quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

EM SÃO PAULO, PT E PSDB VÃO SE ENGALFINHAR. CHALITA AGRADECE.



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A ressaca carnavalesca se foi. Devem ser aceleradas a partir de agora as articulações e definições relacionadas às eleições municipais deste ano. E a possível (provável?) entrada do ex-governador José Serra (PSDB) na disputa pela prefeitura paulistana, ventilada ainda antes da folia dos desfiles e das marchinhas, mesmo que ainda não oficialmente confirmada, já provoca alvoroço e reviravoltas nas estratégias e discursos que vinham sendo gestados pelos principais partidos e candidatos ao cargo, modificando de forma significativa as posições e funções das peças que estavam espalhadas pelo tabuleiro da sucessão municipal em São Paulo. 

Petistas e tucanos estão mais uma vez ouriçados, com os nervos à flor da pele - e, curiosamente, a briga que se anuncia entre os dois partidos, que promete ser ainda mais renhida e sem escrúpulos ou limites do que em situações recentes (vencer em São Paulo tornou-se questão de honra, uma espécie de vida ou morte para os dois lados), pode abrir espaço para a vitória de um tucano recentemente convertido ao peemedebismo (tendo antes passado pelo PSB) e com cara de bom moço - Gabriel Chalita. 

O PSDB parece ter ficado aparvalhado e apavorado diante da possibilidade real de aliança formal do atual prefeito Gilberto Kassab (PSD) com o candidato petista, Fernando Haddad. Embora fosse um atentado ideológico (já discuti essa questão em outros textos do Blog), a parceria teria de fato, pragmaticamente, potencial para arrancar dos tucanos talvez o último efetivo bastião de resistência política do partido, o balão de oxigênio que lhes resta - a capital paulista, com impactos diretos também na sucessão estadual de 2014, pois fragilizaria por consequência e consideravelmente as pretensões de reeleição do governador Geraldo Alckmin.

A oposição ao governo federal, já praticamente sem discurso e sem rumo, seria solenemente enterrada, com o agravante simbólico de ver o prego no caixão ter sido colocado justamente no estado que o PSDB governa há 18 anos. Bateu o desespero no ninho tucano. Alckmin, tal qual um déspota, e depois de bancar as prévias internas, tenta desidratar as pré-candidaturas. Serra faz exigências e impõe condições para ser candidato. Se aceitar e vencer, o PSDB vai respirar aliviado. Ganhará sobrevida. Mas o ex-governador paulista verá ainda mais distante a chance de alcançar a Presidência da República, sua verdadeira obsessão - ou o eleitorado aceitaria, mais uma vez, encarar um mandato curto e oportunista, a fazer da Prefeitura apenas trampolim para o projeto nacional? O caminho estaria aberto para Aécio Neves, como deseja o grão-duque Fernando Henrique Cardoso.

Se perder - hipótese que deve ser seriamente considerada -, Serra não terá apenas decretado sua morte política, mas deixará o PSDB em péssimos lençóis. Por isso, se aceitar sair candidato, Serra e o PSDB irão para o tudo ou nada, e a vitória será uma questão de honra - e de sobrevivência. Por isso, a campanha que farão promete ser ainda pior e mais deplorável que os piores momentos vividos na disputa presidencial de 2010, principalmente se considerarmos o segundo turno. Serra não pensará duas vezes para bater forte e abaixo da linha da cintura, esparramando, de forma truculenta, seu rosário de baixarias e de barbaridades obscurantistas.  

Já o ex-presidente Lula deve ter ficado irritado com a turbulência repentina, em um céu que, na análise lulista, se anunciava de brigadeiro. A entrada de Serra na campanha, se confirmada, bloqueará uma aliança que foi fortemente alimentada e desejada pelo senhor de todas as ações no PT. Kassab, aliás, parece ter dado no petista aquilo que em futebol chamamos de nó tático. Em outras palavras, flertou, prometeu, estendeu a mão, namorou e finalmente deixou o noivo aturdido e agoniado no altar, abandonado, para voltar correndo para os braços do eterno amado (aqui, vale a pena ler o texto de Raphael Tsavkko).

O problema, penso, é que o estrago já está feito - e parece ser de proporções para lá de consideráveis: Marta Suplicy, que tem fortes raízes e ótima avaliação nas periferias paulistanas, é uma liderança política cada vez mais distante da candidatura Haddad; a possibilidade de aliança com o atual prefeito trouxe novamente à tona as fraturas do PT, e as peças podem não se colar a tempo de uma disputa que promete ser cascuda; o pouco da militância histórica que ainda resta (líderes comunitários, movimentos sociais, intelectuais) está cada vez mais desanimada e desconfiada; o PT corre o risco de seguir quase sozinho (antigos parceiros e aliados nacionais, como PDT e PSB, negociam com os tucanos em São Paulo); por fim, o PT acaba perdendo também o fôlego do discurso de oposição à administração demo-tucana de Kassab. Na primeira crítica ao atual prefeito, durante a campanha, bastará exibir na televisão aquele telão com a imagem trágica de Kassab acenando para os líderes e militância petistas, no evento de comemoração do aniversário dos 32 anos do partido. Xeque-mate. Que lástima...

A questão é que, para Lula, tornou-se também uma obsessão desalojar os tucanos do último bastião político que lhes resta. Não se assustem se o PT topar e mergulhar no jogo sujo e abandonar o debate político para investir numa cruzada santa e messiânica de tudo ou nada. A aproximação com líderes evangélicos de correntes religiosas para lá de conservadoras dá bem o tom da premissa sugerida por Lula e abraçada pelo PT - é preciso derrotar o PSDB em São Paulo, a qualquer custo.

No embate eleitoral (não necessariamente político) daqueles que estão ideologicamente cada dia mais próximos e parecidos, pode não sobrar pedra sobre pedra nos dois quartéis generais. Quem vai agradecer é Gabriel Chalita, o moço de fala mansa, autor de best sellers, cheio de idéias para a Educação, que exala religiosidade e guarda sorriso sedutor no rosto. Ele observa em silêncio o cenário que se anuncia. E comemora. Ainda que, em meio a destroços, Haddad e Serra cheguem ao segundo turno, Chalita tem plena consciência de que terá papel fundamental e protagonista na disputa, com cacife para quem sabe definir os rumos finais da eleição. Saberá certamente negociar esse apoio. Se chegar ao segundo turno para enfrentar Haddad, terá o apoio de Serra - e vice-versa. Em qualquer dos cenários, partirá como favorito.

E a cidade de São Paulo, que passou os últimos sete anos sob a batuta higienista demo-tucana de Kassab, poderá cair nas mãos daquele que sem pudores mistura política com religião e auto-ajuda, transformando debate em pregação. E que, eticamente, já declarou que não vê problemas em ter aproveitado (quase na íntegra) a dissertação de mestrado que fez na área de Ciências Sociais para produzir outra dissertação de mestrado, desta feita no curso de Direito. O que interessava mesmo era conseguir a dupla titulação, mesmo que com apenas um trabalho acadêmico original. Vale tudo.

Um comentário:

  1. Chiquinho,
    nesta altura do campeonato, falou o que dá para falar! Ótimo texto! Mais do que isso seria, hoje, exercício de futurologia.
    Abração e Parabéns!
    Cassio França

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