domingo, 11 de agosto de 2013

PAI


Para segurar a mão da mãe, mesmo arfando, tremendo, tenso, as pernas bambas, quando as dores do parto começam.
Para andar nas ruas com sorriso aberto no rosto, se achando o sujeito mais importante do mundo, a caminho do cartório, para registrar os filhos.
Para virar as madrugadas e cuidar das dores de barriga, mesmo tendo de acordar cedíssimo no dia (que já não era mais) seguinte.
Para embalar nos braços quentinhos.
Para contar histórias. Muitas histórias.
Para proteger dos monstros. Dos medos.
Para descer do ônibus lotado, cansado por mais um dia de trabalho, escritório em outra cidade, e ter forças e alegria para botar no colo e perguntar "foi bom seu dia? E a escola? Vamos jantar".
Para brincar de bola (mesmo não sendo a praia dele), de bonequinhos, de Genius, de forte apache, de botão, de barbie, de casinha, de aluno/professora.
Para ajudar a escolher o vestido bonitinho.
Para ajudar a dar banho e pentear o cabelo.
Para dizer "hoje não dá" quando a gente pede só mais um brinquedo. Porque a vida não é fácil. Nem só dinheiro.
Para ensinar o que nos faz seres humanos. Solidariedade. Tolerância. Justiça. 
Para correr para o hospital quando o dedo cortado fica pendurado, esguichando sangue.
Para correr para o hospital quando a cabeça quase racha na quina de um bebedouro na escola.
Para correr para o hospital tentando fazer de tudo e mais um pouco para a tosse parar.
Para marcar presença nas arquibancadas dos campeonatos de futebol e das apresentações de dança.
Para sorrir com as notas que vêm do piano.
Para mandar estudar. Para comemorar as conquistas na escola. 
Para dar bronca sobre as bobagens feitas na escola.
Para orientar.
Para brigar. Às vezes, brigas sérias. Fortes. Para a gente depois entender que ele tinha razão.
Para programar as melhores férias do mundo, na praia ou na montanha.
Para soltar e dizer "vai ser feliz. Aproveita o mundo".
Para conversar e alertar. "Cuidado, não vá beber demais. Não exagere. Cuide-se. Sem maluquices com o carro. Vai com quem? Volta com quem? Aonde vai? Quero você em casa meia-noite. Uma. Duas. Três. Quero você em casa".
Para querer saber "quem é esse novo namorado?".
Para conversar sobre as coisas da ditadura. Para chorar com as derrotas em eleições. Para comemorar as vitórias em eleições. Para torcer junto nas Copas do Mundo.
Para cortar o cabelo da gente quando a gente passa na faculdade.
Para ter certeza que somos os melhores jornalistas, advogados e professores de Educação Física do mundo. E não se fala mais nisso.
Para passar meses planejando as festas, com pastas de cores diversas debaixo do braço.
Para fazer discursos em todas as festas e, em todas elas, cantar "onde é que mora a amizade..."
Para ficar de péssimo humor e fazer caretas. Para estourar. Para passar dos limites. Porque todo mundo tem seus dias ruins. Porque todos somos humanos.
Para sonhar com os netos. Para abraçar os netos. Para ensinar os netos. Para passear com os netos. Para ser apaixonadamente apaixonado pelos netos.
Para contar para todo mundo, em qualquer situação, que tem os "seis netos mais lindos do mundo". Ai de quem discordar...
Para brigar mais um pouco. Para pedir desculpas - ele e nós.
Para ser referência. Para ser porto seguro, farol que a gente sempre mira, exemplo em quem a gente sempre se inspira e colo para aonde a gente sempre volta.
Para ser o cara. Aquele que representa.
Para dar um beijo estalado, outro, mais um, para abraçar bem apertado, cheio de carinho. E querer que o tempo pare. Agora. Pode ser?
Pai.

3 comentários:

  1. Simplesmente,o meu "queridão"!!!!
    Pai,te amo!!!!

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  2. Caramba. Com lágrimas escorrendo, digo, esse é o cara! Meu pai!

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  3. São vocês que são os meus queridos.A emoção é grande e as lágrimas escorrem.Vocês é que são filhos, noras, genro e netinhos maravilhosos.Sou realmente um felizardo e tudo isso complementa-se com a companhia da mãe de vocês.Obrigado,vocês derrubaram o velho pai.
    beijos a todos.

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