segunda-feira, 15 de junho de 2015

ZITO, CAPITÃO, MEU CAPITÃO

Morreu José Ely de Miranda. Zito. Como dizia meu avô, o capitão do mais fantástico esquadrão de futebol que o mundo já viu atuar. "Filho, vai demorar muito tempo para aparecer outro time como aquele. Se é que vai aparecer", completava. E recitava poeticamente a escalação que também aprendi a declamar. Gilmar, Mauro, Dalmo e Calvet; Zito e Lima; Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Com o Santos, foram quinze anos de glórias (1952-1967), 727 jogos, 57 gols. Dez títulos do Paulista, cinco da Taça Brasil, duas Libertadores e dois Mundiais de Clubes. Bicampeão do mundo pela Seleção Brasileira (58 e 62), com direito a gol de cabeça na segunda final. Será que a gente consegue ter a noção do que é fazer gol em decisão de Mundial e sair de campo com a faixa no peito? Quantos são os privilegiados que alcançaram tal feito? Técnico, habilidoso, daqueles volantes clássicos e estilosos que jogam de cabeça erguida (o uniforme todinho branco ficava lindíssimo e impecável nele), aliava a arte dos poucos que têm a prerrogativa de chamar a pelota de "minha querida" à competitividade de quem detestava perder. Distribuía broncas em campo - em partidas mais tensas, contam, distribuía também algumas pernadas. Pedagógicas. Providenciais. Tinha autoridade para gritar com Pelé e com Garrincha. Fazia o Rei e o Mané jogarem. Em campo - e depois fora dele - era conhecido como 'o gerente'. Terminadas as partidas, subia a placa e os esbrufos bruscos e exigentes eram imediatamente substituídos por abraços e palavras de afeto. Quem o conheceu garante: era coração generosíssimo. Depois de pendurar as chuteiras, continuou a prestar serviços inestimáveis ao glorioso alvinegro praiano, clube do coração, atuando nas categorias de base do Santos. Revelou Clodoaldo, Robinho, Diego e Neymar. Tinha cadeira cativa na Vila Belmiro. Não perdia um jogo. Tentem imaginar os impropérios que vociferava de lá, angustiado e desesperado, ao ver em campo tantos boleiros que, na época dele, talvez não fossem aproveitados nem mesmo no quinto quadro do Santos. Quem o conheceu de perto afirma sem pestanejar: era dos mais sonoros corneteiros que o futebol já conheceu. Não recusava um pedido de entrevista. Bom papo, era memória viva dos tempos dourados do nosso futebol, quando por aqui se praticava de verdade arte com os pés. "Um grande camarada", na definição do meu avô. Guardei aqui algumas matérias que saíram entre ontem e hoje, lembrando quem foi "seu Zito", para mostrá-las ao Daniel quando ele chegar da escola. Para dizer "filho, esse craque jogou no nosso time. É um dos grandes do nosso futebol". Não tenho tanta certeza se essa molecada que hoje compete para ver quem tem a chuteira mais chamativa e colorida nos subs 13, 15, 17 da vida, empresários em volta e contratos polpudos de publicidade e direitos de imagens devidamente assinados, sabe dizer quem foi Zito. Garrincha. Djalma. Didi. Bellini. Vavá. Nilton Santos. Será que sabem quem foi Sócrates? Nossa história. Nossos craques. Nossa identidade. Ignorada e esquecida. Vai ver é também por isso que agora sofremos para ganhar de Honduras e do Peru. Prometi não falar dos 7 x 1. Se cuida, capitão, meu capitão. Manda abraços para todos os gigantes boleiros que te receberam de braços abertos para uma fantástica pelada em outras dimensões. Claro que você não vai querer perder esse jogo. Não dá mole para o Mané. Muito obrigado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário