quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

UM TIQUINHO MAIS SOBRE OS ROLEZINHOS

Como era esperado, já estamos vivendo a disputa de narrativas a respeito dos rolezinhos. As histórias e os relatos contemplam variados enfoques e intencionalidades, navegando dos que pretendem convidar honestamente a reflexões ousadas e mais profundas aos que desejam simplesmente desqualificar e até se apropriar do movimento (ou fenômeno, como preferirem), recitando regras e dizendo como devem se comportar, numa espécie de "código de conduta do aceitável". Cabe a cada um de nós manter bem atentos os olhos e ouvidos, para leituras e escutas que não percam o fundamental viés crítico/analítico. De fato, os rolezinhos permitem - mais, exigem - narrativas múltiplas, conectadas, complexas. Começou como brincadeira, zoação? Ainda é assim? Virou protesto? Tem viés político? Por que escolheram os shoppings? Simbolicamente, há enfrentamento com os templos do consumo e do sistema? Poder consumir o que os jovens abastados consomem é o norte e objetivo desses jovens das periferias, apenas? Afinal, quem são esses jovens? E as 'celebridades' que estão estourando nas redes, que vão para os rolezinhos para dar autógrafos, beijar e tirar fotos? Muitas perguntas. Que bom. No texto que publiquei ontem, aqui no Blog, procurei sugerir reflexões sobre aspecto bem específico dessa empreitada: a reação intolerante e preconceituosa dos reacionários (estão assustadíssimos, incomodados e revoltados) da sociedade aos rolezinhos. A depender deles, teremos apenas pancadas, liminares, restrições, discriminações e balas de borracha para evitar que a "civilização se deixe contaminar pela barbárie", como escreveu asquerosamente um queridinho colunista do mais conhecido panfleto da editora Abril. A tarefa urgente e mais importante, me parece, é ouvir justamente os jovens que estão organizando e participando dessas manifestações/zoações. Mas ouvir de verdade, com o coração aberto e disposição para entender, num falar "COM" e não "PARA", recusando os estereótipos e teses pré-estabelecidas, o perigoso "eu já sabia". Porque, arrisco, e muito provavelmente como um dos filhos das jornadas de junho de 2013, e por todas as marcas, mensagens e atores que carrega, por vir das franjas da cidade, o rolezinho é certamente um dos fenômenos mais instigantes e desafiadores dos últimos tempos. 2014 promete fortes emoções. Está só começando.

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