(*) Guto Bicudo, professor de Educação Física
Meu jogo inesquecível de uma Copa do Mundo???? Foi em 22 de
junho de 1986.
Dois dias antes, tinha completado dez aninhos de idade. A
minha festa de aniversário, no entanto, aconteceu no dia 21/6. Foi quando meu
padrinho Galdino me deu de presente uma chuteira do Sócrates e uma camisa
listrada azul e branca...
Me lembro que, nos dias que antecederam esse jogo, via a toda
hora matérias e imagens de guerra entre os dois países e fui me informar sobre as razões de tanta rixa, de tanta falação. Além das Malvinas, descobri que, na Copa de
1966, o jogador argentino Rattin “zuou” a bandeira inglesa e sentou no tapete
vermelho exclusivo da rainha, motivos suficientes para a falação da imprensa,
que usava isso para temperar ainda mais a partida.
Acompanhei a Copa inteira e via a seleção da Argentina
sempre jogando com muita raça e vontade, além de ter um jogador que começava a
chamar a minha atenção: Diego Armando Maradona.
Assisti àquele jogo dos hermanos com meus pais e irmãos e
fui o do contra (rsrs). Todos lá torcendo para a Inglaterra e eu com a minha
camisa azul e branca nova e torcendo timidamente para Maradona e companhia. O estádio
estava lotado, mais de 110 mil torcedores e mais uma coisa começava a mexer
comigo: a torcida argentina. Como gritavam e vibravam! Era também o duelo dos
Barras Bravas contra os Hooligans.
Dentro de campo, um jogo disputado. Eram nítidas a dedicação
e a vontade de ganhar o jogo dos argentinos. Eu só tinha 10 anos de idade, mas
já odiava perder. Qualquer coisa. Melhor, podia até perder, desde que se
lutasse até o fim e ficasse com a camisa suada, assim como os gringos faziam. Se não dá na técnica,
vai na raça.
Fim do primeiro tempo: 0 x 0.
O segundo tempo nem bem tinha começado - e Maradona sobe
para disputar a bola com o goleiro Shilton e “discretamente” usa a mão para
empurrar a bola para o fundo das redes. Ele ainda deu uma olhadinha para o juiz
e saiu para a comemoração (em uma entrevista, mais tarde, ele diria que pediu rapidamente
aos companheiros que o abraçassem, para o juiz cair na manha dele). Os ingleses
reclamaram, mas o gol foi validado. Foi o famoso gol com “a mão de deus”.
Clima quente, jogo tenso. É aí que Maradona pega a bola no
meio de campo e dribla um, dois, três, quatro, cinco, seis jogadores ingleses e
marca um gol fantástico, antológico. Um dos gols mais bonitos que já vi. Gol
que marcou a minha vida, gol que me fez ver aquela seleção, aquele jogador, aquele
país com outros olhos. Era uma seleção que realmente jogava pelo e por seu
país.
Os anos foram passando e aquela torcida tímida passou a ser
uma torcida declarada. Hoje, já não preciso disfarçar mais (para a “alegria”
dos meus irmãos rsrs). Devo ter sido portenho na outra encarnação...
Ah, depois daquele golaço, a Inglaterra ainda cresceu no
jogo e fez um gol. A Argentina segurou o resultado e venceu a “guerra”, comemorando
muito aquela vitória. Para eles, aquele jogo valia mais do que a própria Copa.
Argentina classificada para a semi-final (contra a Bélgica)
e depois para a final, contra a Alemanha. Foi mais um jogo inesquecível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário