terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

GREVE DA PM NA BAHIA - PARA ALÉM DOS "ANJOS E DEMÔNIOS"


Crédito - www.portalctb.org.br

Sugeri modestamente nas redes sociais que procuremos lançar um olhar para a greve da PM na Bahia com disposição para escapar do "lá ou cá, do tudo ou nada, dos anjos e demônios", buscando também sutilezas e nuances de análise. 

Greve é direito constitucional, instrumento de luta política, de emancipação do trabalhador. Reivindicar aumento de salário e condições dignas de trabalho, que minimizem a exploração pelo capital, é não só legal, mas justo e legítimo. Tais movimentos, no entanto, não podem ser conduzidos sob a ameaça de armas. Não podem por exemplo resultar em barricadas, ataques e incêndios a ônibus praticados por policiais, dentre tantos outros atos de barbárie, como denunciam moradores de Salvador. Sem generalizar - mas há certamente malandros, irresponsáveis e oportunistas no movimento, flertando muito de perto com o banditismo social, que se aproveitam da greve para fazer politicagem (não política) e disseminar pânico e terror na população, às vésperas do carnaval e em ano eleitoral.

Ao mesmo tempo, lamento, mas não me cheira bem essa tentativa de blindar e de santificar o governador Jaques Wagner, só porque ele é do PT – partido que, aliás, foi ponta de lança da greve da PM ocorrida na capital baiana em 2001, quando estava na oposição. Agora que é governo... Wagner foi no mínimo pouco hábil, politicamente insensível, omisso.

Escreve o jornalista Ricardo Kotscho, que inclusive é amigo de Jaques Wagner: “ex-líder sindical, não é possível que o governador não estivesse informado sobre o barril de pólvora armado pelos policiais militares às vésperas do Carnaval, quando embarcou para Havana, acompanhando a presidente Dilma Rousseff, na segunda-feira passada. No dia seguinte, a assembleia dos policiais decretou greve, que já conta com o apoio de um terço da categoria. (...) Deveria ter negociado e tomado providências antes, como bem sabe por sua formação sindical e a experiência de 2001, quando houve a primeira grande rebelião da PM".

pena lúcida da jornalista Cynara Menezes tenta também fazer um convite à racionalidade. Ela lembra que não é mais possível aceitar que o governo petista jogue na conta do carlismo (legado de Antônio Carlos Magalhães) o cenário de caos que se instalou na capital baiana. “É correto que policiais, para fazer reivindicações, amedrontem a população? Não. Mas tampouco é correto que policiais, numa sociedade democrática, nem sequer tenham suas reivindicações ouvidas pelas autoridades. “Nem plano de cargos e salários eles têm”, diz o professor de Desenvolvimento Urbano Carlos Alberto da Costa Gomes, coordenador do Observatório de Violência da Bahia. Costa Gomes também é contra policiais intimidarem pessoas. Mas adverte que tudo chegou a esse ponto porque há 30 anos os policiais baianos pedem praticamente as mesmas coisas. Ou seja, não foram atendidos por ACM –nem por Jaques Wagner”, escreve a repórter de "Carta Capital".

Claro está que o governo do estado também pisou feio na bola. Poderia ter evitado o confronto. Mas preferiu ignorar sinais evidentes de que algo não ia bem. Na segunda-feira, dia 06 de fevereiro, em entrevista publicada pela “Folha de São Paulo”, Jaques Wagner admite que a avaliação feita pelos órgãos de inteligência da administração municipal que monitoravam as assembleias dos policiais militares foi equivocada. É quase uma confissão de culpa: o governo foi surpreendido pelo tamanho do movimento grevista.

A sensação que fica é de uma mistura de soberba com descaso e desdém, algo como "vamos empurrar com a barriga, não vai dar em nada, deixa estar para ver como é que fica". O problema é que ficou - e a situação agora está para lá de enroscada. As posições se radicalizaram, os policiais militares estão aquartelados, a Assembleia Legislativa foi cercada por tropas federais. Não há interlocução. E o governo agora não sabe muito bem o que fazer.

E só para fechar com mais um convite à reflexão – na verdade, é uma provocação ao cabo-de-guerra PT x PSDB que monopoliza (e empobrece ao extremo) o debate político nacional: já imaginaram se uma greve da PM explodisse em São Paulo e Geraldo Alckmin estivesse no exterior? O que estaríamos escrevendo nos blogs e nas redes sociais? Pois é.

3 comentários:

  1. sim, pois é. O José de Abreu estaria espumando contra a incompetência do governador. No caso da Bahia, ele investe contra o deputado Jean Wyllys, que defende as reivindicações (mas não cada ato) dos PMs. Menciono o José de Abreu como membro evidente de uma das tropas de choque virtuais, mas há vários outros.

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  2. O que está acontecendo na Bahia acabará servindo de inspiração para os policiais de outros estados...Exceto os bandidos que vestem fardas dentro da corporação, podemos observar que são trabalhadores que arriscam suas vidas diariamente sem treinamento completo, sem boas condições de trabalho e sem um salário decente.. E a tal da PEC300? Cadê?? Tá lá parada no congresso; Assim como tudo que é importante para o país, que geraria mudanças reais para o povo...

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  3. Sinto-me indignado quando penso que para esses governadores e deputados infelizes que ficam a vida toda ganhando no fácil, sentado, as nossas custas e o mais intolerante é que ainda roubam o que é nosso! Para esses basta sentarem e quando menos esperamos vem a notícia de que seus salários foram aumentados 50, 60, 80, e até 100% a mais, enquanto esses coitados precisam que arriscam suas vidas e das suas famílias por uma merreca precisam fazer greves e até debaixo de tiros e pedras para conseguirem que lhes pagem GRATIFICAÇÕES ATRASADAS E UM AUMENTO DE UMA MERRECA. Esse é o país onde apenas os pobres de quem esses infelizes tanto depedem na ora do voto precisam brigar debaixo de tiros, carros blindados, exército, bombas, choro e morte para consegui um simples aumento. PARA ELES (DEP, SEN, VER) BASTA APENAS UMA REUNIÃO SECRETA.

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