terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A PM NO PINHEIRINHO - IMPORTANTE ERA GARANTIR A INTOCÁVEL PROPRIEDADE PRIVADA

O Pinheirinho era um acampamento na periferia da cidade de São José dos Campos, interior de São Paulo, onde viviam cerca de nove mil sem-teto, desde 2004, em uma área com 1,3 milhão de metros quadrados, três vezes mais que a ocupada pelo Vaticano. O terreno pertencia ao especulador Naji Nahas - que nunca pagou IPTU à prefeitura. Com os cuidados e esforços dos moradores, transformou-se em bairro, com ruas, igrejas, lojas e escolas. Por lá, uma vida social intensa, relações humanas consolidadas, uma rotina estabelecida, dignidade resgatada com as próprias mãos - e tudo isso foi brutalmente destroçado pela ação ilegal (de acordo com a Ordem dos Advogados do Brasil) e truculenta da Polícia Militar, a mando da Justiça do estado de São Paulo, numa manhã de domingo, de surpresa, quando os moradores ainda acordavam. Dois mil policiais seguiram à risca o que tem sido a marca da PM do governador Geraldo Alckmin, quando estão em pauta as questões e os movimentos sociais: pés na porta, fardas sem identificações, bombas de gás lacrimogênio, viaturas, helicópteros, ameaças com armas. Tiros. Para que não restem dúvidas: dois mil policiais foram envolvidos na operação de guerra. Os moradores do Pinheirinho foram todos expulsos do bairro. A maioria não teve sequer tempo para pegar roupas ou documentos. Estão agora confinados em escolas e igrejas - "abrigos" que merecem ser de fato ser chamados de guetos, quem sabe campos de concentração, impostos pela prefeitura de São José dos Campos. Há doentes sem qualquer assistência ou atendimento. Crianças que brincam perto de dejetos de animais e de restos de comida. Os pouquíssimos banheiros disponíveis não têm privada nem água encanada. Os sem-teto receberam pulseiras coloridas de identificação - os nazistas marcavam os judeus com números nos braços e estrelas de Davi no uniforme. Passam fome e frio - alimentos e roupas chegam por meio de doações solidárias. São vigiados dia e noite pela PM, com todos os passos controlados, sem poder circular ou sair dos "locais estabelecidos". Deveras generosa, a prefeitura está ainda oferecendo passagens rodoviárias (até para o Piauí), com forte desejo de que partam rapidamente. A limpeza social foi feita. Muitos respiram aliviados. Dormem mais tranquilos. O Pinheirinho é agora um bairro-fantasma. As quase mil casas serão em breve demolidas. Com elas, cairão também os sonhos e histórias de vida de quase nove mil pessoas. A terra arrasada ficará por lá. Sem as casas, sem os moradores, mas finalmente de volta para seu "dono". O importante foi garantir a posse da propriedade, ainda que ela não vá cumprir sua função social, como determina a própria Constituição do Brasil. Mas aí são outros quinhentos, não? O fundamental era fazer valer a lei (dos mais fortes, dos mais ricos, dos privilegiados, dos que têm amigos influentes...). No domingo, em almoço em um restaurante de São Paulo, o cineasta Tiago Marconi ouviu uma senhora dizer que "não quero saber se tinha grávida ou criança, quero saber quem tinha a escritura". É assim que pensa parcela significativa da nossa sociedade. Por isso a PM pôde agir da maneira como agiu.
Entenderam?        

6 comentários:

  1. são paulo na mão da mais pura social democracia! já dizia proudhon:
    "a propriedade é impossível porque do nada exige qualquer coisa.
    a propriedade é impossível porque, onde é admitida, a produção custa mais do que vale.
    a propriedade é impossível porque é homicida.
    a propriedade é impossível porque, com ela, a sociedade se devora.
    a propriedade é impossível porque é a negação da igualdade.
    a propriedade é impossível porque é mãe da tirania!"

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  2. Hoje assiti um video sobre a ocupação e essa mesma pessoa postou o Link do seu blog no Face, será que é só isso que podemos fazer? Confesso minha indignação e revolta mas e dai? O que mais podemos fazer. O Governo, a PM o Mega ladrão, que nojo, que nojo!!

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  3. É deplorável a intromissão do governo federal, através do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, no processo de reintegração de posse da área invadida do Pinheirinho, em São José dos Campos. Ao politizar um assunto que se transformou em drama que sensibiliza a todos nós, mas sobre o qual nunca procurou encontrar uma solução, o ministro ignorou o princípio da separação entre os poderes e a autonomia dos entes federativos. Mais: ao dizer que o “método” do governo federal não é esse, sugeriu à nação que não se acatem decisões judiciais. Fato grave quando a atitude vem de um ministro que tem a obrigação de zelar pela Constituição.
    O método do ministro e de seu governo é conhecido. O cumprimento da decisão judicial fez com que o PT movimentasse todos seus tentáculos políticos e sua máquina de desinformação, com o intuito de atingir três metas: culpar o Governo do Estado pelo fato, caracterizar como de extrema violência a intervenção policial no local e se apresentar como paladino da justiça social, fazendo falsas promessas e criando expectativas irreais para os moradores do local.
    Criaram, o ministro e seu partido, nos moradores do Pinheirinho, uma falsa expectativa, nunca concretizada, de resolver a questão. Ao invés de fazer proselitismo político, o Governo Federal poderia ter publicado decreto de desapropriação da área, mas não o fez.
    É temerário que, mal se tenha iniciado o processo eleitoral deste ano, o PT já disponha de uma fábrica tão ampla de mentiras. Pior ainda é ver esse projeto de poder ser traçado às custas da ordem democrática e do sofrimento de pessoas que os petistas, hipocritamente, fingem confortar.
    O governo de São Paulo agiu em cumprimento de determinação do Judiciário, e a operação foi comandada diretamente pela Presidência do Tribunal de Justiça paulista. Enquanto o governo federal só agride, o governo paulista e a prefeitura do município providenciam a ajuda necessária para minorar o sofrimento das famílias desalojadas.
    Brasília, 24 de Janeiro de 2012
    ALBERTO GOLDMAN
    Presidente Interino
    Comissão Executiva Nacional

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  4. Deplorável foi a maneira que o Governo Estadual tratou 1.500 famílias, se desculpando que estava cumprindo ordem judicial. Porque não recorreu ou negociou até que tivesse uma solução para aquelas famílias. A população da favela do pinheirinho merecia ser tratada de maneira mais digna. Talvez se estivéssemos mais próximos das eleições os desdobramentos seriam diferentes. Politizar a questão agora como confronto de interesse PT X PSDB não consola aquela população que da noite para o dia perdeu o pouco que tinha.
    Há tempos nossos governantes mostraram ao povo de que lado estão. Dos poderosos. Claro.

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  5. Gostaria que vc divulgasse no seu blog o maravilhoso vídeo feito pelo Coletivo de Comunicadores Populares de Campinas sobre o massacre em Pinheirinho.

    http://www.youtube.com/watch?v=NBjjtc9BXXY

    Grata,
    Tatiana

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  6. Relato sobre o que vi em Pinherinho...

    http://wernnerlucas.blogspot.com/2012/01/o-que-vi-em-pinheirinho.html

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