Eu sei, corro risco de apanhar um tanto. Mas às vezes é preciso dar a cara a tapa, assumir posições que talvez não representem "a maioria". Tem me incomodado bastante um burburinho que começa a surgir por conta do filme "O renascimento do parto", que chega na semana que vem aos cinemas. Atenção: não vi o filme, apenas o trailer, e minha crítica portanto não é ao documentário, mas à repercussão feita a partir de textos, posts e falas.
Sou fervorosa e apaixonadamente favorável ao parto normal, que certamente guarda todas as vantagens possíveis e imagináveis, em relação à cesariana. É menos invasivo. Sabe respeitar o tempo do bebê. É o ritmo da natureza. É preciso lembrar ainda que o Brasil é atualmente, segundo a Organização Mundial de Saúde, o campeão mundial de cesáreas (em hospitais particulares, chegam a representar 80% dos partos).
Uma parcela considerável dessas cirurgias poderia certamente ser evitada. São intervenções desnecessárias. Dão conta de caprichos daqueles que querem escolher quando vão nascer os bebês, porque há datas simbólicas que pretendem homenagear; há quem não queira sentir dor, vamos rápido com isso. Os planos de saúde pressionam, em evidente processo de mercantilização da medicina, porque cesareanas movimentam mais suas caixas registradoras e departamentos financeiros. Há médicos que preferem comodidade - escapam do inesperado, resolvem a questão rapidamente (o parto normal é sempre uma surpresa, pode demorar um tempão), não perdem outras consultas em seus consultórios (e grana polpuda). É fundamental esclarecer, usando as mais diferentes estratégias e recursos (escolas, campanhas, redes sociais...), as vantagens do parto normal. Falo de uma quase revolução de mentalidades. São as minhas premissas. Até aqui, tudo sossegado.
Agora vem a parte chata: recuso também com veemência certo discurso fundamentalista e intolerante, que só faz excluir e demonizar as mães que têm seus bebês por meio de cesarianas, como se fossem, essas mulheres, mães desnaturadas, quase criminosas, a jogar sobre as costas delas imensa carga de culpa e remorso, a construir certa imagem pública que nas entrelinhas diz que "são menos mães que aquelas que tiveram parto natural". Seriam "mães de segunda categoria", estariam num patamar inferior. Acho lamentável que essa contaminação de "tudo ou nada", o Fla x Flu que marca tantos outros debates de nossa sociedade, atinja e dê o tom de mais essa discussão. A saber - entre os extremos, há muito mais que cinquenta tons de cinza, não? Será que conseguimos escapar desse maniqueísmo que contempla (falsos) mocinhos e (também falsos) bandidos?
A cesariana, afinal, é mais um recurso que a medicina coloca à disposição das mulheres - e há casos, muitos casos, em que é insubstituível, procedimento fundamental, obrigatório para garantir a vida do bebê, da mãe - ou dos dois. É sinônimo de vida - não motivo para execração pública. Quando a pressão arterial sobe, nos últimos dias de gestação, e a mulher não dá qualquer sinal de contração, quando o bebê continua lá, quietinho, corre-se o risco de manifestação de um quadro de eclâmpsia. Vale insistir? Quando a bolsa estoura e, mesmo depois de muitas horas de paciente espera, a mulher não tem dilatação suficiente, o caminho fica aberto para infecções, que podem ser gravíssimas. Fatais. Tudo em nome do parto natural?
E será que as mães que precisaram recorrer à cesárea amam menos seus filhos? Guardam com os bebês relações de afetos menos intensos? Foram essas crianças menos desejadas, recebidas com indiferença? Não é cruel fazer dessas mulheres vítimas de modelos absolutos, implacáveis, de fórmulas infalíveis e truculentas até, ainda mais em momento em que estão muito mais frágeis, a exigir - e precisar receber - justamente carinho, cuidados especiais e atenção? Sim, o parto normal deve ser prioridade. Mas, quando ele não é possível, considerando princípios de saúde, a valorizar a vida, não pode significar imediatamente ataques e apedrejamentos de mulheres que precisaram recorrer à cesariana.
Que as patrulhas comecem a atirar as pedras.
Professor, adorei seu texto. Quando engravidei vive bem essa pressão de "o que" ou melhor "como será" o parto. Sempre optei pelo normal, pelos motivos já citados, mas não entrei na nóia que muitas mulheres entram quando "decidem" que tem que ser normal. Você não tem controle assim do seu corpo, você pode se planejar e ir tudo por água abaixo. Mas posso afirmar que ainda tem muita falta de informação sobre o assunto e alguns tabus que deveriam acabar.
ResponderExcluirTive o Pedro no São Luiz, quando fui tirar dúvidas com uma das atendentes da parte da maternidade e disse que seria parto normal a primeira coisa que ela me disse foi: Que coragem! - Fiquei pensando: coragem é entrar na faca, cortar camadas e camadas de tecido...
Depois vi de perto mães que agendavam o nascimento, fiquei com uma sensação horrível sabe? Senti como se fosse agendar uma viagem, verificar o melhor hotel, o horário do check inn, bizarro, filhos se tornaram negócios e status.
Outra coisa machista que escutei foi "que ia estragar o brinquedo" OI??? Primeiro que isso é muito machista e segundo que para os mais desinformados é feita uma plástica na hora na vagina da mulher, sendo assim não sofre nenhum dano, é vale lembrar que estamos falando de músculos e que se não fosse natural não chamaria parto normal.
Acho que usei seu espaço pra fazer um desabafo! Rs mas digo sempre que eu não senti dor, mas tive sorte, e que eu pretendo ter o segundo filho e fazer o mesmo, se não for possível, só tenho uma certeza: a chegada dele não será agendada como uma conta no débito automático.
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ExcluirProfessor, não vou atirar pedras. essa questão é extremamente complexa e multifatorial. O problema é que esta alta taxa significa alta mortalidade. e tbm existe um mito social de que o parto normal é doloroso, ruim, etc. aí tbm acontece que muitas cesarianas são mal indicadas,e a mulher não sabe disso e faz a cirurgia. eu pessoalmente e acredito que muitas outras ativistas não culpamos as mulheres, mas realmente é preciso uma conscientização sobre este momento e suas interferências feitas as vezes desnecessariamente, o que sempre acaba atrapalhando o andamento do parto. A crítica é que se mudem os protocolos, que deixe de ser um atendimento mecanico e se passe a olhar cada mulher e bebe como únicos, pois parece ser "mais um" mas para aquela mulher é o momento único e mais importante de sua vida. não fique chateado com as ativistas, a luta é por um sistema de saúde de qualidade que contemple a todas as mulheres e bebes , da forma que for melhor para todos, diminuindo-se os altos indices de mortalidade e internaçõs neonatal e maternos.
ResponderExcluirPrimeiramente é importante informar-se melhor sobre o assunto que deseja abordar. Pressão alta não é indicação de cesárea, na realidade a Medicina baseada em evidências nos mostra que a cesárea aumenta os riscos para a mãe. Pode-se induzir o parto, inclusive com métodos naturais. Sobre várias horas de bolsa rota a mãe pode tomar antibióticos e continuar seu trabalho de parto tranquilamente. Cada mulher deve escolher o que julga ser melhor pra si e para o bebê. Mas a maioria Não sabe exatamente o que está escolhendo. Essa é a questão. Nunca houve guerrinha.
ResponderExcluirMari Vilhena, muito obrigado pela contribuição. Pode ficar sossegada - nem me atrevo a escrever sem antes buscar informações sólidas a respeito do assunto que pretendo abordar. Dever ético de ofício. Você pode discordar, legítimo e democrático. Respeito. Só não é adequado sugerir que não há informação sustentada. Guerrilha? Existe. Eu a conheço bem. Abraços.
ResponderExcluirFrancisco, sugiro então que procure fontes mais seguras para sua pesquisa, pois diante de seus argumentos ficou clara a desinformação. Não discordo baseada no achismo, mas sim em evidências científicas. Se você procurar pelo tema no Google acadêmico poderá encontrar facilmente estudos que comprovam que o parto natural é muito mais seguro.
ResponderExcluirMariana, as fontes e evidências científicas que sustentam meus argumentos são bastante confiáveis e seguras. Talvez sejam apenas diferentes daquelas que amparam seu raciocínio. Veja, não há aqui juízo de valor - disse diferentes. Por essa razão, refuto o rótulo da desinformação. Serve apenas para desqualificar o debate. Talvez eu pudesse fazer o mesmo. Veja só o que escrevi, logo no começo do texto: "Sou fervorosa e apaixonadamente favorável ao parto normal, que certamente guarda todas as vantagens possíveis e imagináveis, em relação à cesariana". Não neguei, portanto, que o parto normal é mais seguro, como você sugere no seu comentário. Ao contrário. Só discordo da defesa fundamentalista que se faz dele. De forma coerente, retomo o final do texto: "Sim, o parto normal deve ser prioridade. Mas, quando ele não é possível, considerando princípios de saúde, a valorizar a vida, não pode significar imediatamente ataques e apedrejamentos de mulheres que precisaram recorrer à cesariana". É isso. Abraços.
ResponderExcluirEspero que Ana Cris não se importe, mas vou compartilhar um texto brilhante dela sobre o assunto pra você ler, Francisco.
ResponderExcluir"Eu fiz cesárea, mas não sou menos mãe!
Você mulher, mãe, que teve uma cesariana (necessária ou não) quando teve seu(s) bebê(s), antes de mais nada queria lembrar que nós sabemos que você é uma mãe maravilhosa, competente, amorosa e tão boa quanto qualquer outra mãe boa. A via de parto não nos faz mais ou menos mães, mais ou menos mulheres, mais ou menos seres humanos. Eu tive uma cesariana há 15 anos, um parto normal há 12 anos, e me considero uma mãe boa o suficiente para ambos. E não amo um mais que outro.
Mas minha amiga, quando você ler uma mulher dizendo “O parto normal me fez mais mulher” ela não está dizendo que a tua cesárea te faz “menos mulher”. Ela quer dizer que o parto fez ela se sentir mais mulher do que ela se sentia antes, ou de que ela se sentia se ela tivesse feito uma cesariana. Ela não está criticando você ou as suas escolhas. Ela está comemorando suas próprias conquistas, só isso!Quando ela diz “quando eu dei à luz, eu me senti muito mulher, muito feminina, muito poderosa” ela não está dizendo que a gente, por ter feito cesariana, é menos mulher, menos feminina, menos poderosa. Ela está falando só dela, não da gente, entendeu?
Concordo que se ela entrar em qualquer terreno seu, e se dirigir a você como uma pessoa inferior, daí não tem jeito mesmo, a pessoa está sendo estúpida. Mas em geral não é isso que a gente vê. Eu não costumo ver mulheres “cesareadas” como nós, sendo acusadas de sermos mães de pior qualidade. A cesariana no Brasil já é uma realidade, eu e você fazemos parte da maioria esmagadora! Ela, a sua amiga que quis e/ou teve um parto bacana, ela é pequena minoria e apenas está feliz por ter conseguido atingir seu sonho.
Todos esses movimentos que a mulherada está fazendo pelo direito ao parto natural, direito ao parto em casa, não dizem respeito a você e às suas escolhas. Elas dizem respeito a elas! Em nenhum cartaz ou fala você verá escrito “Proíbam as cesarianas, proíbam as escolhas pelas cesarianas, proíbam as mulheres de optarem pelas cesarianas, não queremos mais cesáreas que salvem vidas“. Essas mulheres querem que todas as mulheres tenham a chance de experimentar o que elas viveram, caso elas assim o desejem. Nunca ninguém desejou que o parto normal, ou natural, ou domiciliar, venha a ser algo obrigatório.
continuando...
ResponderExcluirPor outro lado, uma coisa é certa: quando essas mulheres “xiitas” veem um relato de cesariana onde a mãe disse que fez a cirurgia salvadora porque tinha pouco líquido, ou cordão no pescoço, ou pé na costela, elas comentam mesmo, elas falam que isso não é indicação de cesariana. Você também chiaria se alguém fosse fazer uma cirurgia de varizes preventiva porque um dia vai que aparece uma variz, então é melhor operar. Cirurgias desnecessárias são uma questão importante em termos de saúde pública.
Só que, amiga, entenda, ela não está dizendo que você é uma mãe inferior! Ela está dizendo que seu médico fez uma cirurgia que não era necessária, só isso. Em nenhum momento ela está te julgando incompetente por ter aceitado a cirurgia proposta pelo seu médico, ainda mais com essa ameaça de que o bebê vai morrer ou sofrer. Em outras palavras, ela apenas está dizendo que sua cesariana não teria sido feita em nenhum país onde a saúde é levada a sério. Só no Brasil se opera com essas desculpas, e daí chegamos nos 94% do Hospital Santa Joana, por exemplo. A questão é de população, não de você.
Via de parto é apenas isso: via de parto. Não diz nada de qualidade de maternagem. Suas amigas “xiitas do parto natural” sabem que você é uma boa mãe. Também sabem que o parto normal não garante uma boa mãe (e vice versa). Não se ofenda quando você ler um post no perfil da sua amiga dizendo: “Eu quero ter direito à escolha“. Ela está falando apenas dela, e não de você.
Quando você se sentir enraivecida com essas notícias, posts, relatos e matérias sobre parto normal, natural etc., olhe para dentro de você e tente entender porque é que você ficou tão brava, tão chateada, tão mexida. Eu já fiz esse exercício diversas vezes e descobri coisas incríveis. Não perca essa oportunidade.
Palavra de Parteira!
* Ana Cristina Duarte é obstetriz, ativista do movimento de Humanização do Parto e mãe de Julia e Henrique."
Pelo jeito você é mais um dos que confundem "parto normal a qualquer custo" e "nascimento pela via que apresentar melhor relação risco x benefício para mãe bebê". Ativistas não defendem parto normal pq ele é fofo e bonito, defendem pq ele é mais seguro e traz mais benefícios, "só" por isso... Só que num país com obstetrícia viciada na "cesárea segura" como o nosso, tudo virou indicação de cesárea (como as duas supostas indicações que você citou), vc não precisa acreditar em mim, vc pode apenas perguntar a amigos (as) que moram em países com obstetrícia séria como Inglaterra ou Holanda se alguém já ouviu falar de cesárea indicada por pressão alta ou muito tempo de bolsa rota... Se interessar a leitura, blog de uma obstetra e pesquisadora com lattes extenso e respaldo em evidências científicas sólidas, sobre pressão alta x cesárea: http://estudamelania.blogspot.com.br/2013/05/revista-caras-nao-e-indexada-nem-tem.html
ResponderExcluirhttp://estudamelania.blogspot.com.br/2013/05/morte-materna-na-novela-da-globo-o-que.html
http://estudamelania.blogspot.com.br/2012/10/estudando-hipertensao-na-gravidez-parte.html
Assisti ao filme. Sou a favor do parto normal. Queria ter tido minha filha por vias normais, o que não foi possível, pois minha bolsa estourou às 2 da madrugada e 12 horas após ter estourado eu só havia dilatado 1 centimentro, mesmo tendo tomado ocitocina por 3 horas. Minha médica decidiu pela cesária. Quem iria contra seu médico em uma hora dessas? o que uma mãe quer nesse momento é seu filho são e salvo. Nesse momento os ideais pelo parto normal deixam de ser prioridade. Vale o risco??? Depois que a criança nasce e que vc vê que está tudo normal, aí vem a decepção, a culpa e a frustração do parto não ter sido normal. Mas e se tivesse sido normal e a criança sofresse algum problema??? Se nascesse morta ou com algum problema mental ou mesmo com uma infecção??? Nunca vou saber o que teria sido melhor para a minha filha. Dois anos se passaram e eu fui assistir ao filme. O filme acabou comigo. Me fez sentir a última das mulheres, a pior mãe. Como se eu tivesse feito o maior mal pra minha própria filha e pra humanidade... me fez sentir enganada pela minha médica. O filme é apelativo. Chega a dizer que a falta de amor na humanidade poderia estar relacionando com as cesárias. Faz uma apologia de transtornos mentais, anorexia à falta do hormônio do amor que é liberado no parto normal. Enfim... o filme tem o lado válido, que tem como objetivo fazer uma campanha a favor do parto normal, mas também é bastante apelativo e me fez sentir muito, muito mal, talvez sem necessidade. Chorei horrores durante o filme, depois e voltei a sentir algo muito parecido com o baby blue que tive após o nascimento da minha filha. Foi um reviver muito doloroso.
ResponderExcluirFernanda, minha solidariedade. Foi exatamente esse aspecto que tentei apresentar e discutir por aqui. Abraços, Chico.
ResponderExcluirTambém sou contra esse fudamentalismo, totalmente contra , até mesmo na Holanda que apresenta um dos menores indices de cesária do mundo há algo em torno de 14 por cento. Uma vez vi um comentário no youtube onde uma mulher defendeu a fórceps e intervenções dolorosas e invasivas e disse que deveriam proibir a cesária . Isso pra mim é um total nazismo. A OMS reconhece a necessidade da cesária para salvar vidas e a cesária reduziu sim a mortalidade materna na face da terra , pessoas que de outro modo morreriam. Além do mais parto normal hospitalizado está no Brasil longe de ser algo natural e muitas mulheres tem sofrido grandes traumas dada a intromissão tecnologica quando ela não é necessária. O parto normal natural acontece com a força da natureza e da mulher, ma vamos pra maternidade parir com medo porque sabemos todo sofrimento a que a medicina nos submete como a mutilação da vagina no parto normal. A episotomia nunca foi recomendada pela OMS, o que justifica o seu uso. Por que os médicos querem controlar nosso fazendo com que fiquemos travadas de medo por uma ameaça real . Eu dilatei 6 cm em casa pra ter minha filha sem nenhum sofrimento, comi andei conversei mas chegando no hospital eu não parecia eu, num lugar gelado, nua de minha roupas cercada de estranhos não me senti segura , soros jejum forçado, enfermeiras brutas e a sensação de abandono, invasão desrespeito e morte eu só queria que aquele dia acabasse , fiquei mais de 24 horas sem comer presa numa maca tendo que arrastar um ferro que segura o soro pra poder ir ao banheiro, a cada hora um desconhecido enfiava os dedos na minha vagina e eu me controlava pra não ser xingada . Me senti esgotada , eu não era eu e minha vida e meu sofrimento ou opinião não importava .Disnorteada de fome e dor .De tudo isso tomei uma decisão. Se um dia eu tiver outro filho quero ter em casa com respeito e com humanidade. O corpo sabe parir no seu tempo e como disse dilatei 6 cm em casa sem passar por tortura e me sentia muito bem .
ResponderExcluirAcho que faltou considerar o direito da mulher sobre o próprio corpo. Quem faz cesariana sempre precisa se "desculpar", "explicar" porque fez, que não teve outro jeito, que houve complicação, etc. Eu escolhi cesariana por opção, pois não tive coragem de passar pelo processo que chamo de "parto medieval". É claro que cada um sente as coisas de um jeito, e já ouvi casos de mulheres que não acharam parto normal o fim do mundo, no sentido da dor e de complicações adjacentes. Porém, já ouvi de perto muitos relatos de mães que tiveram laceração da vagina, infecção dos pontos da episiotomia, incontinência fecal, dores tão aburdas que as palavras não conseguem descrever, além de complicações sérias com seus bebês, como fratura de clavícula e seuqelas neurológicas causadas pela falta de oxigênio devido ao tempo e dificuldade do parto normal. Muitas dessas mães disseram que jamais fariam a opção por parto normal novamente. Conheci uma pessoa, inclusive, que perdeu o bebê às 40 semanas de gestação, aguardando o momento do parto normal. Muitas dessas complicações nunca são divulgadas pela mídia, controlada pelos donos do dinheiro que desejam partos mais baratos para a população (planos de saúde lucram muito mais assim, e o sistema de saúde do governo também) e a impressão que fica é que parto normal é melhor e ponto. Não há informação suficiente sobre o assunto. Não digo que cesariana seja melhor. Parto é parto de qualuqer jeito, e de um jeito ou de outro, o impacto no corpo da mulher é imenso. Depois do sofrimento da gravidez, e da dor inacreditável que é o início da amamentação, acho que a mulher precisa ao menos poder escolher sofrer um pouquinho menos, não acham? É injusta tanta carga de cobranças sobre o papel da mulher, que quase funciona como um bode expiatório social. Uma vez li que se homens dessem à luz, cesariana viraria sacramento. Fugi do parto normal por medo da dor e por achar que parto normal não é tão normal assim (tem mulher que morre por causa desse tipo de parto), e pela certeza de que a cesariana não prejudicaria o meu bebê (estudos revelam que é até mais seguro para eles). Enfim, quem vai passar pelo parto é que tem que ter a liberdade de escolher, em acordo com o conhecimento dos próprios limites e de posse de informação fidedigna e realista, sem tanta fantasia em torno da maternidade, que já começa na gravidez. Muitas mulheres se desesperam e entram em pânico na hora, pois achavam que o parto seria bem diferente do que, de fato, foi. E muitas se calam quanto aos horrores vivenciados, pois temem a condenação social quanto ao seu papel de feminilidade e maternidade, perpetuando esse ciclo vicioso de mais e mais mulheres que optam pelo parto normal sem o devido preparo (se é que dá para se preparar para uma coisa dessas) e consciência do que vão enfrentar, levadas pela onda da massa que acredita que "mulher de verdade tem parto normal". Nada mais arcaico. Resquício de um passado patriarcal e sem recursos de medicina. E não pense que não sofri com a cesariana, que tem uma recuperação bastante dolorosa, embora certamente tenha sofrido menos que essas mulheres guerreiras que tiveram coragem de encarar um parto normal.
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