quinta-feira, 29 de novembro de 2012

JOSÉ MARIA MARIN E O NACIONALISMO BOLEIRO DA DITADURA MILITAR


Na entrevista coletiva realizada em um hotel no Rio de Janeiro na manhã desta quinta-feira, para anunciar Luiz Felipe Scolari oficialmente como o novo técnico da Seleção Brasileira, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, não deixou por menos e aproveitou a oportunidade para, em seus discursos inicial e final, carregar nos velhos apelos ufanistas, exaltando a todo instante a capacidade, a competência e a dedicação dos brasileiros, como se estes fossem atributos só nossos, monopólios da nossa população, a nos tornar melhores e mais distintos que todos os outros cidadãos do mundo.

O tom das falas, às vezes flertando com ameaças, lamentavelmente lembrou os tenebrosos tempos de nacionalismo excludente, intolerante e nefasto da ditadura militar (origem política de Marin, aliás), quando era preciso "aniquilar os inimigos da pátria, salvar o Brasil e derrotar a ameaça que vinha do estrangeiro (o comunismo internacional)", quando se cantava "eu te amo, meu Brasil, eu te amo...", quando o verde e amarelo eram absolutos, quando se tinha aulas de Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política do Brasil, quando se pregava "Brasil, ame-o ou deixe-o". 

Ao justificar a recusa à contratação do ex-treinador do Barcelona, Pep Guardiola, Marin disse que "apesar de o estrangeiro merecer de nossa parte o melhor respeito e o melhor conceito sobre suas qualidades e conhecimentos, nós o conhecemos como técnico apenas de uma equipe, e não de uma seleção, que é uma história bem diferente". Mas, vamos e venhamos: outros treinadores citados por Marin como aqueles que também acumulariam credenciais para dirigir a Seleção, como Tite, Abel e Muricy, são também conhecidos por trabalhos desenvolvidos em clubes. Ah, sim, mas são brasileiros, com muito orgulho e amor, e não desistem nunca - portanto, obviamente melhores que Guardiola, apenas pela nacionalidade.

O presidente da CBF continuou: "temos de lembrar que os títulos que conquistamos, e foram vários títulos, foram alcançados graças ao trabalho de nosso técnicos, brasileiros, e muitos deles inclusive levaram nosso trabalho para além de nossas fronteiras. Foram além, levaram conhecimentos, competência e capacidade para fora. Felizmente, nosso país tem um número muito grande de técnicos competentes, dedicados e merecedores de ocupar esse cargo (foi justamente aqui que ele citou Tite, Muricy e Abel, além de Vanderley Luxemburgo). Mais do que nunca, devemos valorizar aquilo que é nosso". Pois é, Felipão já comandou Portugal, Parreira já treinou Arábia Saudita, Kuwait, Emirados Árabes e África do Sul... Mas Guardiola não pode assumir o Brasil. Porque não é brasileiro. 

E Marin insistiu e concluiu: "lamento profundamente o fato de os brasileiros não conseguirem valorizar o que é nosso, não conseguirem enxergar os grandes feitos de nossos profissionais e de reconhecer que somos competentes e capazes". 

Só faltou o grande chefe passar em revista às tropas.

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