terça-feira, 3 de junho de 2014

64 JOGOS

ERA UMA VEZ A COPA NO BRASIL...


Como fazer? Porque faltam oito dias para a Copa do Mundo, o que era distante expectativa já assumiu ares de 'agora é para valer e vai começar de verdade', hoje tem jogo do Brasil, amistoso contra o Panamá, bem no meio da tarde, vai ser televisionado, claro, mas devo estar em trânsito pela cidade. Cá estou, angustiado, queimando neurônios e tentando desenhar essa agenda. Copa do Mundo para mim é também a arte de se virar do avesso para conseguir ver todos os jogos. Isso mesmo, meu projeto copístico, desde outros mundiais, quase missão cívica, é assistir às 64 partidas, seja nos estádios (agora pela primeira vez), nas transmissões ao vivo ou, no limite, quando não tem jeito mesmo, último recurso possível, sem o mesmo gosto saboroso, sem a graça da surpresa e já sabendo resultados, em reprises das pelejas. É preciso colocar nessa conta também as outras tantas horas vividas na frente da telinha ou com o radinho (vale celular também) grudado no ouvido, acompanhando as intermináveis mesas-redondas, os bate-bolas, os pré-jogos, os terceiros tempos, para desespero daqueles que tentam me tirar de um quase estado de transe, sem piscar ou fazer o mínimo movimento corpóreo que possa deixar escapar qualquer comentário, análise, previsão ou palpite. Putz, olha lá, o PVC falou um negócio que não consegui entender. Perdi. Que droga! Não é fácil, reconheço, dar conta desse desafio dos 64 jogos e muito mais. Em 1982, a primeira Copa que me bate viva na memória, saía cedo do colégio nos dias de jogo do Brasil. Como os compromissos escolares ainda não eram tão rigorosos - tinha apenas dez anos -, não foi lá tão complicado deixar a TV ligada durante praticamente todo o dia, todos os dias daquele Mundial (mesmo depois da doloridíssima desclassificação do Brasil para a Itália). Quatro anos depois, em 86, na oitava série, cheio de responsabilidades e cobranças, começando a me preparar para os vestibulinhos de colegial, me vi às voltas com a obrigação de conciliar o estudo para as provas com as partidas da Copa - que, evidentemente, eram prioridade. Tantos anos depois, posso confessar - algumas delas eu vi escondido, à revelia dos meus pais, garantindo a eles (trabalhavam fora, mas ligavam com frequência para ter notícias da nossa rotina) que estava firme e forte, na companhia inseparável dos cadernos e livros, quando na verdade estava torcendo pelo Paraguai contra a Inglaterra. No Mundial da Itália, em 1990, vivia o tudo de bom e tudo é novidade bacana do primeiro ano da faculdade, já trabalhando na área. O jeito foi fazer do velho radinho de pilha de guerra e de tantas outras emoções futebolísticas o companheiro de mais algumas horas. Inventei também trabalhos acadêmicos que tivessem estreita relação com a Copa. Aí já era necessidade, questão intelectual. Argumento irrefutável. Era preciso ver os jogos. Em 94, a Copa, imaginem vocês, concorreu com o Trabalho de Conclusão de Curso. O Brasil foi tetra, realizei o sonho de ser jornalista. Para não perder as partidas da Copa da França, recorri a vários estratagemas - um pedacinho do jogo na televisão do restaurante na hora do almoço, continua no radinho, vê mais um tanto na TV instalada na sala de cursos do Sindicato dos Professores (onde eu trabalhava). Valia até, antes de pegar ônibus ou metrô, parar nos pontos de táxi que tinham televisão - com direito à participação, óbvio, em acaloradas e populares mesas-redondas que surgiam espontaneamente, improvisadas. Até os motoristas davam pitacos e esqueciam dos passageiros que, aflitos, solicitavam corridas. A de 2002 foi especial - Luiza era recém-nascida, acordava durante a madrugada para mamar, precisava ser trocada. Era o álibi que eu precisava para ver todos os jogos - de certa forma, ela viu comigo. Até com Tunísia x Japão nos divertimos! Nos dois Mundiais seguintes, ralei duro para combinar os jogos com a responsabilidade das correções de provas e o fechamento do semestre letivo. É a situação agora novamente (re)vivida - quando a Copa começar, estarei justamente em semana de vista das avaliações e, em seguida, de realização das substitutivas e dos exames. Já sentei como Daniel para analisar a tabela e montar o nosso cronograma. Está tudo milimetricamente calculado. Vamos ver os 64 jogos. Antes disso, caramba, meu dilema imediato: o jogo de hoje do Brasil. Como encrenca pouca é bobagem, terça-feira ainda é dia de rodízio. Estou pensando em sair de casa pouco antes das quatro da tarde, carregando o celular que tem televisão. Minúscula, mas quebra o galho. Preciso lembrar de carregar a bateria. Posso recorrer ao rádio do carro também. Primeiro tempo resolvido. Em condições normais de temperatura e pressão, chego na universidade a tempo de ver inteirinho, pela TV, o segundo tempo. A aula começa só às 19h. Só não vai dar para participar das conversinhas depois do jogo. Fica faltando um pedaço. Se bem que tem programa esportivo começando entre onze e meia-noite, quando estou de volta em casa. Posso acompanhar - enquanto acesso o site da FIFA, na tentativa de comprar ingressos para jogos da Copa em São Paulo. Vai dar certo. 

Um comentário:

  1. Entendo e fico satisfeito em seu amor pelo futebol, principalmente quando se trata de Copa do Mundo mas, aceite um só conselho de seu velho pai:Assista os 64 jogos, vibre, comemore, torça mas, cuide-se.Boa torcida e que venha o hexa.beijos.seu pai.

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