(*) Luiz Paulo Montes, jornalista
Primeiramente, obrigado ao Chico, meu querido primo e inspiração para a
minha carreira de jornalista, pela oportunidade de escrever aqui a respeito de
uma partida memorável de Copa do Mundo. É
um prazer dividir as minhas lembranças com todos vocês. Espero que gostem!
A madrugada do dia 30 de junho de 2002 foi uma das mais longas da minha
vida. O tempo não passava. Chegava a Copa de 2006, mas não chegava 6h30 para eu
acordar, colocar o uniforme e ficar angustiado antes do jogo. As horas que
antecediam Brasil x Alemanha, pela final da Copa, pareciam meses, anos. Durante
a madrugada, acordei diversas vezes. Uma agonia.
Levantei da cama com os gritos de minha mãe. Admito, sempre dei trabalho para levantar, mas neste dia pulei rapidinho. A camiseta estava separada no cabide, como havia feito em todos os outros jogos, mesmo que, no dia seguinte, ela fosse comigo, na mochila, para a escola. Era um ritual, pé-de-coelho, seja lá o que for. Estava dando certo.
Levantei da cama com os gritos de minha mãe. Admito, sempre dei trabalho para levantar, mas neste dia pulei rapidinho. A camiseta estava separada no cabide, como havia feito em todos os outros jogos, mesmo que, no dia seguinte, ela fosse comigo, na mochila, para a escola. Era um ritual, pé-de-coelho, seja lá o que for. Estava dando certo.
Uns dias antes ficou combinado que eu, meus pais, meu irmão e a
namorada dele na época iríamos assistir à partida na casa de meus tios, Chico e
Stella Maris. Guardei para mim, mas não fiquei feliz. A companhia era ótima,
risadas garantidas se ganhássemos, abraço de conforto se o Brasil fosse
derrotado. Mas não me agradava mudar a rotina. Os outros seis jogos até a final
eu assisti em casa, pelo menos um tempo. Por que mudar justo no mais importante
duelo? Paciência. Seja o que Deus quiser. Meu pai acho que teve o mesmo
pensamento que eu, e resolveu ficar em casa.
Saímos de casa um pouco atrasados (claro), mas não sem antes pendurarmos uma enorme bandeira do Brasil, que meu pai havia comprado antes do início da Copa, no lado de fora do carro. Não havia viva alma nas ruas de São Paulo. Ruas desertas. Olhava para o relógio e via o horário da partida se aproximar. E nada de chegarmos. Farol vermelho aqui, farol vermelho ali. 8h em ponto chegamos e, enquanto minha mãe estacionava o carro, ouvimos o comecinho pelo rádio. Que agonia... “E agora, e se sair gol enquanto estivermos no elevador? Todos vão gritar e vou saber antes”, pensava.
Saímos de casa um pouco atrasados (claro), mas não sem antes pendurarmos uma enorme bandeira do Brasil, que meu pai havia comprado antes do início da Copa, no lado de fora do carro. Não havia viva alma nas ruas de São Paulo. Ruas desertas. Olhava para o relógio e via o horário da partida se aproximar. E nada de chegarmos. Farol vermelho aqui, farol vermelho ali. 8h em ponto chegamos e, enquanto minha mãe estacionava o carro, ouvimos o comecinho pelo rádio. Que agonia... “E agora, e se sair gol enquanto estivermos no elevador? Todos vão gritar e vou saber antes”, pensava.
Chegamos ao 9º andar, que, àquela altura parecia que era 28º, e antes de
cumprimentar a todos corri para ver se estava 0 a 0. Estava. “Bom dia, bom dia,
bom dia”. Uma mesa repleta de guloseimas estava pronta para o café da manhã.
Comer? Só depois do jogo. Tratei de achar um lugarzinho no chão, sentado bem de
frente para a TV.
O trio Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo estava muito bem marcado pelos rivais, e pouco criavam. Jogo equilibrado, parelho. Claro, final de Copa. O Fenômeno perdeu duas chances de gol no primeiro tempo, que me fizeram soltar palavrões e xingamentos. Em um deles, tomei uma bronca: “Olha a boca, Luiz Paulo”, brigou minha mãe. “Oras, é final de Copa. Não enche”. Kleberson chutou uma bola perto do gol, uma na trave, e Ronaldo perdeu um gol cara a cara no último minuto. “A bola não entra. Goleiro desgraçado!”. Fim de papo. Faltavam 45 minutos, eu estava impaciente...
Passamos o intervalo conversando, discutindo os melhores lances, palpitando e pitacando. Tomei um copo de Coca Cola, levei outra bronca (“Refrigerante a esta hora? Que bonito...”), e, de novo, sentei no meu lugarzinho. Faltavam 45 minutos. Eu queria ver o segundo título da seleção (em 94 tinha apenas quatro anos, mas lembrava direitinho da partida, inclusive da ordem e acontecimentos da disputa de pênaltis.)
O trio Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo estava muito bem marcado pelos rivais, e pouco criavam. Jogo equilibrado, parelho. Claro, final de Copa. O Fenômeno perdeu duas chances de gol no primeiro tempo, que me fizeram soltar palavrões e xingamentos. Em um deles, tomei uma bronca: “Olha a boca, Luiz Paulo”, brigou minha mãe. “Oras, é final de Copa. Não enche”. Kleberson chutou uma bola perto do gol, uma na trave, e Ronaldo perdeu um gol cara a cara no último minuto. “A bola não entra. Goleiro desgraçado!”. Fim de papo. Faltavam 45 minutos, eu estava impaciente...
Passamos o intervalo conversando, discutindo os melhores lances, palpitando e pitacando. Tomei um copo de Coca Cola, levei outra bronca (“Refrigerante a esta hora? Que bonito...”), e, de novo, sentei no meu lugarzinho. Faltavam 45 minutos. Eu queria ver o segundo título da seleção (em 94 tinha apenas quatro anos, mas lembrava direitinho da partida, inclusive da ordem e acontecimentos da disputa de pênaltis.)
A etapa final começou tensa. A Alemanha, em três minutos, tinha chegado muito perto de marcar. “Sai, sai, saaaaaaaaaaaaaaaai”. O clima na sala da minha tia estava tenso. Comecei, internamente, a pensar: “Eu deveria estar na minha casa. Por que inventamos de sair de lá? P... q...p...”. Ufa, a pressão deles passou. “Calma, Brasil. Tem que jogar direito!” E o tempo passava..
“Ai, vou ao banheiro”, disse a então namorada de meu irmão, lá pelos
20 minutos. Sábia decisão. “Rivaldo abriu espaço, bateu pro gol, Oliver
Kahn, Ronaldinho bateeeeu”.. GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL! GOOOOOOOOOOOOOOOOOL! Pulei,
abracei meus primos, tios. Uma festa só. Opa, a Bruna estava no banheiro. Antes
que eu falasse, alguém soltou: “A Bruna vai ficar no banheiro até o fim do
jogo. Pé fria. Fique lá, de porta fechada”.
Cornetas (não eram Vuvuzelas), gritos, chapéus. Estávamos comemorando. Mas ainda faltavam 25 minutos de jogo quase. O time da Alemanha era bom, bem arrumado, tinha Klose, matador. Nada estava ganho. E eles foram com tudo para cima. Roque Junior, Edmilson e Lúcio era um trio que me dava medo, mas estava bem, seguro. O relógio, que não passava de madrugada, voltou a ficar lento. Olhava de tempos em tempos, achando que 10 minutos se passaram, mas tinha sido apenas míseros 60 segundos.
“Vamos, vamos fazer o segundo. Vai Lúcio, cuidado aí meu filho. Não perde a bola. Vai Lúcio. Solta essa merda, Lúcio. Vai, vai, vai. Uuuuuuh. Agora volta para marcar!!!!!”. O zagueirão (que eu viria a xingar 11 anos depois), curtiu uma de ponta direita, fez uma linda jogada arrancando do meio-campo, até chegar na lateral da grande área e cruzar. A zaga afastou.
Cornetas (não eram Vuvuzelas), gritos, chapéus. Estávamos comemorando. Mas ainda faltavam 25 minutos de jogo quase. O time da Alemanha era bom, bem arrumado, tinha Klose, matador. Nada estava ganho. E eles foram com tudo para cima. Roque Junior, Edmilson e Lúcio era um trio que me dava medo, mas estava bem, seguro. O relógio, que não passava de madrugada, voltou a ficar lento. Olhava de tempos em tempos, achando que 10 minutos se passaram, mas tinha sido apenas míseros 60 segundos.
“Vamos, vamos fazer o segundo. Vai Lúcio, cuidado aí meu filho. Não perde a bola. Vai Lúcio. Solta essa merda, Lúcio. Vai, vai, vai. Uuuuuuh. Agora volta para marcar!!!!!”. O zagueirão (que eu viria a xingar 11 anos depois), curtiu uma de ponta direita, fez uma linda jogada arrancando do meio-campo, até chegar na lateral da grande área e cruzar. A zaga afastou.
Estava amadurecendo o segundo gol. E se não saísse, não tinha problema.
Não podia tomar outro. A presença da ex-cunhada me intrigava. “Catso, quando
ela saiu foi gol. Está na cara”. Só tirei aquilo da cabeça quando Ronaldo fez o
segundo. Méritos de Roque Junior, que afastara uma bola de cabeça no campo de
defesa, de Kleberson, que puxou o contra-ataque, e de Rivaldo, que fez um
corta-luz lindo. O camisa 9 bateu com precisão, perfeição, classe, categoria.
GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL!
Ameacei puxar um “É campeão”, mas fui repreendido. Não me lembro por quem, mas ouvi um “calma, calma, faltam pelo menos 10 minutos”. E olha que os gringos deram um sufoco danado. Marcos fez linda defesa, os caras chutaram, cabecearam, tentaram de todas as maneiras Mas tudo conspirava para nós. “Acabou, juiz. Acabou!!!!!!! Acaba, sem vergonha. Segura a bola aí, Denilson. Segura, segura. Falta, juiz! Acabooooou!!!!!!!!!!!”
“Chora agora goleiro de merda, chora. Melhor da Copa é? É campeão!!!!!!!!”, gritava, olhando para a televisão que mostrava o desolado Oliver Kahn, ajoelhado no gramado e com cara de vocês sabem o que”. Comemorei, abracei a todos, brinquei com a cunhada. Peguei o telefone e liguei para o meu pai, que, a essa altura, chorava bastante. “É campeão, pai!”. “Seu avô deve estar muito feliz”, disse ele, lembrando de seu pai. “Um beijo, pai. É campeão”.
E lá fomos nós, tomar café da manhã. Depois de fazermos festa, comemorar, soprar a corneta, pegamos o carro, coberto pela bandeira, e voltamos para casa. Buzinando, como todos na rua, e comemorando. Que venha o hexa!'
Ameacei puxar um “É campeão”, mas fui repreendido. Não me lembro por quem, mas ouvi um “calma, calma, faltam pelo menos 10 minutos”. E olha que os gringos deram um sufoco danado. Marcos fez linda defesa, os caras chutaram, cabecearam, tentaram de todas as maneiras Mas tudo conspirava para nós. “Acabou, juiz. Acabou!!!!!!! Acaba, sem vergonha. Segura a bola aí, Denilson. Segura, segura. Falta, juiz! Acabooooou!!!!!!!!!!!”
“Chora agora goleiro de merda, chora. Melhor da Copa é? É campeão!!!!!!!!”, gritava, olhando para a televisão que mostrava o desolado Oliver Kahn, ajoelhado no gramado e com cara de vocês sabem o que”. Comemorei, abracei a todos, brinquei com a cunhada. Peguei o telefone e liguei para o meu pai, que, a essa altura, chorava bastante. “É campeão, pai!”. “Seu avô deve estar muito feliz”, disse ele, lembrando de seu pai. “Um beijo, pai. É campeão”.
E lá fomos nós, tomar café da manhã. Depois de fazermos festa, comemorar, soprar a corneta, pegamos o carro, coberto pela bandeira, e voltamos para casa. Buzinando, como todos na rua, e comemorando. Que venha o hexa!'
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