Eram 11h20 quando fechei o jornal e olhei no relógio. Se eram 11h20, eu estava no avião, sentadinha no meu lugar, havia uma hora, tempo suficiente para alguém dar uma informação mais substanciosa e precisa sobre por que ainda não havíamos levantado do solo paulista. O voo estava marcado para 8h. O Santos Dumont reabrira - depois de uma manhã caótica - às 10h. Embarcamos 10h20. E passados 60min, nenhuma previsão de partida.
Enquanto me levantava e percorria as 12 fileiras de poltronas (com um ou outro lugar vago, mas de um modo geral, preenchidas) até chegar à frente do avião e perguntar à comissária quanto tempo mais levaria aquela espera, me dei conta que as pessoas não estavam, ou ao menos não pareciam, nem um pouco incomodadas com a espera, com o atraso, ou - me custa acreditar - com a falta de informação.
Na minha família de origem - vá lá, talvez seja um desvio de formação - não ter informação sobre algum acontecimento que nos toca diretamente é imperdoável. É uma afronta a um direito básico. Estar bem informado, com informações de qualidade e confiáveis é um direito. Assim me foi ensinado e assim procuro ensinar meus filhos.
No entanto, as comissárias na aeronave e os homens de solo responderam a todas as perguntas com evasivas. Eram genéricos, repetiam incansavelmente as respostas que nada informavam. Alguma previsão para a abertura do Santos Dumont? "Não senhora. São problemas meteorológicos/metereológicos" (Aqui variavam no português). É possível desviar o voo para o Galeão? "Nenhum voo está sendo alternado, senhora". Mas nem diante dessa confusão? Não seria prudente enviar algumas aeronaves para lá? "Nenhum voo está sendo alternado, senhora". O voo 3908 já começou o embarque? "3900 e 3904 aqui nessa fila, senhora". Mas e o 3908? "3900 e 3904 aqui nessa fila, senhora". Depois de embarcarmos, qual é a previsão de saída do voo? "Estamos esperando o embarque terminar". Sim, mas a que horas está prevista a decolagem? "Estamos esperando o embarque terminar". Comissária, 1h de espera dentro do avião. Alguma previsão? "Estamos esperando o embarque terminar".
Foi aí que eu me dei conta de que informação é uma moeda quase sem valor para uma parcela significativa da população, que não treme de indignação diante das tentativas de ludibriá-la. Ora, bolotas, em sã consciência, quem acredita que o piloto não sabe mesmo que horas vai partir? Eu duvido. Quem acredita que as comissárias não têm essa informação? Eu não acredito. E me enche de raiva reparar que, de verdade, tanto faz como tanto fez para os passageiros ali acomodados. Gente... Como assim? Ao menos saber o que estão prevendo para a sua vida, não?
Acho que não é o fato de eu vir de uma família de jornalistas e comunicólogos que me faz indignar diante de situações assim. É a ideia de que a transparência é um valor a ser cultivado. Ela toca diretamente um trocinho - sagrado para mim - chamado dignidade. Um doente tem o direito inviolável de saber de seu estado de saúde. Ninguém lhe pode negar. Um cidadão, da mesma forma, tem o direito constitucional de saber o que estão fazendo com os votos que ele depositou na urna, ao aderir a uma ou outra proposta. E a um cliente está assegurado o direito de conhecer em que pé estão os negócios.
Não consigo entender que meu destino e minhas escolhas estejam nas mãos de alguém e eu não tenha o menor poder de interferência. Pois é a isso que estamos acostumados neste país. As decisões pequenas e grandes que mudam e moldam nossas vidas não nos interessam. Somos absolutamente blasès diante delas. Tanto faz.
E não vai adiantar nada vociferar na rua que se quer um país diferente se, na gestão da própria vida, os cidadãos de bem, aqueles que pagam seus impostos e que votam, sabe?, erguem a velha bandeira do "me ne frego", algo como "pouco me importa, estou me lixando".
Vou aceitar feliz se os leitores me disserem que estou equivocada e que o comportamento estava restrito àquele voo que não decolou, ou no qual eu não decolei, porque me cansei e fui embora. Tomara que eu esteja errada, mas não é o que tenho visto.
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