sexta-feira, 11 de julho de 2014

11 DE JULHO - MARIN, DEL NERO E CIA - PEÇAM PARA SAIR!

São Paulo, 11 de julho de 2014

À Confederação Brasileira de Futebol,
A/C Sr. José Maria Marin

Prezados,

não tenho procuração de quem quer que seja para escrever. Tampouco pretendo colocar à mesa planos infalíveis do Cebolinha, capazes de convidar o Cascão para dar nó nas orelhas do coelhinho da Mônica ou de enfrentar o pesadelo futebolístico em que vossa senhoria e sua turma nos mergulharam. Acho, no entanto, que expresso de alguma maneira os sentimentos de boa parte dos torcedores brasileiros. Mistura de perplexidade com raiva. Talvez os senhores ainda não tenham tomado pé do tamanho e da gravidade do que aconteceu no Mineirão, na tarde da última terça-feira. Até entendo. Não é para mim, não é do meu perfil (nem para a minha modesta conta bancária), não é do meu gosto, mas deve ser bacana mesmo viver em salões suntuosos, comendo e bebendo do bom e do melhor, em reuniões com executivos e patrocinadores graúdos, sobrenomes que abrem várias portas, em viagens ao exterior, andando de lá para cá em iates luxuosos, jatinhos particulares ou em helicópteros de aliados, participando de negociações que envolvem contratos polpudos. Minha modesta percepção, no entanto, sugere que esse estilo de vida e de administração deve em algum momento ter feito com que perdessem qualquer conexão com a realidade mundana, cotidiana. Fincaram raízes num mundo paralelo, onde tudo é lindo e maravilhoso, mar de bolas rosas, sem conflitos ou dificuldades. Nesse planeta virtual de vocês, o Brasil continua a ser o país do futebol, temos os melhores jogadores e técnicos do planeta, toda a preparação foi muito bem feita, obrigado, e podem todos ficar sossegados, porque já estamos com as duas mãos na taça da Copa de 2018. Somos favoritaços para trazer o próximo caneco! Preparem-se, o hexa vem aí. Já encomendaram até algumas novas versões de "mostra sua força, Brasil e amarra o amor na chuteira", para embalar a cantoria da torcida na Rússia. Sem abandonar, claro, o delicioso "com muito orgulho, com muito amor". Não esqueçam de dizer para esse pessoal já encomendar os ingressos com um tal de Raymond Whelan. Faz preço camarada, entrega em casa. Sigilo absoluto. Se apertar, ele foge. Oportunidade única. Por falar em único, talvez os deuses do futebol, com quem conversei tanto durante essa Copa no Brasil, estejam nos oferecendo a derradeira chance de mudar esse estado das coisas. Último bonde apitando na estação. Desçam imediatamente desse pedestal que os faz intocáveis, meus senhores. Está carcomido, desgastado, caindo de tão podre. Não se sustenta mais. Himalaia é só para as divindades mesmo. Engulam por gentileza essa conversinha mole do "foram só seis minutos de apagão". Não nos tratem como imbecis. A crise de energia do futebol brasileiro é antiquíssima. Não começou com o esgotamento das águas do sistema Cantareira. Não entenderam? O Geraldo pode explicar com mais detalhes. Já está no volume morto. Mas tem desconto para quem gastar menos água. Bonito. Nos gramados, essa crise tem outro nome. Chama-se futebol de improvisos. Muito prazer. Podem chamar também de Futebol Ostentação - não porque desfila dribles e golaços em campo, mas porque se preocupa muito mais com marketing e receitas publicitárias. A força da grana que ergue e destrói coisas belas. Aparências e imagens. Simulacros. Discursos vazios. Slogans e logotipos. Marcas. Como perguntar não ofende, vamos lá: quantos patrocinadores tem mesmo a CBF? Quanto arrecada por ano? Quantos são os compromissos contratuais espetaculares que precisam ser rigorosamente cumpridos? Até quando fornecedores de material esportivo vão continuar definindo nossa agenda de amistosos? Até quando emissoras televisivas vão interromper treinos para garantir mais cinco minutos de fama e holofotes para seus apresentadores paspalhos e seus caldeirões de imbecilidades? Até quando jornalistas que fazem perguntas que 'incomodam' serão tratados a pão e água? Até quando entrevistas coletivas serão espetáculos circenses? Acho que já deu para entender qual é a raiz mais profunda da encrenca. Não? Estrutura. E me desculpe, Dona Lúcia, com todo o respeito que lhe devo, sua carta foi mesmo muito elegante, mas não está tudo bem. Perder de sete da Alemanha numa semifinal de Copa do Mundo não é algo natural, normal. É inaceitável. Vocês, senhores gestores (adoro essa palavra!), estão jogando na lata do lixo a linda história do futebol brasileiro. Viramos motivo de chacotas, no mundo todo. Até o Taiti resolveu desafiar a Seleção para uma pelada. Vá lá, para quem só consegue mesmo enxergar cifrões, talvez seja difícil, bem complicado compreender a importância que a Seleção tem para o povo brasileiro (e uso essa expressão de propósito mesmo, com consciência), o papel que a canarinho cumpre como um dos elementos constituintes de nossa identidade cultural. Nunca antes na história desse país. Precisamos de uma reviravolta de métodos, revolução de mentalidades. E essas mudanças, profundas, doloridas, demoradas, difíceis, que serão marcadas por idas e vindas, não passam por vocês, burocratas da Confederação. Ao contrário - queremos que estejam bem longe. Não atrapalhem. Não temos fórmulas prontas. Mas carregamos conosco todos os sonhos do mundo. O Bom Senso Futebol Clube precisa ser ouvido. Seriamente. Que as ideias de Paulo Andre, Alex, Dida e outros boleiros sejam transformadas em iniciativas concretas. Os feitos da Alemanha devem nos servir como inspiração. Não para copiá-los, mas para traduzi-los para a nossa realidade específica. Só um detalhe, não pode passar batido: dos 23 jogadores convocados pelo técnico Joachim Löw, 16 atuam em clubes germânicos. Dos 23 convocados por Felipão, apenas quatro jogam em times brasileiros. Essa é uma das chaves para desatar o nó. Boas propostas não faltam. Precisamos de gente séria para reuni-las e implementá-las. Humildade e serenidade para reconhecer que paramos no tempo. Não são poucas as seleções que assumiram papel de protagonistas, estão na nossa frente, praticam futebol muito mais moderno. A torcida -  aquela das arquibancadas de cimento, não a de balada - vai precisar ter paciência. Apoiar. Estamos falando em algo para daqui uns dez anos. Mas é preciso dar a largada imediatamente. Por tudo isso, senhores Marin, Del Nero e demais dirigentes e membros da cúpula da CBF, nos façam uma enorme gentileza... Sem querer ofender, como diz o Daniel... Respeitosamente... Vazem! Caiam fora! Sumam! Peguem seus bonés (ou cartolas)! Peçam para sair! Levem com vocês o Felipão, o Murtosa, o Parreira, o Mano, o Tite, o Muricy, o Gallo, o Luxemburgo. Não aceitamos mais do mesmo. Vão aproveitar seus mundos nababescos de sonhos. E nos permitam, apaixonados de verdade pelo futebol, reconstruir aquilo que verdadeiramente nos pertence. Obrigado.

Em tempo - se não servir para mais nada, o texto terá ao menos me permitido desabafar. Estava precisando... 

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