quarta-feira, 27 de maio de 2015

TREZE ANOS




Adoro essa foto – o sorriso, o carinho, os cachinhos, o momento, a alegria, a luz, as cores, o abraço, os rostos juntinhos, óculos fashion e transbordando personalidade. Eu e ela na Copa do Mundo. Minha menina grande. É o primeiro aniversário que ela passa longe da gente. Está em Ouro Preto, trabalho de campo com a escola, passeando pelas ladeiras, casarões e igrejas da cidade histórica mineira. Aprendendo sobre os poetas inconfidentes e outras bagas loucas. Muito loucas. Vai voltar cheia de novidades para contar, aposto. Ela adora falar. Pelos cotovelos. Desde sempre. Vou adorar ouvir. Como sempre. Sim, ela já mandou avisar que precisamos aproveitar bastante os próximos sete anos, quando ainda estaremos na mesma casa. Aos 20, vai morar sozinha. Quer viajar e conhecer o mundo. Viver em Londres. Pretende fazer Relações Internacionais. Não se conforma com as injustiças do mundo. ‘Pai, vou trabalhar com projetos que cuidem de crianças carentes’. Pensa também, quem sabe, em Letras. ‘Vou ser professora’. Adora ler, dos clássicos às distopias adolescentes contemporâneas. Diário de Anne Frank, Os Miseráveis e Convergente. ‘Pai, você não está entendendo, eu preciso desse livro. Quando a gente pode ir à livraria? Esse livro é vida, veio’. Quantas livrarias visitamos nesses 13 anos. Quantas histórias contamos um para o outro. Sentados no chão, antes de dormir, na mesa do almoço, pelo telefone. Alegres e tristes. Todos os dias, ela me ensina a perceber a humanidade de uma maneira diferente, mais generosa e solidária. É minha porção diária de otimismo e esperança. Carrega com ela, desde muito pequenina, uma vontade incontida de transformar esse mundão. ‘Pai, por que tem tanta gente racista e homofóbica? Por que os palestinos não podem ter um Estado deles?’. Por quê? Por quê? Por quê? Adora perguntar. Curiosidade à flor da pele. Por quê? Não aceita qualquer resposta. Exige argumentos, tudo muito bem explicadinho. Minha Emília de Lobato. Quando a gente menos espera, está lá, olhar perdido a mirar o horizonte, sem piscar. Brisando. “É bom, fico pensando na vida’. Diverte-se com boas séries de TV, filmes no cinema com as amigas (e, mais recentemente, também com amigo indiano, santista e de esquerda...), fanfics no celular, One Direction, Legião Urbana, Cazuza, Cássia Eller e Beatles. What Makes You Beautiful. Mudaram as estações. Somos tão jovens. Help. Acompanha futebol como gente grande. É das cornetas mais estridentes que conheço. ‘Pai, esse lateral é horroroso, como pode jogar no Santos?’. É minha consultora especial para assuntos de produção, tratamento e revisão de textos. Olhos bem críticos sobre tudo o que escrevo. Saudades. Lui querida, entre um pão de queijo e um doce de leite, receba aí em Black Gold, como diz você, beijos estalados e apaixonados de alguém que tem um baita orgulho de ser seu pai. Chato, às vezes, é bem verdade, como todos os pais. Juízo. Cuide-se. Dê notícias. Nada de maluquices. Seja educada. Mas que deseja com toda a explosão do coração batendo bem forte que você seja muito feliz, sempre desse seu jeito independente e espevitado. Espírito livre e libertário. Parabéns. Te amo. Muitão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário