O filme "Hannah Arendt" é mais uma daquelas narrativas essenciais para ajudar a compreender as origens e as entranhas do nazismo. Conta como a filósofa, em sua trajetória intelectual, e após acompanhar o julgamento de Adolf Eichmann em Jerusalém, passou a debruçar-se com a alma e a razão a pensar sobre a questão do mal, retirando esse sentimento/prática do campo do (não) sagrado, do demoníaco, para associá-lo intrinsecamente à natureza humana, ao bicho homem. O mal está ali, aqui, acolá, sempre à nossa espreita. O ovo da serpente. Ao mesmo tempo, a partir da experiência nazista, ela fala da despersonalização do mal, que não tem rosto, é Ninguém (com maiúscula mesmo), disperso, fluido, distribuído. Por isso mesmo, torna-se ainda mais cruel. Mas sempre humanamente humano. É o que Arendt chama de a banalização do mal. O sistema funciona perversamente porque todos - e ao mesmo tempo ninguém (agora com minúscula) - são responsáveis por ele. "Entender não é perdoar". O filme narra ainda os primeiros movimentos de construção dos fundamentos do também totalitário Estado de Israel. O crítico Luiz Zanin escreveu no jornal "O Estado de São Paulo" que "no fundo, a Hannah Arendt, de Margareth Von Trotta, é uma celebração da coragem intelectual. Da liberdade do pensamento que, como se sabe, quando começa a ser praticada nunca se sabe aonde pode levar. Não ocorria aos seus detratores de que a ideia de que o mal seria privativo dos monstros era nada mais do que apaziguante. Inquietante é pensar o mal como uma possibilidade humana". Deveria ser exibido em escolas de segundo grau, universidades, centros culturais, espaços nas periferias, museus, praças públicas, sendo seguido de debates, reflexões, interlocuções, divergências. Está passando, no entanto, em apenas duas pequenas salas da cidade de São Paulo. Se bobear, não estará mais em cartaz já no final de semana.
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