quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

E O IMPEACHMENT DO GERALDO?

Em mais um capítulo de um enredo que, ao que tudo indica, pretende oferecer verniz 'legal' a um movimento golpista, o advogado Ives Gandra Martins (professor da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra) produziu um parecer jurídico que sustenta ser possível o pedido de impeachment da presidenta Dilma.
Cena seguinte: na Folha de São Paulo de ontem, Gandra tentou traduzir o juridiquês do documento para o público leigo, argumentando que existem evidências de "omissão, imperícia, imprudência ou negligência" de Dilma em episódios relacionados às denúncias de corrupção na Petrobras, o que daria fundamentação jurídica para o impeachment.
Confesso que fiquei cá encasquetado querendo saber quem teria encomendado o tal parecer. Ou Gandra o teria escrito espontaneamente, de livre vontade e iniciativa?
Pois bem. Corta. Próxima tomada: na mesma FSP, edição de hoje, a resposta: o parecer foi solicitado por José de Oliveira Costa. advogado... que trabalha para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O ilustre doutor integra inclusive o Conselho do Instituto FHC. Mera casualidade, não tenho dúvida. Pura coincidência. Não se trata, evidentemente, de peça ou ação política. É exclusivo registro técnico.
A cena seguinte não está no script original, mas quero sugeri-la ao roteirista: a considerar os argumentos apresentados por Gandra no já famoso parecer - repetindo: "omissão, imperícia, imprudência ou negligência", atributos administrativos que jogaram São Paulo numa trágica "crise de recursos hídricos" - e se somarmos a eles o estelionato eleitoral (fato escondido e negado durante toda a campanha para beneficiar a própria candidatura), parece-me que estão colocadas também juridicamente as condições para que se peça o impeachment do governador reeleito Geraldo Alckmin, do PSDB.
O diretor vai querer incluir essa cena no filme? O advogado José de Oliveira Costa, que garante trabalhar independentemente das colorações partidárias de seus clientes, solicitará esse novo parecer? Ives Gandra, emérito professor, produzirá o documento? FCH vai reverberar em seus artigos a argumentação técnica? A Folha de São Paulo abrirá espaço para textos dessa natureza e com esses fundamentos? O enredo, afinal, é praticamente o mesmo. Trocamos apenas os personagens e as crises.
O parecer que venta lá vai ventar cá também? Vamos sugerir e discutir o impeachment do governador tucano Geraldo Alckmin?
São apenas perguntas.

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