quinta-feira, 2 de julho de 2015

POBRE JUVENTUDE POBRE. A MAIORIA TE QUER PRESA

A noite em que nos tornamos muito menos humanos. Falas raivosas. Espumando ódio. Vingança. É o que deseja a família brasileira. As pesquisas mostram, 87% querem a redução. Mas Hitler também foi vontade inconteste do povo alemão. Ungido pelas urnas. Carregado nos braços do povo. Nazismo. Segunda Guerra Mundial. Campos de concentração. Câmaras de gás. Holocausto. Extermínio de judeus. Negros. Portadores de deficiências. Ciganos. Comunistas. Todos os que não fossem arianos. Puros. A humanidade a flertar com a barbárie. O horror. Maiorias. Massa. Manada. Histeria coletiva. Maiorias. Os nazistas eram maioria. A democracia é a vontade da maioria. Mas tem peso e contrapeso. Mas tem respeito e proteção às minorias. Mas tem equilíbrio. Mas é garantia de direitos fundamentais. Mas é recusa à intolerância. Chega de discursinho besta de esquerdista! Redução da maioridade penal já! Vamos votar! Porque somos maioria, oras. Escolas? Cadeias. Já são bem grandinhos. Direitos humanos para humanos direitos. Vamos proteger as pessoas de bem. Educação? Penas de privação de liberdade. Duras. Rígidas. Repressão. Chega. Basta. Mas já temos o Estatuto da Criança e do Adolescente. Mas já temos medidas socioeducativas. Adolescentes são vítimas. Redução não é solução. Não é só rima. É fato. Vamos trancafiá-los em nossos indecentes e superlotados presídios? É o que deseja a maioria! ECA é balela. Bobagem. Não resolve. Pífio. Nossos jovens estão dando lições aos militantes do Exército Islâmico. Está com pena? Leva esses animais para casa. Nas quebradas das periferias, o pau come solto. Policial mete o pé na porta, sem pedir licença. Fuzila. Chacina. Bala no peito. Na cabeça. Corpo que some. Mães que choram. A polícia é o único Estado presente. Não tem escola. Não tem quadra. Não tem centro cultural. Não tem banda de música. Não tem biblioteca. Não tem sonho. Não tem esperança. Tem jovem negro assassinado. Tem tráfico de drogas. Vamos mostrar para essa molecada canalha quem é que manda. Corja. Escória. Mas a grana que financia está nos casarões murados dos Jardins. Nos condomínios de luxo da Zona Sul. Quem vai ser preso? Não venha com mimimi. Oras, são famílias de bem. Precisam de segurança. Vamos enjaular essa pivetada delinquente. Quarta maior população carcerária do mundo. Vivemos todos seguros, na santa paz dos lares das santas famílias brasileiras. Ainda assim, a proposta foi derrotada. Não alcançou a maioria de que precisava. Faltaram cinco. Aguardem. Não acabou. Vamos esgotar a matéria. A gente conversa amanhã. Sorriso cínico, canto de boca. A ocasião faz a maioria. O déspota manobra na calada da noite. Pressiona. Achaca. Perdi? Vamos votar de novo. Tem emenda aglutinativa. Se perder mais uma vez? Vamos votar de novo. Mais uma emenda aglutinativa. Até alcançar a maioria exigida. A tese dele é a única que vale. Corta o microfone de quem fala contra. Rasga o regimento. Nega com truculência questões de ordem. Desdenha. Usa o celular para esbravejar com quem não está no plenário. Adulado pelos lambe botas, pelos vira casacas. Por que mudaram o voto? Mistério. Mas e o governo? Pariu a serpente. Está tirando selfie com Obama. E a base do governo? Só serve para aprovar ajuste fiscal e cortar direitos dos trabalhadores. E os jornais? Escolheram o lado da barbárie. Faz tempo. Covardia. Omissão. Conveniências. Acordos. Governabilidade. Farsa. Golpe. Um salve aos deputados que, encurralados, nadam contra a corrente e discursam e votam contra a redução. O Império de Cunha. Eleito deputado com 232.708 votos. Eleito presidente da Câmara pela maioria da Casa. Manda e desmanda. Controla. Ameaça. Apoiado pela maioria. Dublê de Senador Palpatine. Com maioria. Eram 303. Foram 323. Maioria. Assim começamos a matar a nossa democracia. Com aplausos estrondosos. O lamento angustiado da rainha Padmé Amidala não sai da minha cabeça. Não é ficção.

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