segunda-feira, 16 de junho de 2014
16 DE JUNHO - O BOLÃO DO DANIEL
Final de semestre letivo. Aplica prova. Corrige prova. Lança nota. Prepara substitutiva. Começa a pensar nas novas disciplinas. A organização da Copa, no entanto, foi generosa. Tabela padrão FIFA. A semana é curta. Vem aí mais um feriadão. Uruguaios e ingleses prometem tomar conta das ruas de São Paulo. A Vila Madalena vai ferver. Mais ainda. Lá se vai quase uma semana. Ainda não me conformei com as estúpidas ofensas dirigidas à presidenta Dilma na abertura. Típico comportamento dos ressentidos e raivosos, alimentados pelos relinchos de Reinaldos e Rodrigos. O aprendiz de blogueiro do panfleto da Abril, aliás, detonou hoje o "2014" em vermelho que aparece no logo oficial do Mundial. Garante que é mensagem subliminar do PT. O vermelho dos comunistas comedores de criancinhas. Precisa ser internado. E levar com ele todos os insanos leitores. Saiu a primeira parcial do bolão da família. São 24 participantes - além do núcleo específico Marconi Bicudo, irmãos, pais, cunhado, cunhadas, primos, namoradas dos primos, tios, sobrinhos. Diversão que já tem muitas Copas. Tradição. Daniel é a revelação de 2014. Vice-líder. Um só ponto atrás do primeiro colocado. Cravou vários resultados. Menino boleiro colocando medo em gente grande. O pequeno ficou entusiasmadíssimo. Adora uma competição. Ainda mais futebolística. Às vezes exagera. Ontem, no jogo da Argentina, comemorou o gol da Bósnia como se fosse do Santos. Ele tinha 2 x 1; eu, 2 x 0. Matou dois coelhos com um tento só. Tirou o doce da boca do pai - aliás, torceu abertamente contra mim, sem qualquer constrangimento. E avançou firme na tabela de classificação. Saiu correndo pela sala. Parecia o coelhinho das pilhas duracell. Não parava. Estou bem no bolão, estou bem no bolão, cantava. Ria à toa. Tirava sarro. No almoço, hoje, volta da escola, entrou pela porta da sala como um furacão. Nem tirou a mochila das costas. Quanto está o jogo de Portugal? Estou fazendo pontos no bolão? Já estava 1 x 0 para a Alemanha, gol de pênalti, logo no comecinho. Era duelo de uma seleção de um homem só (Portugal de Cristiano Ronaldo, apagadíssimo na Fonte Nova) contra uma legião de craques (Khedira, Lahm, Özil, Kroos, Götze e Müller - que meio/ataque é esse? Covardia). No banco alemão, Miroslav Klose. Torço muito para ele entrar. Marcar dois gols. E arrancar do oportunista Ronaldo global aecista a marca de maior artilheiro das Copas. Daniel senta ao meu lado. Pai, tenho 2 x 0. Estou no jogo. E você? Dei 3 x 1, respondo. Ele faz piada. Xi, dançou. Portugal não vai marcar hoje. A previsão parece se confirmar quando o brucutu Pepe dá um tapão e uma cabeçada no atacante alemão. Expulso. Com justiça. Com um a menos, vem o massacre. O primeiro tempo termina 3 x 0. Alemanha baila. Aula de futebol. Apresentação de favorita. O moleque fica tenso. Já não dá mais para ele cravar. Torço por um gol dos patrícios. Pai, será que alguém tem 3 x 0? Vão me passar? Vou perder a vice-liderança? Que porcaria! Quarto gol da Alemanha no final do segundo tempo. Ele comemora. Boa! Duvido que alguém tenha goleada! Ninguém vai acertar o resultado! Tudo vai ficar igual! Sai gargalhando. Prepara as escalações. E vai jogar mais uma partida de Copa do Mundo de bexiga no quarto. Ouço no rádio que o comércio no entorno do Itaquerão triplicou no dia da abertura. A expectativa é vender e lucrar mais ainda nas próximas partidas. Índice de atraso dos voos é de apenas 4%. Oficialmente. Menos que a média internacional. Padrão para além da FIFA. Imagina na Olimpíada. No Rio, a beleza da festa dos argentinos no Maracanã concorreu com a brutalidade da polícia militar nas ruas próximas. Tiro, porrada e bomba. A PM de Cabral/Pezão imita a PM de Geraldo. E vice-versa. Não sabem como lidar com protestos. A população de São Paulo está com medo da água retirada do volume morto do sistema Cantareira. Mas continua votando no Geraldo. O democrata Aécio persegue e censura jornalistas. Nos gramados, o Mundial é um sucesso. Correspondentes estrangeiros sugerem que é a melhor Copa desde a de 1982, na Espanha. Nas redes sociais, 70% das manifestações na semana passada eram contrárias ao torneio; hoje, 70% são favoráveis. Serve como termômetro de narrativas. Partidas muito boas, seleções ofensivas, baita média de gols. Irã x Nigéria - a exceção a confirmar a regra. Sofrível. De doer. Sono. Mas é Copa. Não desliga a televisão. Trombadas, furadas, empurrões, caneladas, bicudas para a arquibancada. Daniel não perde a chance. Essa Nigéria horrível não faz gol. Vai ferrar o meu bolão. Porcaria de time. Não sabem jogar. Segundo tempo foi no rádio. A brincadeira era narrar em iraniano e em nigeriano, arriscando sotaques de tribos diferentes. Era o que dava para fazer. Já no final, o narrador mandou um "se tirarem as traves, ninguém vai sentir falta". A peleja foi medonha até o fim. Já vi coisas bem melhores nas areias do José Menino, em Santos. Consegui chegar na universidade a tempo de ver o gol relâmpago dos Estados Unidos contra Gana. Trinta e dois segundos. Um dos mais rápidos da história das Copas. Daniel no telefone. Ferrou, ferrou. Vou zerar. Dei vitória de Gana. Estou ferrado. Consegui imaginar o tamanho da tromba. Ouvi - e entendi - os resmungos. Mandei segurar a onda. É só brincadeira. Diversão. Sem estresses. Mais provas (rescaldo da greve dos metroviários na semana passada). Corrigidas. Notas lançadas. Gana foi melhor o jogo inteiro. Pressionou. Mas sem chutar. Ainda marcou belo gol de empate. O zagueirão, últimos minutos, achou que era legal brincar na defesa. Em jogo de Copa. Cedeu escanteio tolo. 2 x 1 Estados Unidos. Esse fui eu que cravei! Cinco pontos no bolão. Assumi a liderança. Daniel está agora em quarto, três atrás de mim. Tudo embolado. Emocionante disputa. Amanhã estreiam duas seleções que prometem fazer boa Copa - Bélgica e Rússia. Acompanharemos. Tem o segundo jogo do Brasil. Daniel quer saber os palpites do meu bolão. Vai secar, claro. Vou lá começar a concentração.
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