quarta-feira, 25 de março de 2015

MODELO REUTERS DE JORNALISMO

No Brasil, são registrados, em média, 54 assassinatos de indígenas por ano. (podemos tirar, se achar melhor). A cada 12 segundos, uma mulher é estuprada no Brasil. (podemos tirar, se achar melhor). Ocupando o mesmo cargo, um trabalhador negro recebe cerca de 60% do valor pago a um trabalhador branco (podemos tirar, se achar melhor). Trinta mil jovens são mortos anulamente no país - quase 80% deles são negros. (podemos tirar, se achar melhor). Cinco mulheres são espancadas a cada dois minutos no país (podemos tirar, se achar melhor). O Brasil lidera o ranking mundial de violência contra homossexuais - um assassinato a cada 28 horas. (podemos tirar, se achar melhor). Em 2012, aproximadamente 130 mil crianças e adolescentes foram vítimas de agressões por aqui. (podemos tirar, se achar melhor). Somente no estado de São Paulo, em 2014, quase mil pessoas foram mortas pela Polícia Militar. No mesmo período, dez policiais militares foram mortos em serviço (podemos tirar, se achar melhor). Quase duas centenas de trabalhadores rurais estão nas listas dos cabras marcados para morrer. (podemos tirar, se achar melhor). A classe média tradicional sente-se profundamente incomodada com a ascensão das novas classes médias e prefere ver pessoas 'mal vestidas' barradas em determinados lugares, além de gritar contra os diferenciados e miseráveis trazidos por estações de metrô. (podemos tirar, se achar melhor). O respeito aos direitos humanos é marca de identidade da sociedade brasileira. (aqui, podemos deixar. Não há problemas).

quinta-feira, 5 de março de 2015

MATA-MATA GLOBAL

Sou favorável ao Brasileirão disputado no sistema de pontos corridos, mas reconheço que há razoáveis argumentos esportivos e boleiros para defender o mata-mata.
O que me incomoda profundamente e me deixa muito irritado é que a virada de mesa que está sendo comandada pelos próprios clubes (inteligentíssima, a CBF apenas observa o barco andar, para não se queimar ainda mais) leva em consideração apenas e tão somente a força da grana que ergue e destroi coisas belas e as pressões da emissora que monopoliza os direitos de transmissão do campeonato, preocupadíssima com a sangria de audiência que vem conhecendo.

Será que algum iluminado gestor (adoro essa palavrinha...) do nosso futebol pensou, ainda que por uma fração de segundo, em levar em consideração o que pensa o pobre torcedor (como escreveria Nelson Rodrigues), aquele tolo aficionado e incorrigível apaixonado que continua, a duras penas, a frequentar os estádios e as arenas, e que certamente terá seu orçamento doméstico ainda mais abalado por ingressos nas finais que certamente não serão vendidos a preços módicos?
Não conseguem perceber, nossos competentes dirigentes, que não há fórmula de disputa capaz de garantir espetáculos em campo (e arquibancadas lotadas, e televisores ligados nos jogos...) quando 698 boleiros abandonam os clubes brasileiros e partem para as mais diferentes regiões do planeta bola (China e "mundo árabe" são as bolas da vez)?
Com o torcedor, principal patrimônio do futebol, ignorado e achincalhado, e com a escassez cada vez mais gritante e angustiante de artistas habilidosos e mágicos em campo, mudar agora o sistema de disputa só servirá mesmo para reforçar os poderes (e o caixa) de quem manda há muitos anos nessa trolha.
Como se percebe, com tal domínio global, os resultados não têm sido - e continuarão não sendo - bons, ao menos para aqueles que gostam do futebol de verdade.
Danem-se esses saudosistas anacrônicos e românticos. Os tempos são outros. O mundo é dos espertos. O futebol? Um grande negócio. Para poucos. Gol da Alemanha.