressão, e salvo hecatombe, Dilma é presença líquida e certa num eventual segundo turno, ainda que se considere o patamar de votos dela até aqui mais baixo captado pelas pesquisas (30%, logo depois das jornadas de junho). Os governistas estavam prontinhos para mais um embate com o PSDB, jogo que já conhecem de longa data. As cartas ficarão mais confusas e embaralhadas se os adversários na segunda etapa forem Campos-Marina, não só pela novidade que representam, exigindo a reformatação de estratégias e de discursos, que serão publicizados pela primeira vez (o risco é sempre mais elevado), mas também porque, de alguma maneira, a dupla pode ser também considerada herdeira do lulismo. O atual governador de Pernambuco foi ministro da Ciência e Tecnologia de Lula; a idealizadora da Rede, ministra do Meio Ambiente. Não podem ser considerados adversários vindos das fileiras da oposição dura aos doze anos de administração do PT.

* Se o ex-presidente Lula já manifestava disposição para percorrer o país a defender a reeleição de Dilma, provavelmente multiplicará por mais dez essa vontade, diante desse novo cenário mais complexo, nebuloso e arisco. O presidente mais bem avaliado da democracia brasileira poderá mais uma vez transferir parcela representativa de sua popularidade para a sucessora; ao mesmo tempo, pisará em ovos e será obrigado a calibrar o discurso. Não haverá margem para bater em ex-aliados, ao menos não da maneira como ele se vê livre e à vontade para fazer quando os adversários são os tucanos.

* O PMDB de Michel Temer, Renan Calheiros e José Sarney esfrega as mãos e não esconde o sorriso largo no rosto, já que, como definitivo parceiro preferencial do governo, sem mais o PSB a incomodar e reivindicar essa condição, será ainda mais importante para garantir a reeleição de Dilma, principalmente nas prefeituras dos rincões do país. Vai cobrar - mais - a fatura, já elevadíssima.

* A candidatura que sofre mais abalos é a do senador Aécio Neves. Se o PSDB já tinha dificuldades para pavimentar unidade interna e conter as ambições do ex-governador José Serra, além de patinar nas pesquisas e ainda em relação a programas e narrativas alternativos ao projeto petista, vê-se agora diante da sombra crescente e bojuda de Campos-Marina, que ameaça deixar os tucanos de fora do segundo turno, fato que representaria uma tragédia para o partido. Aécio corre até o risco de perder a condição de queridinho da mídia grande, caso os jornalões e revistões enxerguem na Rede-PSB discurso palatável e condições mais efetivas para derrotar o PT.

* A lógica de alianças nos estados passará provavelmente por reavaliações e rearranjos. O anunciado pacto de não-agressão entre Aécio e Campos tinha espaço num cenário em que o primeiro alcançava desempenho muito superior nas pesquisas eleitorais, em relação ao segundo (15% contra 5%, na média e arredondando). Nessas condições, sobravam tapinhas nas costas e apertos de mãos para fotógrafos. Com os dois se digladiando para definir quem vai enfrentar Dilma num eventual segundo turno, será que vão continuar trocando juras de amor eterno e dedicando músicas um para o outro? Aécio continuará aceitando tranquilamente, por exemplo, que o governador Geraldo Alckmin dê palanque também para Campos, no maior colégio eleitoral do país, e onde tucanos e pessebistas desejam aparecer regionalmente coligados?    

* Se o tempo de televisão já pautava as alianças, cada segundo extra cobiçadíssimo, será agora disputado a tapa - ou na base da farta distribuição de cargos, emendas e verbas públicas, nos diferentes níveis de governo.

* A declaração de Marina na entrevista coletiva que oficializou a filiação dela ao PSB - "é preciso acabar com o chavismo do governo" - é lamentavelmente mais um indício a sugerir que o debate político da próxima disputa presidencial deverá ser novamente marcado por nível baixíssimo, a exemplo do que já se viu em 2010. Não será surpresa se a campanha enveredar pelos descaminhos de uma guerra santa ainda mais conservadora e pestilenta.

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