quarta-feira, 22 de maio de 2013

VISITAS PELO ELEVADOR DE SERVIÇO?


Para abrir a série "Crônicas da Classe Média Paulistana" - 

Os apartamentos são amplos, é verdade, aconchegantes, dois por andar, dezesseis no total, e o prédio é bastante bem localizado, bairro nobre da zona Oeste da cidade, mas sem arroubos de luxo. Longe disso. O edifício é habitado por típicos e legítimos representantes da classe média, a tradicional, aquela das antigas. São duas garagens por família - mas algumas têm três carros, óbvio, é necessidade fundamental, uns possantes de grife e nomes que sou incapaz de repetir. Na reunião de condomínio, grita-se, quase que em samba de uma nota só, com única voz de resistência (devidamente chamada de "radical", só faltou o "baderneira"), por "mais e mais e mais segurança". Se pudessem, muravam, cercavam, eletrificavam, construíam torres, instalavam circuito interno com 448 câmeras, abriam um fosso e lá colocavam uns jacarés bem famintos. Versão pós-moderna dos castelos medievais. Fortalezas. Ou não. Para garantir toda essa proteção, aceitam pagar quase o dobro do valor original do condomínio. É o preço a bancar para manter os desagradáveis diferenciados bem longe daqui. Ou não. Repentinamente, um desavisado distraído e impertinente resolve sugerir que, no período noturno, o elevador social seja desligado, para concentrar operações de subida e descida no outro e economizar energia. Um cretino! Que ideia estapafúrdia é essa? Indignada, a dondoca não se faz de rogada: "mas como assim? Então vou ter que receber minhas visitas pelo elevador de serviço?". 


Marilena Chauí: "A classe média é uma abominação política, porque é fascista; é uma abominação ética, porque é violenta; e é uma abominação cognitiva, porque é ignorante. Fim".

6 comentários:

  1. Aqui no prédio que moro,em assembléia aprovaram colocar grades nos "respiros" -não sei bem o nome disso, parece um elemento vasado horizontal- na parte interna das garagens. Achei sinceramente o cúmulo da paranóia!

    ResponderExcluir
  2. Morar em condomínio é uma chance de se perceber como o ser humano pode ser estapafúrdio!

    ResponderExcluir
  3. Na palestra que deu ontem no CIEE, Mino Carta falou dos absurdos que ouve nas conversas de elevador no seu condomínio, que acredito ser nos Jardins. É realmente (a classe média entre seus muros) a ser estudado.

    ResponderExcluir
  4. Na idade média,os "civilizados" povos ocidentais se protegiam, contra a barbárie dos povos invasores, se encastelando em fortalezas. Não deu certo, os bárbaros chegaram, ficaram e inventaram a Europa.
    Será que agora vai ser diferente?

    ResponderExcluir
  5. Toda semana o zelador lava "as pedras portuguesas" da área comum e da entrada das garagens no meu condomínio, na mesma ZO de SP. A cada três meses é preciso renovar o cimento das tais pedras que misteriosamente se soltam. E dá-lhe mais água nas danadas a custo de ouvir o barulho infernal da máquina de jogar água fora, o dia inteiro, das 8 às 18!
    Isso aconteceu ontem. Hoje é dia de lavar os tapetes.

    ResponderExcluir
  6. Por que o Mino não mora na periferia? Prefere ocupar seus ouvidos nos jardins? É paradoxal, quase....
    Viver em condomínio é mesmo de amargar, mas algum destes nobres "flagelados" ousaria morar nas periferias? Tem um vídeo, que não me canso de ver, da Marilena, onde ela fala dessa cognição absurda da classe média, quando, num bairro nobre, topou com uma "flagelada" dos jardins. Quem ousaria passar 5 minutos ouvindo as periferias? Hum?

    ResponderExcluir